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terça-feira, 11 de outubro de 2011

OUTRO CONTO DO VIGARIO A FARSA DE FATIMA

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Digitalizado por mvdr



Dr. Aníbal Pereira Reis
EX – PADRE

A
SENHORA
DE
FÁTIMA

Outro "Conto do Vigário"
Edições Caminho de Damasco
São Paulo
1991

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EDIÇÕES "CAMINHO DE DAMASCO"
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05090 - SÃO PAULO - SP




APRESENTAÇÃO

Pela Misericórdia Divina liberto das trevas, sinto-me na intransferível obrigação de me sujeitar docilmente à Vontade de Deus no sentido também de Lhe servir como humilde instrumento para esclarecer as pessoas sinceras.
Sei dos sofrimentos que me aguardam por divulgar as informações contidas neste livro. A mentira se exaspera quando descoberta! Os cínicos armam ciladas quando são desvendados os seus embustes...
Sentir-me-ei, todavia, compensando por haver cumprido o meu dever!



SUMÁRIO





Nota do Editor

Esta reedição acontece alguns meses após a morte do seu autor, ocorrida em 30 de maio deste ano.
Tivemos a preocupação de mantê-la exatamente igual à edição original, sendo necessário, portanto, nos reportar ao fim dos anos 60, começo dos 70 para entender o contexto em que foi escrita.
Todavia, tal fato não impede o claro entendimento da obra, que não visa outra coisa senão esclarecer as pessoas acerca de outro "Conto do Vigário".
"A Senhora de Fátima", continua a ser uma obra atualíssima, sobretudo quando vemos nosso Brasil passando por problemas tão graves, causados não por outra razão, senão, pela idolatria e pela recusa do nosso povo de se render a Jesus, e tão somente a Jesus como Salvador e Senhor.
Visitou-nos mais uma vez o Papa João Paulo II, que nas suas andanças pelo Brasil, não fez senão espargir maldição sobre a nação brasileira. E nosso pobre presidente, pediu ao Papa ajuda para sairmos da crise. Verifique os acontecimentos que se seguiram à partida do Papa para se concluir o quão eficiente foi essa ajuda.
O Brasil é um reino de feitiçarias e crendices. Nosso povo precisa ser esclarecido e esse trabalho deve ser feito por todos nós. Divulgar a verdade, é cortar este mal pela raiz.
Quem teve o privilégio de privar da amizade do Pr. Aníbal, pôde por certo compreender porque ele foi sempre tão duro em contraposição ao estilo soft de nossa liderança evangélica.
Em má hora partiu o Pr. Aníbal; ficaram poucos como ele.
São Paulo, 25 outubro de 1991.



O Clero em apuros

Instalada em Outubro de 1910, a República Portuguesa apeou o catolicismo de sua posição de religião oficial do Estado vigente durante os 8 séculos de Monarquia .posição essa que lhe favorecia o usufruir gordas benesses e alentadas regalias.
inconformado, utilizava-se o clero das suas irmandades cediças, organizações medievais e, sobretudo, do confessionário para levar o povo ao descontentamento contra a nova situação no intuito de gerar um clima de rebeldia generalizada, a baderna, enfim. Suas investidas, porém, a prazo curto e exigido pelas circunstâncias, não surtiam os efeitos colimados.
O desespero clerical não impressionava a recente liderança do País, que fazia questão mesmo de se manter eqüidistante dos arreganhos eclesiásticos.
Nessa emergência decidiram os embatinados despertar e incrementar o ressurgimento de devoções populares ligadas a santuários e imagens, marcos de antigos prestígios e promotores de ambiente favorável à livre exploração do seu rendoso comércio.
As gerações do beatério amontoaram fartíssima abundância de aparições de santos e de "nossas senhoras", de milagres espetaculares e prodígios famosos dando base para fanáticas devoções, dentre as quais destaca-se a do rosário.
O clero sempre soube capitalizara opinião pública a seu favor. Hoje sabe lançar mão da imprensa, imiscuindo-se inclusive em seu noticiário para estar sempre na ordem do dia.
Por isso, em todos os lares naqueles idos de 1910-1920 assinalava a sua presença o "Santuário Mariano", um volune cheio de relatos fantasiosos, encarregado de conservar o rico patrimônio da credulidade. Cada página relatava um milagre ou uma aparição em que , via de regra, tinha como comparsa, pessoas ignorantes ou crianças tardias.
O povo, ao respirar agora os ares democráticos, porém, não reagia favoravelmente e nem se impressionava com suas programações religiosas anunciadas nos púlpitos, a cujo redor se postavam apenas pequenos grupos de beatas.
Os velhos santuários e as imagens taumaturgas das "nossas senhoras" dos mais variados pontos do País desapontavam a hierarquia eclesiástica por não atraírem já as atenções.
Sérias preocupações causavam-lhe sobretudo a verificação de que nas regiões tidas como as mais devotas, também os fiéis não acorriam aos seu apelos.
Esquecidas estavam as Senhoras do Amparo, do Sameiro de Nazaré, das Mercês, da Purificação... Suas esculturas célebres do Olival, das Freixadas, do Fetal, de Seiça de Ridecouros não atraiam romarias compensadoras aos seus ávidos organizadores.
O clero convencia-se do risco de perder o seu domínio sobre aquele povo por ele sugado durante 8 séculos... A nova legislação do País levava-o a perder o contato com as crianças das escolas e com a juventude das universidades...
Que fazer?
Inviável explorar os antigos santuários! As experiências o demonstravam!

Uma reunião pândega

Em virtude do estatuto canônico, os padres têm os seus encontros, onde são ventilados os assuntos atinentes ao seu ministério, quando lhes sobra algum resto de tempo empregado todo em anedotas e conversas inúteis.
O encontro dos padres da Arquidiocese de Lisboa, deu-se, no verão de 1915 na cidade de Torres Novas, cujo vigário, pe. Benevenuto de Souza, oferecera aos colegas um supimpo almoço regado de abundante vinho.
Encontravam-se lá dignatários embatinados, inclusive o Cardeal Mendes Belo, arcebispo de Lisboa, no propósito de estudarem os pormenores pertinentes à instalação da Diocese de Leiria, ali perto, cujo futuro bispo estava presente como o mais interessado no assunto.
Todos comeram e beberam à farta. Exceto três!
Foram comedidos por haverem decidido confabular um assunto muito sério, sob a  responsabilidade  do próprio cardeal-patriarca ferroteado pela situação política adversa.
E enquanto cada um dos clérigos se recostava para curtir os vapores do álcool e a modorra do meio dia, os três se recolheram a um quarto.
Entres eles se achava o pe. Benevenuto de Souza, tendo a bagagem das orientações e recomendações cardinalícias. Apesar do seu desapontamento com a dura experiência de 1910, quando os próprios paroquianos revoltados com suas imposturas tentaram destruir-lhe o templo dedicado à Senhora de Lourdes, confiado em suas habilidades de prestidigitador, resolveu aceitar a direção da comédia de uma nova aparição da Senhora.
Suas experiências tornaram-no conhecedor da alma popular. Sabia sondar as suas reações em face de cada conjuntura. Podia tranqüilizar-se o cardeal arcebispo, porquanto aquele sacerdote capacitara-se de prevenir todas as possíveis surpresas.
Se o encontro canônico de Torres Novas ofereceu um lauto banquete aos clérigos e promoveu entendimentos sobre a instalação da Diocese de Leiria, o seu maior mérito foi estreitar num grande objetivo os sacerdotes: Benevenuto de Souza, o anfitrião, Manoel Marques Ferreira, vigário de Fátima, e Abel Ventura do Céu Faria, vigário de Seiça.
Nesse dia confabularam e decidiram levar avante o acontecimento de uma espetacular "aparição" da Senhora.
Evidentemente que a primeira circunstância a ser rigorosamente observada era a de deixar a salvo de qualquer suspeita o cardeal Antônio Mendes Belo, exausto de tantas contrariedades provocadas pela República que lhe desmantelara o prestígio no cenário político e social do País.
Ficou, por isso mesmo, acertado que "sua eminência" se poria aberta e publicamente contra as "aparições", para salvaguardar o bom nome da"igreja" na eventualidade de um fracasso.
À Lisboa retornou o cardeal muito tranqüilo por reconhecer habilidade suficiente no pe. Benevenuto de Souza.
Em boas mãos coloquei a empresa!, cismava com seus botões.
Não se executa uma comédia no palco sem estudos e ensaios prévios!

Estudos prévios

Neste caso foi necessário examinar conjuntamente o palco e montar o enredo... Um dependia do outro!
Dos santos (!) lábios do cardeal aceitaram a sugestão de se escolher um lugar, o mais possível no centro de Portugal. Dando certo a falcatrua, sua irradiação seria facilitada...
Aliás, para a escolha dos três cúmplices embatinados observara o cardeal que eram de paróquias vizinhas e localizadas na posição geográfica de acordo com aquela sua sugestão.
Essa região, em que se encontram, dentre outras cidades, Leiria, Nazaré, Alcobaça, Torres Novas, Ourém, Fátima, é a mais sacrificada pelo subdesenvolvimento proveniente da própria agressividade do solo pedregoso.
E dentro deste cenário destaca-se Fátima, localizada a uns 100 quilômetros de Lisboa, como o apogeu da miséria resultante da terra seca e árida.
De imediato constataram os três padres outro ângulo da perspicácia cardinalícia ao sugerir aquelas paragens. É que à miséria aliam-se a superstição e a ignorância, multisseculares, dando sobradas razões a Afonso Lopes Vieira ao classificar aquela zona de "admirável painel medieval" (1).
Incrustra-se lá a "mais bela jóia da arte gótica portuguesa", o mosteiro da Batalha confiado desde os fins do século XIV aos padres dominicanos.
É muito oportuna a lembrança de que, na Idade Média, a ordem dos frades dominicanos se celebrizou como esteio do catolicismo europeu. Foi a eles - e destacando-se Tetzel na Alemanha - que o papa Leão X confiou a campanha das indulgências, o estopim da Reforma Protestante. Coube-lhes, sobretudo na Espanha e em Portugal a execução do tribunal da santa inquisição, o que lhes fez merecer a alcunha de "domini cani", os senhores cães.
Além de terem arrecadado dinheiro para o papa com a pregação das indulgências e terem dado assistência eclesiástica à santa inquisição, sobressaíram os frades de São Domingos em divulgar a devoção do rosário que embasa a mariolatria entre o povo.
Como resultado da atuação dos dominicanos no centro de Portugal é que essa região foi infestada de superstições mais do que em qualquer outra parte. Não há igreja onde não se encontrem altares dedicados à Senhora do Rosário, sendo igualmente raros os lares onde não havia um oratório diante do qual se rezasse o rosário em coro à noite.
O jesuíta Luis Gonzaga Ayres da Fonseca, em seu livro sobre as aparições da Senhora de Fátima, não pôde deixar de manifestar esta observação sobre os padres de São Domingos que, "entre tantas obras de zelo se esmeraram eles particularmente em instilar no povo das redondezas a devoção do santo rosário" (2).
No Portugal rebelado contra o clericalismo, constituía-se aquela zona numa exceção porque seus habitantes subdesenvolvidos continuavam agrilhoados às superstições romanistas.
Num suspiro de alívio, o cardeal lisboeta antecipadamente verificara o que mais tarde iria observar Leopoldo Nunes: "os sacerdotes não tem que conquistar ali novas almas... A fé vive natural e espontânea... Impressionam pelo recolhimento com que rezam..." (3).
Miséria e crendice são sempre os dois elementos favoráveis ao caldo de cultura do domínio do catolicismo.
Revelou-se satisfeito o cardeal Mendes Belo quando o pe. Benevenuto de Souza levou-lhe a notícia sobre a escolha de Fátima como o lugar mais propício da região para os "grandes acontecimentos".



Seleção dos atores

Não lhe levaram apenas informes gerais. Seus estudos e observações iam longe. E tudo num desenrolar concatenado de raciocínios e previsões de prós e contras...
Admirara-se o cardeal! Tudo estava saindo melhor do que a encomenda...
Escolheram os padres cúmplices a Cova da Iria, um sítio a uns 3 quilômetros de Fátima pela estrada de Ourem. Pertencia a Antônio dos Santos, o Abóbora, e sua esposa Maria Rosa dos Santos, residentes em Aljustrel, pequeno distrito de Fátima.
Apenas uma parte, nos fundos do sítio, era cultivada por ser a melhor. A quase totalidade da terra, safara e pedregosa, produzia raquítica pastagem para o seu pequeno rebanho e o de seu cunhado Manuel Pedro Marto.
Impossível melhor palco para a cena! Como seu próprio nome indica a Cova da iria é mesmo um cova feita pelos morros circunjacentes da Serra d'Aire.

Outra circunstância providencial: naqueles lugares ermos, habitualmente, iam pastorear as ovelhas dos próprios pais, três crianças simples, analfabetas e, sobretudo, imbecilizadas pela "instrução religiosa" doméstica.
Nada escapava ao astuto e atirado pe. Benevenuto. Nem lhe incomodava o fracasso anterior de umas "aparições", no mesmo iugar, que o povo cognominara de Senhora das Urtigas, cujo culto malograra pela abundância das urtigas, causadoras de correrias em conseqüência da coceira nas pernas que produziam.
Sua experiência que o capacitava a liderar a organização de toda a patuscada levava-o a encontrar fatores positivos onde os companheiros nem deles se apercebiam.
- Nada de precipitações, recomendava o vigário de Torres Novas.
Se tudo lhe sucedesse bem cairia com maior intensidade nas boas graças do cardeal. Carreirista contumaz, esta perspectiva aguçava-lhe a coragem.
O espírito comodista do pe. Manuel Marques Ferreira fazia-lhe render a fama de homem recolhido em suas devoções. Era o piedoso dos três! Competiu-se-lhe, por isso, a incumbência de ser o diretor espiritual dos futuros "videntes"...
Habilidosamente, o Marques Ferreira aproximou-se da família do Abóbora, proprietário da Cova da Iria.
Amiudaram-se as suas visitas. A tudo observava o padre. Nenhuma reação de Lúcia lhe passava despercebida.
Lúcia, nascida a 22 de Março de 1907, a maior dos três pastorzinhos, era a caçula dos seis filhos do casal. Observou o padre vigário que "uma predileção providencial atraia desde a infância os dois mais pequenos para a prima Lúcia: de modo que quase todos os dias, fugindo da companhia das outras crianças, iam ter com ela para brincarem" (4).
Os dois pequenos primos, Jacinta (nascida em 11 de Março de 1910) e Francisco (nascido em 11 de Junho de 1908), companheiros de Lúcia no pastoreio das ovelhas, eram filhos de Manuel Pedro Marto e Olímpia de Jesus.
Nada escapava ao clérigo visitante. Notava inclusive os ares  de mandona de Lúcia com relação às outras crianças. "As vizinhas, ao saírem para o seu trabalho, costumavam deixar os filhos no pátio da senhora Maria Rosa dos Santos, entregues à Lúcia" (5).
Estava ela já com 8 anos de idade e o padre, por seus ares de superioridade, julgava-a promovida a mestra.
Se nada passava despercebido ao vigário, decidiu, evidentemente, aproveitar-se desta posição da filha do Abóbora perante os primos menores. Então, insistiu com a mãe que enviasse Lúcia ao catecismo paroquial.
Naquele tempo, os padres não permitiam às crianças comungarem a hóstia, pela primeira vez,* com menos de 10 anos.
No caso, porém, sentiu o vigário o prestígio que daria à Lúcia diante de seus primos se lha desse com menos de 9 anos. E assim fez.
Seguro dos objetivos almejados, executava os planos com firmeza e oportunidade!
Todos eram analfabetos, inclusive os pais de Jacinta. Somente Da. Maria Rosa sabia ler. Entregou-lhe, então, a "Missão Abreviada", um devocionario preparado com o propósito de divulgar as superstições católicas e aterrar as almas crédulas. Encarregou-a de lê-la constantemente à filha e aos sobrinhos, assinalando as passagens escolhidas, cujos assuntos influenciaram decisivamente na impressão das crianças ingênuas.
Não podemos nos esquecer de suas idades em 1916, o período do condicionamento psicológico dos três - da lavagem cerebral! Lúcia com 9 anos, Francisco com 8 e Jacinta com 6.
Facílima a tarefa clandestina de imbecilizar os três videntes!
Percebia o sacerdote, com gáudio íntimo, os resultados das apavorantes leituras por ele indicadas sobre o inferno "O inferno é um lugar no centro da terra; é uma caverna profundíssima, cheia de escuridão, de tristeza e horror; caverna cheia de labaredas de fogo e de nuvens de espesso fumo", descrevia-lhes Maria Rosa lendo a "Missão Abreviada".
E prosseguia: "Lá são atormentados os pecadores, na companhia dos demônios, lá estão bramindo e uivando como cães danados, proferindo terríveis blasfêmias contra Deus. Os demônios, que são os executores da justiça divina, lançarão suas garras aos pecadores reprovados e atirarão com eles a esse poço de incêndios devoradores, onde ficarão sepultados em camas de fogo por toda a eternidade, não respirando senão fogo, não tocando senão fogo, não sentindo senão fogo, não comendo nem bebendo senão fogo! De todo ficarão convertidos em fogo, nos olhos, nos ouvidos, na língua, na garganta, no peito, no coração, nas entranhas, nos pés, nas mãos; finalmente, em tudo fogo; e então um fogo, não como este que na terra vemos, mas sim um fogo escuro, fétido e abrasador; ainda mais horroroso que o do metal derretido... E tudo isto é uma fraca pintura, uma ligeira sombra, um sonho, nada em comparação da verdade" (6).
Aterradas, de olhinhos arregalados de pavor, as crianças ouviam repetidamente essa leitura, entrecortada com seus próprios suspiros e áis.
E, entre os biombos, na penumbra do confessionário, onde ia freqüentemente a Lúcia a fim de poder comungar a hóstia, o vigário Marques Ferreira completava sua obra sublinhando a necessidade da prática de penitências, máxime, a sujeição à autoridade eclesiástica.
Da. Maria Rosa lia-lhes, outrossim, em "Santuário Mariano" relatos sobre aparições de "Nossa Senhora".
Apavorados com aquelas descrições do inferno passaram a ter sonhos horripilantes.
Atualmente há vários livros sobre a Senhora de Fátima e sobre os "videntes". Qualquer pessoa de espírito observador que os lê pode constatar as chocantes contradições de seus relatos e sua impossibilidade de encobrir a impostura.
O Visconde de Montelo, dentre várias obras, divulgou "As Grandes Maravilhas de Fátima", onde informa à maneira de diálogo com Da. Maria Rosa:
Sei que recebeu um livro com o título de Missão Abreviada e que lê aos filhos. É verdade?
É verdade! (7)
E esclarece que leu às crianças na conformidade das orientações de seu vigário, a estória das aparições de La Salete, de Lourdes.
Sem perceber a trama que lhe envolvia a filha e os sobrinhos como atores de um embuste, para fanatizar-lhes as almas, lia as passagens relativas aos sofrimentos de Jesus Cristo.
Pelo relato evangélico, o pecador é movido a aceitar Jesus Cristo como seu Salvador pessoal, como Aquele que pagou, como seu substituto, todos os seus pecados e lhe mereceu o perdão pleno de todos eles. Pela ascese católica, todavia, Jesus Cristo se transforma em exemplo de resignação nos sofrimentos e um modelo da prática de penitência, porquanto, cada um dos pecadores por seus sacrifícios e imolações pessoais, sofridos à imitação da resignação de Cristo, consegue purgar-se dos seus pecados.
Este anti-evangelho da pagã ascética católica era inculcado às pobres vítimas da sanha clerical!
A "Missão Abreviada", à página 242 do seu Aditamento, traz um curioso balancete que Da. Maria Rosa, orientada pelo padre, comovida, lia às crianças: Em Sua Paixão, Jesus sofreu 144 pontapés, 150 punhadas, 102 bofetadas, 202 golpes pelo corpo, 27 arrastões com cordas; além de 5000 açoites, 72 angústias no coração, 72 escarros no rosto, 72 golpes de martelo ao cravar os pregos, 109 suspiros, 6.475 ferimentos, 600.200 lágrimas que chorou e 230.000 gotas de sangue vertidas.
Obteve-se a obra hedionda de imbecilizar as crianças! Mas essa relação é uma fantasmagoria. Se juntássemos todas essas gotas de sangue ultrapassariam os 20 litros e as lágrimas dariam cerca de 50 litros. Sabe-se, todavia, que cada pessoa tem uma média de 7 a 8 litros de sangue... E quem teria 50 litros de lágrimas? Em qual corpo caberiam 6.475 ferimentos?
As crianças impressionadas pelo pe. Marques Ferreira incitava a prática de sacrifícios para imitarem os sofrimentos de Jesus Cristo e demonstrar-lhe sua compaixão.
O frade Rolim, em seu livro: "Francisco - Florinhas de Fátima", que traz o "Imprimatur" do cardeal Cerejeira, o atua: arcebispo de Lisboa e uma carta-prefácio de José Alves Correia da Silva o gordalhufo bispo de Leiria, revela-nos como davam certo os planos do vigário, Francisco "era dos três o mais rezador... Rezava só com a irmã, com a prima... Rezava no campo e em casa" (8). Viam-no "muitas vezes, percorrer a igreja, de joelhos. Ele e a irmã deixavam sair, primeiro o povo, e, depois, começavam. Aquilo é que era correr a igreja à roda... Por  vezes,  quando  as ovelhinhas andavam pastando perto da igreja, dizia à prima e à irmãnzita:
- Vocês olham agora pelas ovelhas, enquanto eu vou fazer um bocadinho de companhia a Jesus escondido? Queria tanto consolá-lo...
- Pois sim, vai! respondiam elas.
Indo ele já a caminho a Jacinta gritava-lhe:
- E não te esqueças dos pecadores. Não tens pena deles?
- Tenho. Mas, tenho mais pena ainda de Nosso Senhor!
Francisco não podia ver o Senhor triste: queria consolá-lo".

Últimos preparativos

Tudo corria a contento. Os padres charlatães sentiam o diabo como seu aliado, pois tudo lhes dava certo. Impossível melhor lugar pelas suas condições propícias como a Cova da Iria. Atores mais amoldáveis às suas impressões do que os escolhidos e tão bem identificados com o local, nem imaginariam obter noutras crianças.
Ouviram falar de aparições de "Nossa Senhora" em Barrai, Alcanhões, Póvoa de Santarém, Estremóz, Póvoa de Varzim, Estarreja, Abelheira e Bitarães. Mas, não lhes faziam mossa. Sabiam perfeitamente que essas manifestações marianas, sem a chancela de alguma cúria, jamais lhes causariam dificuldades e o próprio povo delas se esqueceriam rapidamente.
Levaram um grande susto quando o jornalista Hugo Rocha nos grandes jornais "Comércio do Porto" e "Século Ilustrado" divulgou com estardalhaço a notícia de que a Virgem Maria estava aparecendo à Amélia da Natividade Rodrigues Fontes, mimoseada pela visão celestial com flores "frescas, viçosas, perfumadas, como se viessem diretamente de um jardim" e que era visitada por multidões de devotos.
Também esta, apesar da cobertura que lhe dera a imprensa, deixou de ser rivai perigosa porque sua fama se evaporou num instante.
Devia-se apenas aguardar o momento oportuno de se levantar o pano para o início da farsa... Qualquer dissonância levaria tudo de água abaixo... Qualquer gesto ou interferência de um artista fora do enredo preparado levaria a comédia e os seus atores ao ridículo...
- Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, sugeria o Benevenuto.
Os padres empresários se parabenizavam pelo sucesso dos preparativos, presságio de êxito retumbante.
As crianças cumpriam as penitências que lhes eram impostas, sobretudo de guardar segredo do que lhes dizia o pé. Marques Ferreira.
Os irmãos Francisco e Jacinta, como joguetes super-dóceis, aceitavam tudo de Lúcia, a mestra. Pastoreavam juntos, e interrompiam os seus folguedos para rezarem o terço do rosário e ouvirem as exortações espirituais da prima. Por três vezes aconteceu que, assustados, viram-se interrompidos nas suas rezas com as exclamações de Lúcia, dizendo estar vendo um anjo. Os primos apenas ouviam-na falar como que fitando algo sublime e enlevada por um ímã sobrenatural.   Contavam-lhes após os pormenores, conforme lhe havia orientado o padre vigário.  E exigia que seus primos concordassem que tinham visto também.
Mas que guardassem absoluto sigilo, entre os familiares, porque assim o exigia o vigário.
Estas experiências serviam como teste.
De contentes, esfregavam-se as mãos "suas reverendíssimas".
Informado do bom andamento dos preparativos, por medida de prudência, o cardeal Antônio Mendes Belo alvitrou evitassem os três padres visitá-lo. Seria arriscar o seu prestígio na hipótese de fracasso e não se coadunaria enfim com os planos que incluíam a contestação oficia! à estória das aparições.
A Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) estava acesa no fragor das batalhas em várias linhas de frente, espalhando ruína, pranto, desolação e morte.
Meus avós paternos se lamentavam por terem um filho nos campos da luta como soldado do exército português. Era meu pai!
Residiam esses meus familiares em Ourém e mantinham relações de amizade mui próxima com as famílias dos videntes, aliás, o sítio que possuíam se limitava com as terras do Abóbora.
A tristeza assolava os lares portugueses!
Até nesta conjuntura deprimente os empresários das aparições encontraram um fator propício.
Circunstância especialíssima! Toca aproveitar a sensibilidade popular ferida por tantos desgostos...
Anunciar ao povo sofredor e enlutado, deprimido e sobressaltado, o fim da guerra seria a melhor evidência da sobrenaturalidade das aparições... Seria a grande prova de sua legitimidade!
Seria uma oportunidade excepcionalíssima para acontecer o grande milagre das aparições.
Confabularam os comparsas. Decidiu-se então que auscultariam na imprensa os sintomas do fim da guerra e no momento azado, a Virgem baixaria do céu...
O pe. Abel Ventura do Céu Faria que, por motivo de enfermidade, não pudera participar ativamente dos preparativos, encarregou-se de acompanhar o noticiário da imprensa, inclusive estrangeiro.
Dois impérios se defrontavam na carnificina: Alemanha e Inglaterra.
O imperialismo germânico sofrerá rude golpe na batalha de Mame. Sobreveio-lhe outro golpe não menos brutal na campanha do Izer.
Encontravam-se os empresários da aparição da Virgem! Estudavam. Discutiam. Confabulavam!
Percebiam o recuo das forças alemãs. E sentiam aproximar-se o fim da Guerra com a possível rendição das tropas do Kaiser.
Chegara a vez da escolha da personagem que faria o papel da Virgem Maria. A primeira e principal condição deveria ser esta: capacidade em guardar o segredo!
Discutiram sobre várias jovens. Necessitava-se, contudo, de se envolver o menor número possível de participantes e restringi-los ao próprio círculo clerical ou seus dependentes.
Todas as dificuldades serão derivadas se se escolher Rosa Correia da Silva Bacelar. É a sobrinha do possível bispo de Leiria, José Correia da Silva, alvitrou o pe. Abel.
Nada mais oportuno! Presta-se ao papel de Virgem Maria essa jovem de 18 anos. E em sussurro  ao ouvido do Marques Ferreira, o Benevenuto lembra os comentários entre os padres sobre as carnes da tenra sobrinha do colega.
Incumbiam o insinuante pe. Manuel Marques Ferreira, especialista em relações humanas, de conversar com Rosa Correia da Silva Bacelar. Planos explicados, propostos e aceitos, passou-se a donzela aos ensaios da tragicomédia.
Supunham os sócios da empreitada bem próximo o fim da guerra...
Queriam que o tratado de paz fosse anunciado pela Senhora da Cova, dois ou três meses antes em sua mensagem aos pastorinhos. Isto certamente causaria um grande impacto entre o povo acabrunhado, dando um cunho especialíssimo de mistério à visita celestial. Os sacerdotes pretendiam ir pelo   caminho   mais seguro e decidiram que acontecessem pelo menos seis aparições em meses consecutivos. Em vista dos sintomas da guerra e da posição dos países beligerantes, imaginavam terminar a conflagração até o fim de 1917.
Já em Março desse ano calcularam ser um evidente sinal de última arrancada na reta final, da conflagração, a Conferência de Doulens, onde se encontraram Poincaré, Milner, Douglas, Foch, Petain e Clemanceau e ficou assentado entregar-se o comando supremo das forças aliadas ao General Foch.
Aceleraram-se os ensaios para se desfechar a primeira aparição. Lúcia que dos três videntes era a única sabedora de tudo e disposta a manobrar os seus primos com os cordéis da imbecilidade que os prendiam à sua influência.
Rejubilavam-se os padres porque os resultados do plano estabelecido na Conferência de Doulens não se fizeram esperar. Logo a 3 de Abril de 1917, o exército alemão ficara encurralado sobre o Aisne e Vesle, o que permitiu se desafogassem mais de 200 cidades francesas, inclusive Paris, até então subjugadas pelas tropas germânicas. Nos primeiros quinze dias desse Abril, a ofensiva dos aliados fora esmagadora e não sofreram nenhum recuo, enquanto que os alemães perderam 700 canhões e 35.000 soldados seus caíram prisioneiros.
Prenúncios de paz nos horizontes da Europa, exclamava o Abel.
- Mãos  à  obra!  Não  percamos  tempo,  incitava o Benevenuto.
- O grande espelho para os relâmpagos também já está pronto? E o Manuel Lamarosa bem ensaiadito?, perguntava o Marques Ferreira, convencido de haver preparado bem os atores da patuscada.
Tudo em ordem! Restava chegar o instante de soar o gongo a fim de se suspender o pano de boca da Cova da Iria, para o mundo apreciar desse palco a tragicomédia mariana.

A primeira aparição

O plano urdido somente poderia produzir os resultados colimados se executado por etapas. A prestação!
Previam os três vigaristas o término da Conflagração Européia até o fim do ano de 1917. Com a propaganda deflagrada pelo clero em todo o País todas as atenções se concentrariam nos "acontecimentos sobrenaturais" de Fátima.
A mistificação inoculada em parcelas cala mais fundo e se torna mais duradoura!
Acentuar-se-iam as evidências do término da guerra -assim pensavam - e lá pelas últimas aparições, a Virgem através dos videntes anunciaria o seu fim. E isto se constituiria na grande prova de sua sobrenaturalidade.
Marcou-se o dia 13 de Maio (1917). Era um domingo, o melhor dia da semana por estarem na Cova da Iria somente as três crianças pastoreando os rebanhos.
Nessa época, Lúcia estava com 10 anos. Francisco, com 9 e Jacinta, com 7.
Ao meio dia, quando ouviram as badaladas do sino da sua matriz paroquial, ao toque das Ave-Marias, ajoelhados sobre a terra escaldada de sol, como de hábito, rezaram em coro o terço do rosário.
Lúcia, que na véspera ainda, havia se confessado e ouvido as exortações do vigário sobre a necessidade de se rezar e fazer muitos sacrifícios pelos pecadores, transmitiu-as aos primos, lembrando-lhes a descrição do inferno inúmeras vezes repetida pela mãe ao ler a "Missão Abreviada".
Mal haviam terminado a devoção e retomado aos seus brinquedos, "quando de repente lhes fere a vista um como relâmpago vivíssimo" (9) Os primos de Lúcia se assustam, enquanto ela, já preparada e ensaiada, conserva-se calma.
"... novo relâmpago, mais deslumbrante que o primeiro..." (10).
Naquele meio dia de céu azul, o sol a pino fazia os seus raios se reverberarem na face do espelho manuseado pelo Manuel   Lamarosa, escondido por detrás de arbustos numa das encostas de um outeiro. Habilmente fazia os reflexos do espelho projetarem-se sobre as copas das azinheiras e, depois, concentrarem-se sobre uma delas, de apenas um metro de altura, tão baixa para facilitar subisse a Virgem em seus galhos.
Qualquer pessoa que se dá ao cuidado de ler as obras sobre Fátima irá facilmente encontrar muitas contradições. Os bispos que lhes dão aprovação eclesiástica até hoje não se aperceberam do escárnio que podem cair ou confiam mesmo na estupidez dos seus fiéis.
Mais tarde, a própria Lúcia, falando sobre os tais relâmpagos, escreveu: "Não eram propriamente relâmpagos, mas sim o reflexo de uma luz que se aproximava..." (11).
O cocheiro Manuel da Costa, conhecido pela alcunha de Manuel Lamarosa e residente no lugarejo Tomareis, da freguesia do Olival, é que transportara a virgem Rosa Correia da Silva Bacelar trajada à característica e, havendo feito os devidos preparos, executara com perfeição o manejo do espelho para produzir os "relâmpagos", fazendo-os incidir sobre a arvorezinha onde pousava a virgem Rosa. Francisco e Jacinta, assustados, quiseram fugir...
A senhora aparecida, todavia, chamou-os com gestos da mão direita e psius! acompanhados de sorrisos.
- Não tenhais medo, porque eu não vos faço mal algum!
Lúcia reteve os primos em sua fuga e pergunta à "visão":
- Donde é vossemecê?
- Sou do céu!
- E que veio cá lazer?, torna-lhe a Lúcia já prevenida e adestrada pelo vigário para o momento de lhe aparecer a "visão" celestial.
Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Em Outubro vos direi quem sou e o que quero.
- Vem do céu... E eu irei para o céu?, perguntou Lúcia que ainda há pouco recordara a seus primos os horrores do inferno.
- Sim, irás, respondeu à sobrinha prelatícia.
- E a Jacinta?
- Também!
- E o Francisco?
- Ele também; mas, primeiro tem de rezar muitos terços.
Onde encontramos na Bíblia que o terço (assim chamado por ser a terça parte do rosário) é caminho do céu?
O catolicismo com suas doutrinas, devoções, ritos e artimanhas procura anular a eficácia do sacrifício de Jesus Cristo, que é, de fato, o Único Caminho do céu!
A seguir, outrossim, recomenda-lhes a "visão" que rezem sempre o terço com devoção, como tinham feito pouco antes, e pergunta se não querem oferecer sacrifícios a Nosso Senhor e aceitar de boa vontade os sofrimentos que Ele lhes enviar em expiação de tantos pecados com que a Divina Majestade é ofendida, para obter a conversão dos pecadores, e em desagravo das blasfêmias e ultrajes feitos ao imaculado coração de Maria.
Em um punhado de palavras um montão de sandices!!!
A Bíblia nos diz que o Sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado. Ele é mais que suficiente! Por isso, o Sacrifício do Salvador é Único!
Enfim, executando o seu papel naquela representação tragicômica, quem responde o sim em nome de todos é a Lúcia, que entretera sozinha o diálogo.
Para dar oportunidade de se ir embora a "visão" e retornar ao carro do Lamorosa, Lúcia recomendou aos primos que corressem retirar as ovelhas que já começavam a comer as couves do seu pai, o velho Abóbora.
De acordo com os ensaios anteriores, a filha de Maria Rosa esclareceu aos primos que a "visão" era "nossa senhora" por "falar-lhes coisas tão bonitas" e recomendou-lhes que nada dissessem a ninguém. Super-excitados e submissos à admoestação de Lúcia, a mestra, voltaram ao cuidado das ovelhas.
De quando em quando a Jacinta, no auge da exaltação, repetia entre suspiros:
Ai! que Senhora tão bonita! Ai! que Senhora tão bonita!
Estou mesmo a ver que ainda vais dizer a alguém com ares postiços de censura, dizia Lúcia, esclarecendo insistentemente que a "visão" era "nossa Senhora".
- Não digo, não digo! Não tenhas medo! (12)
Ao se separarem no regresso de suas casas, a mestra repisa insistente a recomendação de segredo absoluto.
- Pois sim! Vás descansada!
"Lúcia recomendou que nada dissessem para não passarem por mentirosos não fosse caso que lhes ralhassem ou batessem. Mas, os dois pequenos não puderam guardar segredo e contaram tudo" (13).
Pretendiam os padres impostores mistificar de maneira absoluta as crianças para que, fanatizadas, se constituíssem em "testemunhas" entusiastas das aparições. Isto, aliás, é muito natural, pois no extremo da excitação, Jacinta e Francisco contariam o ocorrido em casa. Contestados, tomariam posição firme e convicta de "testemunhas". E, enfim, como vítimas, suportariam as contradições como oportunidades da prática de penitências impostas pelas circunstâncias e pelos circunstantes em favor dos pecadores e das almas do purgatório.
Como era de se esperar, em casa "a Jacinta andava em brasas. Como havia de guardar só para si aquela notícia que a abafava?" (14).
Não pôde suportar mais:
- Minha mãe, vi hoje Nossa Senhora na Cova da Iria!...
- Credo, filha! Estás doida? Quer não que és mesmo uma santinha, para que Nossa Senhora te apareça...
- Mas, eu vi-a! E instantes após:
- Minha mãe, eu e o Francisco vamos rezar o terço. Nossa Senhora disse que o devemos rezar. (15)
A hora do jantar relatava, com pormenores e confirmação do Francisco, a todos de casa o extraordinário acontecimento.
Coisa digna de nota a demonstrar mesmo a inexistência de crime ou embuste perfeito é que a "aparição" simplesmente disse vir do céu, mas não quis dizer quem era, prometendo fazê-lo em Outubro.
Francisco e Jacinta contaram que viram especificamente "Nossa Senhora", baseados na informação de Lúcia, que lhes contara em outras ocasiões a visão do anjo.
Qualquer pessoa de bom senso, mesmo católica, diante deste fato estranho, repelirá a sobrenaturalidade das "aparições" e percebe que a coisa foi "arranjada".
O católico, porém, em matéria de religião não pensa com sua cabeça. É "Maria-vai-com-as-outras"!
Continuemos o relato!
Olímpia Marto, mãe de Francisco e Jacinta, no dia seguinte, transmitiu à mãe de Lúcia a narração da filha.
Estupefata, Maria Rosa ouvia. Arreliou-se intimamente. Convencida de ser mentira tudo aquilo, conservou-se caiada diante de sua parenta, e, caso a filha lhe confirmasse a notícia, decidiu procurar o vigário, que, por sinal, há dias não lhe passava pela casa.
- Esta filha torna-nos o escárnio do lugar!, lamuriou-se ao reverendo.
- Ao contrário! tranqüilizou-a. E se for verdade o que ela conta, será para vocês uma grande glória, que todos lhes irão invejar. (16)
O trabalho de mistificação orientava-se também para atingir os familiares dos "videntes"... Essas palavras suaves visavam ser jorro de água fresca na alma escaldante da mulher.
Irredutível em sua descrença não diluída com o arrazoado cretino do padre, despediu-se com muchochos.
- Se for verdade... Mas não pode ser! A menina está-me agora a sair mentirosa. Mas, eu lhe ensino que não se dizem mentiras.
Prometido e melhor cumprido. Chegando em casa castigou a filha. (17).
Ninguém, a começar dos familiares, prestava crédito ás crianças. Todos escarneciam-nas.

As outras aparições

O dia 13 de Junho assinala no calendário católico a festa de santo Antônio. Português que é, em sua Pátria, recebe as mais estrondosas celebrações populares. Foguetório e bebidas alcoólicas dão a tônica saliente em todas as programações.
Todos os familiares dos "videntes" foram a Pedreiras onde mais apreciavam a festança do santo patrício. Esta atitude, aliás bem confirma o descaso pelas "visões" dos filhos, pois os pais e as irmãs "não aparentavam só indiferença, mas desprezo mordaz", observa um dos escritores sobre o assunto. (18)
Francisco e Jacinta preferiam ir com os de casa a Pedreiras,às festas de Santo Antônio. Lúcia intercepta-lhes a viagem notando-lhes a necessidade inadiável de irem a Cova da Iria.
Amedrontados, seguiram a prima que lhes ensinava também o catecismo.
Dias antes acontecera a festa do Corpo de Deus em que os padres saem às ruas, em procissão, levando a hóstia sob o palio, em um ostensório. Em Fátima, Lúcia e Jacinta foram escolhidas para atirarem pétalas de flores, transportadas em cestinhos, sobre o oficiante.
Chegados ao fim da procissão, Jacinta tinha-as todas. Não jogara nenhuma vez.
- Por que não atiraste as flores a Jesus?
- Porque não O vi.
- Mas,tu não sabes que o Jesus da hóstia não se vê? Está escondido; é o que se recebe na comunhão.
Jacinta demonstrou-se desejosa de receber a hóstia para o que precisava aprender o catecismo.
E nesta emergência se não seguisse Lúcia à Cova, esta não lhe ensinaria o catecismo e ela não receberia" Jesus escondido na hóstia"...
Com ares de superioridade, a Lúcia caminho afora, recriminava os primos por terem contado a "visão".
Amargurados os pobrezinhos ouviam aquela tempestade de recriminações ásperas, intimamente ofereciam esse sacrifício pela conversão dos pecadores...
Quando a "mestra" os percebeu arrasados, sentenciou:
- E não mais virão a Senhora! É castigo por terem dado com a língua nos dentes.
Cumpria a Lúcia uma parte da encenação. Os padres empresários das aparições, razoavelmente, previam que Jacinta e Francisco contariam. Evidentemente que a virgem Rosa Correia da Silva Bacelar, para não se expor ao risco de ser colhida em flagrante, não mais apareceria. E as crianças não mais a veriam como castigo por haverem contado em casa...
Somente Lúcia vê-la-ia!
Sob ameaças, porém os primos deveriam continuar dizendo que também viam a Senhora... Se não dissessem assim agora passariam diante dos pais e dos vizinhos como mentirosos mesmo.
À hora aprazada, como no mês precedente, rezaram o terço do rosário.
Em dado instante, a Lúcia, com os olhos postos sobre a azinheira, dizia estar contemplando a linda Senhora.
Os primos se lamentavam de terem merecido o castigo de não vê-la. Para consolá-los, informava-lhes a "mestra" de que a Senhora, em breve,, levá-los-ia para o céu.
Desta "visão" Lúcia passou a repetir a reza que o vigário lhe fizera decorar: Ó meu Jesus perdoai-nos livrai-nos do fogo do inferno e aliviai as almas do purgatório, principal mente as mais abandonadas. E dizia haver-lha ensinado aquela Senhora...
Esta jaculatória - assim chamam os padres as rezas curtas - espalhou-se pelo mundo afora e é repetida nos intervalos de cada mistério do rosário por muita gente.
Já que falta à teologia católica fundamentação bíblica para a doutrina esdrúxula do purgatório o clero - finório! - vai, utilizando-se de estratagemas, levando os seus fiéis a essa crença Aliás, é do seu máximo interesse pecuniário que o povo creia no purgatório, a cozinha dos padres.
Imagine-se se um dia o povo reconhecesse que o Sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado e, conseqüentemente desacreditasse desse lugar purgativo... Ninguém mais pagaria missa pelos defuntos... Todos perderiam a consideração pelas indulgências e, em debandada, desvincilhar-se-iam das saias padrescas...
A única visionária de 13 de Junho e dos dias 13 subseqüentes contava que a Senhora lhe ordenara aprendesse a ler e escrever para lhe poder, depois, dizer o que dela queria. Lúcia até o final das "aparições" (13 de Outubro) não aprendeu a ler e transmitiu, todavia, tanta coisa que a Senhora lhe quis, como iremos constatar. Ora que sandice!
Precisaria a garota saber ler para espalhar a "mensagem" da Senhora? A não ser que lha desse por escrito... Mas, tudo foi de boca! Esta é outrossim uma das muitas contradições encontradas nos diálogos da menina com a Senhora, transmitidos nos diversos livros, sobre esse assunto sacramentados com aprovação eclesiástica.
Enquanto os pais continuavam se opondo aos filhos visionários e os moradores da aldeia não criam na patacoada, os vigários de cidades da redondeza, sobretudo o de "Torres Novas", passaram a divulgar o fato. Os Boletins Paroquiais e o "Mensageiro de Leiria" se encarregavam de matracar "os acontecimentos da Cova de Iria".
Após a "aparição" de Junho, cada vez mais os pais dos "videntes" se convenciam de estarem eles iludindo o povo e de que tudo aquilo que relatavam era mentira. Por isso, ralhavam-lhes e batiam-lhes.
O vigário de Fátima, informado dessa posição dos familiares, com receio de que as crianças acabassem contando toda a verdade, resolveu interferir. E mandou chamar Da. Maria Rosa e Da. Olímpia, as mães dos "videntes" para lhes aconselhar moderação (19).
O pobre pe. Manuel Marques Ferreira se agitava todo ao constatar o perigo iminente de uma derrocada. Começou a perceber insegurança por parte de Lúcia que lhe chegou a ameaçar contar tudo.
Poucos dias antes de 13 de Julho, quando se deveria dar a terceira "aparição", a "mestra" principiou a ter sentimentos horríveis de íntima revolta consigo mesma por se expor a um serviço desses. Julgava-se um autêntico instrumento do demônio...
Apavorada uma noite," teve um sonho que aumentou as trevas do seu espírito" (20).
A própria vidente relata:" Vi o demônio que, rindo-se de me ter enganado, fazia esforços para me arrastar para o inferno. Ao ver-me em suas garras comecei a gritar chamando por "Nossa Senhora" de tal forma que acordei minha mãe , a qual me chamou aflita, perguntando o que tinha".
E comenta o jesuíta Fonseca porque, por muitos que façam os escrevinhadores sobre Fátima, não podem ocultar as contradições: "Desde então sentia-se como envolvida numa atmosfera de terror. O seu alívio era esconder-se em algum canto solitário, para lá chorar à vontade. Até a companhia dos primos começou a aborrecê-la e, por isso, muita vez, quando a procuravam, escondia-se e, estando a dois passos, não lhes respondia por mais que a chamassem" (21).
Eram os estertores dos seus remorsos...
Cristo ao contrário, dá paz e alegria íntimas aqueles que O aceitam como Salvador e Senhor...
A propaganda lançada pelo clero atraia as atenções dos curiosos que, de algumas cidades, se preparavam para uma romaria à Cova no dia 13 de Julho. O vigário de Fátima, apesar das palavras de ânimo do seu colega de Torres Novas, já via tudo indo por água abaixo, por quanto acompanhava o desespero de Lúcia, disposta a abandonar a farsa.
Sua própria mãe relatara-lhe, com a confirmação da "vidente", o seguinte fato:
Encontrando-se debaixo de uma figueira com a mãe, esta aparentando muita tranqüilidade, perguntou-lhe repentinamente:
- É verdade que viste nossa Senhora na Cova da Iria? ao que Lúcia respondeu:
Quem é que lhe disse isso?
A mãe de Jacinta, a quem esta contou.
Lúcia convencida da inutilidade do segredo por mais tempo, declarou:
Eu nunca disse que vi Nossa Senhora, mas uma mulherzinha muito bonita. Recomendei muito aos meus primos que não dissessem nada a ninguém, mas bem se vê que tiveram a língua comprida!
A mãe retruca-lhe:
- A Jacinta diz que foi Nossa Senhora, tu chamas-Ihe mulherzinha. Sempre vocês são grandes embusteiros. que andam por ai a enganar meio mundo e a por em sobressalto e ridículo a família. (22)
Na véspera da terceira "aparição" a muito custo conseguiu o Marques Ferreira prometesse a menina estar no lugar das aparições. Diversos padres cercaram Lúcia para incitá-la a Cova.
Ao meio-dia já algumas pessoas de irmandades religiosas com seus emblemas característicos e mais de uma dezena de padres, se aglomeravam na Cova da Iria e, dirigidas por Lúcia rezaram o terço do rosário. Em seguida, ficou uns minutos parada, boca semi-aberta, olhos estatelados para o lado do azinheiro.
Apareceu-lhe a Senhora!
Mas, para surpresa geral dos beatos, ninguém viu nada... Nem os primos. Somente a filha do Abóbora. Os clérigos, porém não se assustaram, pois sabiam que assim deveria ser.
Os mais crédulos retiraram algumas folhas da mirrada árvore e deixaram ao seu tronco uns níqueis.
A Lúcia reanimada pelo vigário e engodada com mil e uma promessas, se firmara como atora principal da comédia.
A propaganda recrudescia intensamente porque os padres visavam levar em Agosto um grande contingente de devotos. Esta situação, porém, despertava o interesse das autoridades civis que percebiam em tudo uma manobra do clero pretendendo reimplantar seu domínio sobre aquele pobre povo por ele multi-secularmente infelicitado.
Deixemos depor o Snr. Artur de Oliveira Santos, administrador do Distrito de Vila Nova de Ourem (ou Ourém), ao qual pertencia Fátima, e delegado especial do inquérito:
"Exercia eu então o cargo de Administrador do Conselho e na madrugada do referido dia 13 *, tendo deixado de prevenção uma Força da Guarda Nacional Republicana na sede do Conselho, dirigi-me, em companhia do oficial da Administração, Cândido Jorge Alho, à povoação de Ajustrel, no intuito de trazer os três protagonistas (as crianças) para esta vila, a fim de evitar a continuação da especulação clerical, que em torno delas se estava fazendo. Junto da casa de habitação dos pais de Francisco e Jacinta, já se encontrava o padre João, pároco em Porto de Mós, falando com a mãe daqueles, e, junto a um pequeno largo , bastantes seminaristas. A Lúcia interrogada, a meu pedido, pelo padre, reeditou o que anteriormente havia dito ** Consegui trazê-las (as crianças) para minha casa, junto de minha família num carro previamente alugado. Não faltaram ameaças de morte. Chegaram mesmo dois grupos, para tal preparados, a seguirem automóveis, em perseguição do nosso carro, desistindo do seu intento apenas quando souberam que o carro que me conduzia e às crianças se encontrava já nesta Vila, protegido por força militar.
Quando na Cova tiveram conhecimento do caso, grupos de populares, à mistura com padres, clamaram ser preciso ir à aldeia (Vila Nova de Ourem) matar os republicanos e os pedreiros-livres. Não tendo comparecido na Cova de Iria as crianças naquele dia, o milagre não se realizou, e tudo debandou sem incidente maior. Eram então governadores civis efetivo e substituto os snrs. Drs. Manuel Alegre e Manuel Branco, respectivamente, e era minha opinião que as crianças fossem inspecionadas por uma junta médica e internadas numa casa de educação, subtraindo-as deste modo, aos clericais, de maneira firme e precisa, para que lhes não servissem de instrumento de exploração. Compartilhava desta opinião o segundo daqueles cidadãos, sendo de parecer contrário o primeiro, convencido de que, deixando-se os clericais à vontade, a mistificação, com todos os seus elementos, cairia pelo ridículo (23).
Sendo do próprio espírito republicano a livre manifestação de pensamento, deixou-se o clero conluiado com os monarquistas e a mistificação da Fátima se alastrou livremente por todo Portugal levada pelos jornais católicos.
Não podendo acontecer a "aparição" na Cova porque os videntes lá não estavam no dia 13 de Agosto (talvez a Santa não conhecia o caminho de Vila Nova de Ourem, ou se perdeu!), no domingo, 19, a Lúcia disse tê-la visto e lhe falara:
- No último mês (13 de Outubro) farei o milagre para que todos acreditem. Se não vos tivessem levado para Vila Nova de Ourém   o milagre seria mais grandioso.
Mas que tolice dessa virgem aparecida! pois se iria fazer um milagre para que todos acreditassem, deveria logicamente fazê-lo mais estrondoso exatamente para que as autoridades incrédulas fossem as primeiras a lhe darem crédito.
Nessa informação da "vidente", contudo, se revela o receio dos empresários... Já estavam preparando o espírito do povo para o caso de um fracasso.
Ainda nessa "aparição" a Senhora determinara que se confeccionassem com os dinheiros depositados ao tronco da azinheira, dois andores a serem transportados em procissão numa festa da Senhora do Rosário a ser promovida pelo vigário sob cuja tutela deveriam ser guardadas todas as esmolas.
Abria-se agora diante dos olhos dos padres trapaceiros uma outra perspectiva. Como instrumentos do cardeal Mendes Belo, objetivavam deflagrar uma onda de mistificação em toda Nação para sublevar o povo contra o regime republicano e prestigiar o catolicismo deprimido. O sucesso superava todas as previsões porque a Cova se lhes tornara fabulosa mina de dinheiro. Os papalvos de bolsos minguados lá despejavam os seus parcos recursos para o sustento da boa vida dos clérigos pançudos e encharcados de vinho.
Esfurancando os dentes com um palito, esfregando com o calcanhar direito a canela esquerda, num tique nervoso, o pe. Benevenuto de Souza, saltimbanco de primeira categoria, congratulava-se com os companheiros pelo triunfo:
- Eu sabia que essa chusma lá iria cair na maroteira. Em honra à virgem - e a classificava com um palavrão - vamos a um pagode regado a vinho e aquecido pelos braços tenros de mulheres bonitas.
A previsão de grandes lucros naquele investimento de exploração da credulidade pública, além do incremento do prestígio popular da seita papal tão desacreditada, moveu o clero a intensificar a propaganda. Os vigários de paróquias distantes mobilizavam as suas irmandades para romarias. Os próprios seminários e conventos de freiras enviavam seus alunos e suas noviças a engrossar os contingentes dos embatinados.
E no dia 13 de Setembro uma multidão de pessoas provenientes dos mais remotos pontos do País, tangidas pela propaganda, se aglomerava na Cova da Iria, cantando "Aves", rezando cediças fórmulas e pisando as couves e os repolhos do Abóbora, que curtia no álcool os despeitos por ver a filha mancomunada com os embusteiros.
Nesta "aparição" a virgem tornou a referir-se ao dinheiro porque agora os padres prelibavam do produto de inesgotável fonte de receita a lhes engordar os patrimônios.
- Com uma cajadada matam-se dois coelhos! Ora sebo! interjetivava a língua solta do Benevenuto.
Falando em dinheiro - dinheiro e política são as máximas preocupações do clero! - a "visão", no mês de Setembro, afora os dois andores, recomendou que se devia construir na Cova uma capela em honra da Senhora do Rosário. E que não faltassem os cofres com suas bocas sorridentes a recolher as esmolas...
Já das outras "aparições" solicitavam à Lúcia apresentasse pedidos à Senhora. Em geral pedidos de cura. Invariavelmente a "madame", conforme informações da visionária, deferiria todos eles, contanto que os doentes tivessem paciência porque suas curas se dariam no "ano que vem". Nesse mês de Setembro os pedidos dessa ordem se avolumaram consideravelmente para maior desapontamento dos enfermos devotos.
Nesta "aparição" também ninguém viu nada... nem a Jacinta e nem o Francisco viram mais a linda Senhora de branco depois de 13 de Maio. A Rosa Correia da Silva Bacelar, no seguimento de instruções dos empresários da tragicomédia, não apareceu mais. Somente Lúcia, no meio da multidão, dizia vê-la e com ela conversava, como atora, cumprindo o seu papel de vidente. Aquele povo a tantos séculos explorado pelo clero, contudo, na ansiedade de paz - a tão almejada paz procurada longe das normas evangélicas decidia conformar-se, abafar os seus protestos e dar mais uma vez um crédito de confiança ao "sobrenatural"
.

A última "aparição"

De rastilho a princípio, a propaganda recrudesceu atingindo dimensões gigantescas nas vésperas da derradeira "aparição". Toda a imprensa católica que combatia o regime democrático instalado pela República, aproveitou-se do clima de liberdade reinante para articular todas as forças do beatério... Apesar das manifestações oficiais do cardeal patriarca em sentido "desfavorável"ao movimento de arregimentação das irmandades, o clero lançava dos púlpitos os seus apelos afim de que o povo fosse ver o grande milagre prometido por "Nossa Senhora" na Cova da Iria... (Vale lembrar-se que a "aparecida" ainda não havia dito quem era e já Lúcia, comprometendo o script do programa cômico, proclamara a identidade da ilustre "visão"). O instrumento principal nas mãos do clero, porém, foi o confessionário, o que, aliás, não podia deixar de ser.
A propaganda deflagrada em todo o País e em muitas cidades espanholas limítrofes anunciavam um estrondoso milagre. Um prodígio impressionante que poria todos os presentes em contato com o sobrenatural e confirmaria a autenticidade das manifestações mariais. Visando aguçar a curiosidade popular, informava, outrossim, que os segredos confiados pela Virgem aos videntes em Junho  e  Julho teriam sua revelação autorizada nessa oportunidade.
E às 12 horas de 13 de Outubro de 1917, na horta do Abóbora, da qual nem a cerca sobrara, uma multidão de 40.000 pessoas esperava a manifestação mariana.
Os padres, às centenas, azafanados davam ordens à multidão que gemia os hinos religiosos sob a inclemência da chuva constante desde a madrugada.
O pe. Benevenuto, de Torres Novas, exaltava-se irado:
- Caramba! a propaganda não tangeu a grande multidão que se esperava... É ridículo esse punhado de gente que cá está... Raios! e agora esta chuva... Macacos me lambam se assim mesmo eu não conseguir o milagre ... É somente o sol darás caras...
Era a sua última participação na trapaçaria. Ela - é verdade - corria enorme risco, mas não podia falhar, pois em jogo se achava o seu prestígio junto do arcebispo e do clero.
- Que azar! Essa chuva impertinente a impedir o grande milagre... resmungava o trêfego sacerdote, cuja alma se esbraseava em sonhos de grandeza.
E o seu comparsa, o Manuel Lamarosa, permanecia escondido na outra encosta do morro à espera de que o sol se abrisse para produzir um fabuloso milagre com os reflexos de dois grandes espelhos...
- Que raio de nuvens a despejar tanto aguaceiro... Isto aqui é um deserto e justamente hoje esta bomba, praguejava em sussurro com a mão direita em concha no ouvido do pe. Marques Ferreira, o Benevenuto a lhe escorrer da cara a água em bagos.
Seu cúmplice, mais comedido no linguajar, mais introspectivo e mais observador, acalmava-o, não sem presságios soturnos na alma:
- Benevenuto, tudo vem a calhar... Imagines tu se tivéssemos bom tempo e sol ardente a pino, com milhões de pessoas a se esparramarem pelos morros circunvizinhos... Onde iria esconder-se o nosso amigo Lamarosa para projetar os reflexos dos espelhos sem risco de ser colhido em sua incumbência?
- É ver-da-de!, silabou o vigário de Torres Novas.
E perscrutando os horizontes toldados, a ver se descobria alguma clareira no céu, prenuncio de amaino do tempo, comentava:
- Aproximam-se as 13 horas e impacienta-se o povo... E a chuva a cair...
A Virgem não podia se molhar naquela despropositada intempérie! Já fazia muito em se dignar, vir à Terra... Não iria, pois, encharcar-se e nem arriscar-se à ameaça de um resfriado...
A padralhada, ao ver os relógios assinalando 14 horas, se excitava e sacolejava o beatério fazendo-o esfiar, em alto vozerio, o rosário, intercalando-se cânticos como a tristeza de almas fanatizadas.
Divulgou-se entre os devotos que a Virgem se atrasava e talvez nem viesse mesmo por castigo à incredulidade de muitos e pelas zombarias de outros que lá estavam.
O clero dispõe de uma fonte inesgotável de recursos e saídas de emergência... O Benevenuto preparava o espírito parvoicizado dos romeiros...
Para alívio dos embatinados, por volta de 15 horas, serena-se o tempo e, dentre as nesgas de nuvens toldadas, mal aparece o sol.
Lúcia, orientada pelo Marques Ferreira, o seu diretor espiritual, com um estremecimento interrompe a vozeria popular.
Os mais achegados ouvem-lhe as palavras:
- Quem é vossemecê, e que quer de mim?, pergunta com os olhos fixos na azinheira já reduzida pela metade.
Por que perguntar quem era se a menina divulgara a novidade de estar vendo a Senhora?
Ninguém, por mais que se esforçasse, via coisa alguma. Nem Francisco. Nem Jacinta.
- Eu tinha muitas coisas a lhe pedir...
De Lúcia ouviram-se estas expressões apenas... E mediadas por um espaço de uns três minutos. E ninguém ouvia nada da Senhora...
Neste ínterim, o Benevenuto, vendo-se livre de enredar-se numa meada de complicações, com a sua voz de trovão, dá início ao cântico do"Ave" no que é seguido pela multidão.
- Olhem para o sol!, ouvem da vidente os seus vizinhos.
O "Ave" era o sinal para que o cocheiro com os espelhos produzisse os revérberos na conformidade do programa estabelecido e ensaiado...
A multidão, além dos reflexos esmaecidos que se cruzavam nas nuvens grossas, não viu mais nada!
Vejam agora como os embusteiros descrevem o milagre:
"Espetáculo estupendo, único, nunca visto"!
A chuva termina como por encanto, rasgam-se as nuvens o sol aparece no zênite semelhante a um disco de prata e começa a girar vertiginosamente sobre si mesmo, como uma roda de fogo, projetando em todas as direções feixes de luz: amarelo verde, vermelho, azul, roxo, ... que pintam fantasticamente as nuvens do céu, as árvores, as rochas, a terra e a multidão imensa. Em seguida para durante alguns instantes e depois recomeça a sua dança de luz, como a mais rica peça de fogo preparada pelos mais hábeis pirotécnicos; torna a parar novamente para recomeçar pela terceira vez, mais variado, mais colorido aquele fogo de artifício.
A multidão, extática, imóvel, sem respirar contempla!
A um dado momento todos tem a sensação de que o sol se desprende do firmamento e se precipita sobre eles. Um grito único, rompe de todos os peitos, que traduz o terror de todos, e em várias exclamações exprime os mais diversos sentimentos: "Milagre!: milagre!" dizem estes. "Creio em Deus", exclamam aqueles. "Ave, Maria", rezam outros. "Meu Deus, misericórdia", grita o maior número; e caindo de joelhos na lama fazem em alta voz o ato de contrição.
Este espetáculo nitidamente distinto em três tempos durou no seu conjunto cerca de dez minutos e foi observado por mais de cinqüenta mil pessoas: crentes e descrentes, simples camponeses e cultos cidadãos, homens de ciências, redatores e correspondentes de jornais e não poucos livres-pensadores... terminado o fenômeno solar notaram com surpresa que os próprios fatos (as roupas), pouco antes ensopados em água, estavam perfeitamente enxutos". (24)
Enquanto o povo contempla "o prodígio solar"(!?) prossegue "o conto do vigário" .junto do sol apareceram para os videntes S. José e o Menino Jesus, Nosso Senhor abençoando o povo   e continuando a sucessão rápida de quadros   plásticos  a Senhora das Dores sem a espada no peito - ainda bem! - e a Senhora do Carmo.
Tudo mentira! tudo patacoada! E das super-ridículas!
Que esbanjamento de "Nossas Senhoras"!!!
Diz ai o jesuíta Fonseca que livres-pensadores presenciaram o acontecimento espetacular... Mas, por que não estampa em seu livro ao menos um depoimento de qualquer um deles?
Por que nenhum observatório astronômico registrou o sucesso prodigioso tão espetacularmente propagado posteriormente pelo clero, como se tivesse sido presenciado a mais de cinco quilômetros de distância?
O Fonseca apresenta três depoimentos. Suspeitíssimos. Aliás, mais do que suspeitíssimos!
O primeiro é do próprio bispo de Leiria, o segundo de um catolicão, José M. Proença de Almeida Garrett, professor da Universidade de Coimbra. Isto ele o faz na quinta edição do seu livro. Da tão pouco valor a esses testemunhos que não os inseriu nas suas edições anteriores. Nestas aparece somente o depoimento de um tal pe. Inácio Lourenço Pereira, missionário da índia, em carta ao bispo de Meliapor.
O católico é tão cego que nem se apercebe destas aberrações!
Dizem os padres que todas as "nossas senhoras" são uma só. Tantos títulos para uma só personagem. Então, essa madame teve de mudar as suas vestes três vezes em pouquíssimos segundos. Primeiro, conforme a estória, trajava-se de branco com frisos dourados. Como Senhora das Dores, estava de azul, com um manto roxo, faltando-lhe o punhal no peito - ainda bem, tadinha! E como Senhora do Carmo, tinha as vestes marrons e o escapulário nas mãos em lugar do rosário.

Quanta baboseira !!!

As aparições da Fátima, além de outras vinculações dogmáticas e interesses eclesiásticos, relacionam-se estreitamente com a devoção do rosário e com a doutrina do purgatório. Ambos frontalmente alheios às Escrituras Sagradas.
Ambos negadores da veracidade da Palavra de Deus e da todo-suficiência do Sangue de Jesus Cristo.
O rosário, denominado de chave dos tesouros de Deus, é uma devoção composta de três partes, chamadas, por isso, de terços. Estes se cognominam de mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos.
O rezador de terços mastiga os mistérios gozosos nas segundas e quartas-feiras; os dolorosos, nas terças e sextas-feiras; e os gloriosos, nas quintas-feiras, sábados e domingos.
Cada terço é composto de cinco dezenas de ave-marias intercaladas de um Padre-Nosso e um Glória ao Padre, seguido de uma jaculatória.
A coroa de contas que o rezador esfia entre os dedos, é para marcar o número das Ave-Marias, pois não vale o terço se um dos mistérios for contemplado com oito ou nove Ave-Marias somente. Tem de ser as dez para cada mistério!
Os marianos desconhecem este preceito de Jesus Cristo: "E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos" (Mt6:7).
Ao vê-los rezando o terço, lembro-me do fato bíblico de Elias reptando os profetas de BaaI. Estes, inutilmente, invocaram o nome de seu deus, "desde a manhã até ao meio dia, dizendo: ah BaaI, responde-nos! Porém nem havia voz, nem quem respondesse"(l Reis 18:26).
E lá vai o mariano repetindo esta monstruosidade: "Santa Maria, mãe de Deus..."
Mãe de Deus!!!
O deus católico tem mãe... Então não é eterno!
E se não é eterno não é Deus. Conseqüentemente, o católico se declara não crer no verdadeiro Deus.
Quando o teólogo da seita se vê acuado por este raciocínio se encapuça no seguinte sofisma: Maria é mãe de Jesus Cristo; ora, Jesus Cristo é Deus. Logo, Maria é mãe de Deus. Ele tira de duas premissas certas uma conclusão errada.
A coroa de contas, além de facilitar o marcar-se o número exato das Ave-Marias, sendo benta com fórmulas especiais, atribui ao rezador valiosas indulgências. Até indulgências plenárias que totalmente eximem o devoto das penas que lhe são cominadas pelos pecados praticados.
E o Sangue de Jesus Cristo? Qual seria a sua atribuição da vida espiritual do católico? Logicamente que quem aceita aquelas doutrinas nega, implicitamente, o valor único do Sacrifício do Salvador!
Prossigamos!
Naquela sucessão de aparições de "nossas Senhoras", o publicista de Fátima, o jesuíta Fonseca, pretente  elucidar que a Virgem quis  exortar os fiéis à prática do rosário. Quando Lúcia diz ter visto a Virgem, São José e o Menino Jesus, a "visão" se referia aos mistérios gozosos. A Senhora das Dores, mesmo sem punhal no peito, representava os mistérios dolorosos. A Senhora do Carmo vinha lembrar os mistérios gloriosos e incitar os fiéis à devoção do escapulário ao qual está vinculado o privilégio sabatino.
Troquemos em miúdos essa nomenclatura do beatério mariano!
O escapulário consiste em dois pedaços de panos, de cor marrom, na forma retangular mais ou menos 5 por 8 centímetros, ligados por dois cadarços. Então o devoto pendura o escapulário nos ombros, ficando um retângulo no peito e outro nas costas.
Sendo-lhe imposto por um padre autorizado e rezando diariamente algumas rezas previamente estabelecidas pelo mesmo sacerdote, o beato mariano indo para o purgatório, será retirado de lá pela Senhora do Carmo, logo no sábado imediato à sua morte. Eis o privilégio sabatino!
Se o fiel julgar conveniente pode solicitar a troca do escapulário por uma medalha em que, de um lado, contenha a efígie do coração de Jesus e no reverso uma de Maria.
Não faltam ao catolicismo engenhos a fim de depreciar o valor supremo do Sacrifício Salvífico do Salvador!!
Entre outras coisas importantes, dizem os clérigos, as "aparições" de Fátima vieram rememorar ao povo essas devoções. Por isso o nome completo da madame é "Nossa Senhora do Rosário de Fátima"!

E a sarabanda no céu?

Voltemos ao caso do sol!
Nada de extraordinário aconteceu.
Seus raios de tão fracos não puderam produzir com vivacidade os revérberos nos espelhos do chantagista Benevenuto... Os fracos reflexos atingiam apenas os flocos de nuvens que, abaixo das mais grossas e escuras, corriam levados pelo vento e passando sob o sol fraco, faziam-no mais claro e mais esmaecido numa rápida inconstância.
Meu pai foi soldado do exército português durante a Primeira Guerra Mundial. Nascido e residente em Vila Nova de Ourem, conhecia perfeitamente os padres vigaristas e as famílias dos visionários. A pequena fazenda dos meus avós paternos confinava com o sítio do Abóbora, pai de Lúcia.
Naquele mês de outubro, em virtude de convalescer de uma grave enfermidade, meu pai teve licença de passar uma temporada em casa. E esteve presente na Cova da Iria.
Ele sempre foi católico e, quando veio para o Brasil, em 1921, dentro de sua mala, trouxe uma estampa que lhe dera sua mãe na despedida e que, como recordação, sempre conservou.
Pois bem, meu pai sempre nos contava que todas as pessoas molhadas da chuva naquele dia saíram molhadas... Que não aconteceu nada de excepcional no sol... Nenhum milagre, nenhum prodígio foi visto por ninguém... Grande parte do povo saiu ridicularizando a concentração devota e avacalhando a Senhora...
Uma circunstância especial que levou ao descrédito entre as pessoas mais sensatas da região foi o fato de ter Lúcia noticiado que a Senhora lhe informara haver acabado a guerra naquele mesmo dia e que em breve os soldados retornariam aos seus lares.
Relatava meu pai que muitas pessoas que tinham familiares como soldados em campo de batalha saíram do local jubilosas com a faustosa notícia do término da guerra. Coitadas! Horas depois os fatos verídicos sobre a hecatombe que continuava atroz, desmentiram a madona”.
Além do testemunho do meu pai, valiosíssimo para mim e superior a todos os demais, invoco o depoimento do conhecido católico português, dr. Pinto Coelho, estampado no exemplar de "A Ordem", de 16 de outubro de 1917, em que classifica de fantasmagoria o chamado milagre.
Outra testemunha presencial é o dr. Antônio Sérgio, ex-ministro da Educação. Ele fora à Cova da Iria porque ansiava ver o milagre anunciado e saiu cabisbaixo de vergonha porque ludibriado pelo embuste clerical.
E, do sólio patriarcal de Lisboa, o cardeal Mendes Belo, por ver a viola em cacos, manifestou o seu repúdio à farsa da Cova.
Meu pai morreu como católico, tendo à sua cabeceira de agonizante um padre e uma vela acesa nas mãos. É esta observação valiosa em favor do seu depoimento. Mas, nas fileiras eclesiásticas não falta quem se manifeste, demonstrando bom senso e sinceridade expondo-se a censuras dos superiores, contra a patranha. O pe. Eduardo Dhanis, jesuíta e professor na Faculdade Teológica de Lovaina, é um deles. Propôs-se, em 1951, com relação à Fátima, limpá-la de "incrustações lendárias". Quanto à dança do sol, "julga seu dever de crítico imparcial e consciencioso, cercá-la de todas as exagerações bordadas pelo entusiasmo". O seu colega Fonseca, na revista portuguesa e jesuíta "Brotéria", fascículo de Maio de 1951, gastou 8 páginas (de 505 a 511) para rebater os dardos atirados pelo pe. Dhanis. Seu escudo, porém, saiu todo furado... E seu arrozoado, de tão frágil, evidencia o descrédito que envolve a estória da sarabanda solar.

Cuidado com o andor porque o santo é de barro!

Nas procissões quem carrega a andor deve ter muito cuidado. Porque se o deixar cair, espatifa-se o santo...
Quando padre, certa feita, sucedeu-me um fato desagradável. Organizei uma série de procissões, levando a imagem da Senhora das Graças às casas de  diversos devotos, onde rezávamos o terço. Numa delas, os carregadores do andor se descuidaram e a santa bateu com a cara no batente da porta, partindo o nariz e esfolando a testa, em que foram de embrulho as sobrancelhas.
De muito desapontado que fiquei, sofri uma crise de tosse e precisei retirar-me sem fazer a reza...
Os generais durante as operações bélicas devem prever surpresas. Mas, os três empresários da maroteira de Fátima confiaram demais nos seus poderes de sortilégio ou supunham contar sempre com a crendice sabuja dos devotos. E a geringonça esteve a pique em diversas circunstâncias.
Ainda hoje qualquer pessoa sensata que ler sobre o assunto os livros sacramentados com o imprimatur do gordalhufo bispo de Leiria e tio da "Virgem", José Alves Correia da Silva, em cuja diocese se encontra Fátima, repito, ainda hoje qualquer pessoa sensata que ler esses livros poderá verificar quantas contradições e quantos interrogatórios pueris a demonstrar a inconsistência do relato.
Uma particularidade muito importante é que Lúcia sabia de tudo. Fora ensaiada pelo seu vigário, o pe. Manuel Marques Ferreira. Os outros dois "videntes" foram apenas comparsas que agiam por cordéis que a Lúcia, a "mestra", puxava.
No dia 13 de maio de 1917, realmente os três viram a Senhora, cujo papel fora representado pela jovem sobrinha do bispo de Leiria, Rosa Correia da Silva Bacelar. De acordo com a trapaçaria, esta real aparição impressionaria o Francisco e a Jacinta, que, apesar de admoestados pela prima, dariam com a língua nos dentes. Contestados como mentirosos se firmariam mais e mais nas suas convicções de videntes da Senhora.
Aquelas crianças preparadas espiritualmente pelas leituras da "Missão Abreviada", com essa aparição, se tornaram super-sensíveis à consumação da obra mistificante.
Dessa vez ouviram bem os três falar a "visão" sobre a necessidade de se praticarem penitências como aliás lhes sugeria a "Missão Abreviada".
Após a segunda aparição, Francisco e Jacinta informaram, estarrecidos, que não viram a Senhora. Somente Lúcia a vira.
Os padres falsários puseram as mãos à cabeça. O Marques Ferreira, responsável pela preparação e orientação psicológica dos videntes, viu a delicadeza de sua incumbência de contornar o problema.
Urgentes mãos à obra! Senão a armadilha se desmantela...
Falou à Lúcia. A mestra se encarregou de consolar os primos:
- Bem que eu lhes disse que não contassem nada a ninguém! Deram com a língua nos dentes... Agora a Senhora não lhes aparece! Façam o sacrifício de aceitarem essa humilhação. Mas é preciso ainda continuarem agora confirmando que ela aparece. Eu a vejo e com ela falo. Não ouvem a minha voz?
É verdade! Ouviam a voz de Lúcia. Da Senhora, contudo, nada ouviam. E nem a viam.
Falando particularmente ao Francisco que se queixava, dizia:
- A condição que a Senhora te impõe para que a vejas é rezares o terço.
E informa o frade Rolim, biógrafo do rapazito, que mal ouviu isto, "cruzou as mãozinhas sobre o peito e, depois como que eletrizado, pôs-se a dar saltos de contente e a dizer, ao mesmo tempo que já tirava o terço do bolso do colete: Ó minha rica Nossa Senhora! Terços... Terços rezo quantos quiseres" (25) E, desde então, ficou sequioso e faminto deles... Rezava só, rezava com Lúcia e com Jacinta, no campo e, à noite, em casa com a família.
Lúcia, como confidente do pároco, transformara-se, sobretudo após a primeira aparição, em agente que atuava eficientemente junto dos primos. Não os largava de vista por receio de que alguém os esclarecesse. O pe. J. Castro dei Rio em seu livro: "Aparições da Santíssima Virgem", à página 32, confessa: "Procurava distraí-los... dando-lhes lições sobre a história da Paixão de Nosso Senhor, que ela tinha aprendido de cor, pelas narrativas de sua mãe, nas longas noites de inverno. De tal maneira a pequena mestra se imiscuiu no ânimo de seus discípulos que, em pouco tempo, lhes conquistou docemente o coração".

A Transubstanciação de um formigão em Visconde

A teologia católica aprecia sobremaneira a palavra transubstanciação que quer dizer mudança de substância. E diz lá o seu dogma relativo à hóstia que, na missa, do pão sai a sua substância e, em seu lugar, vem a substância de Jesus Cristo. Por isso, a garotada do catecismo diz que a hóstia é o sacramento que contém Jesus Cristo com Seu corpo, sangue, alma e divindade tão real e perfeitamente como está no céu.
Também na trapaçaria de Fátima aconteceu uma transubstanciação. Foi um formigão que virou visconde.
Até bem pouco Portugal, no regime monárquico, era dominado por uma família real. O povo habituara-se a ouvir falar em príncipes, condes, princesas, duquesas, viscondes...
Os mistificadores de Fátima, saudosistas do regime que lhes engordou o ventre por oito séculos, decidiram, para dar mais autoridade perante o vulgo beato, atribuir o pseudônimo, ou apelido, de Visconde de Montelo ao pe. Manuel Nunes Formigão, professor do seminário de Santarém e novo companheiro na pantomima. Conheciam-lhe os colegas o comportamento e a definição moral: do crânio à sola dos pés uma crosta de pecados!
Dotado de excelente verborréia. o Visconde, sem cavanhaque, mas  de  saia,  chegou na hora aprazada para evitar esboroar-se entre as vaias do ridículo a palhaçada fatímica. Como novo ator na novela sua atuação não pode ser considerada menos valiosa se bem que haja posto em linha de retaguarda o pe. Manuel Marques Ferreira.
Os videntes se contradiziam e davam com a língua nos dentes. E por muito que fizesse, faltava ao vigário de Fátima psicologia suficiente para conduzir o barco em ondas agitadas e inconstantes.
Com a chegada do Formigão, a presença do Marques Ferreira se restringiu a uma participação de parceiro insignificante.
E o pe. Formigão, o Visconde de Montelo, faiscando todo de cinismo, saiu-se melhor do que a encomenda!
Aproximou-se dos videntes para aconselhá-los. E, fazendo descer sua verborréia para as pontas dos dedos, decidiu publicar em livros os seus "diálogos" e botou a correr mundo a estória das "aparições".
Sua primeira atuação deu-se a 27 de setembro de 1917 quando foi à casa de Lúcia. Francisco foi o primeiro entrevistado, depois Jacinta e, por último, a filha da casa. Cenhoso, preveniu os "videntes", caso não lhes seguissem os conselhos. Mais tarde divulgou esses interrogatórios numa forma tão banal que dão a impressão de enredo de foto-novelas de amor. Por esse relato impresso nos seus livros se limitou a perguntas indignas do assunto celestial a envolver uma Virgem Senhora: sobre seu vestido, o manto, se eram brancos e dourados - o ouro sempre atraiu a ganância clerical - se trazia as mãos postas, se era bonita, se a saia era curta, se trazia meias nas pernas...
O jesuíta Fonseca, ao lhe transladar o interrogatório, também não se deu conta dessas mesquinharias, ou irreverências, tratando-se, se fosse verdade mesmo, de uma mensageira do céu. Logicamente o interrogatório é tão reles que demonstra não crerem os reverendos nessas manifestações sobrenaturais.
E fez pior o Fonseca. Ao transcrever as "formigadas" do Visconde deu as suas "fonsecadas", divulgando esta pergunta pueril com respostas contraditórias dos videntes:
- E nas orelhas que tem?
Resposta do Francisco:
- As orelhas não se vêem, porque estão cobertas com o manto.
Resposta da Jacinta:
- Não sei, porque também não se vêem as orelhas.
Resposta da Lúcia:
- Usa umas argolas pequenas. (26)
Somente ao lançar a 5ª edição de sua estória que o Jesuíta deu-se pela "fonsecada" e, em nota de rodapé, á página 78, traz o "desmentido" da Lúcia - os outros visionários já morreram - desejo de remendar a contradição: "Não lhe vi argolas".
Uma outra incoerência nesses questionários a revelar a trapaçaria é que a Senhora em sua primeira "aparição" informara que somente diria quem era e o que queria no dia 13 de outubro. Ora, nesse inquérito o Formigão pergunta, logo de saída, à Jacinta e à Lúcia.
- Tens visto Nossa Senhora no dia 13 de cada mês desde maio para cá?
Ele já sabia antecipadamente que a "visão" iria dizer:
- Eu sou Nossa Senhora!
Essa madame deveria, já que não é do céu, mas da parentela do bispo de Leiria, ir à escola aprender a língua. Onde já se viu essa barbaridade: Eu sou Nossa Senhora! Por que não disse: Eu sou a vossa Senhora?
Uma outra observação no interrogatório formiganiano que nos leva a constatar a maroteira é que, não aos outros, mas somente à Lúcia, perguntou:
Quantas vezes já te apareceu?
Cinco vezes, sendo uma em cada mês.
É! Francisco e Jacinta somente viram a linda jovem uma vez!
Ainda outra contradição na resposta da seguinte pergunta à Lúcia:
- A Senhora mandou-te aprender a ler?
- Mandou, sim, da segunda vez que apareceu.
Verificando-se   todavia,   irá  se   constatar   que   a Senhora mandou a menina fazer semelhante coisa em sua primeira visita, aos 13 de maio, e não da segunda vez.
Tantas sandices em poucas páginas nas obras fatímicas... Tantas desafinações nos interrogatórios e nas respostas movem qualquer pessoa de bom senso a considerar a Senhora de Fátima como grossa patifaria.
Aproximava-se célere o dia 13 de outubro em que se daria o desfecho das "aparições" com o acontecimento da estrondosa maravilha prometida pela Senhora.
A padralhada,  em expectativa invulgar, ansiava pelo feliz êxito de tudo, porquanto, como conseqüência, poderia lhe advir prestigiosa popularidade e chance de maquinações políticas para superar sua posição humilhante no regime republicano.
Na ante-véspera da grande data, volta o Formigão à carga. Necessitava falar à Lúcia e exercitar-lhe a memória na conformidade com o script pré-estabelecido.
Esta visita dá-lhe oportunidade para publicar outros interrogatórios fantasiosos porque não expressam a realidade das suas entrevistas.
Mesmo assim revelam eles o embuste. O diabo, por muito que faça, não consegue esconder o rabo...
Queria encenar a necessidade de se atender o pedido da Senhora no sentido de se edificar uma capela que deveria se construir em ponto de referência da nova devoção, pois os padres urdiam organizar romarias em futuro mui próximo. As célebres romarias que lhes rendem muitas riquezas e agrilhoam os carolas às suas feitiçarias!
Ouve cá, Lúcia, - pergunta-lhe o finório sofisticador do Liceu de Santarém - disseste-me há dias que o dinheiro oferecido pelo povo fosse levado para a igreja da freguesia em dois andores. Como é que se adquirem os andores e quando é que eles devem ser conduzidos para a igreja?
Os andores compram-se com o dinheiro oferecido e serão levados nas festas da Senhora do Rosário.
E informa nesse "diálogo" que a capela deve ser construída no local das aparições (27).
A madame da Cova, entretanto, não se identificara ainda!
O pe. Formigão denunciava impaciência frenética em divulgar a estória intercalando-a de interrogatórios para lhe dar mais "autoridade" e impressionar o público numa pretensa demonstração de autenticidade.
Jamais se deram essas inquirições nos moldes das publicadas!
Suas conversas com a Lúcia versaram sobre outros aspectos, aliás, irreveláveis.
Porém,  nesses inquéritos fictícios acontecem contradições escandalosas que movem qualquer pessoa de reta intenção e honesta a descrer da Senhora de Fátima. Lendo-se as obras aprovadas pelo clero sobre as "manifestações" celestiais da Cova da Iria se descobre serem elas um grosseiro "conto do vigário". Nesse suposto diálogo de 11 de outubro, teria perguntado o Visconde de Montelo à filha do Abóbora:
- Disse-te que rezasses pela conversão dos pecadores?
- Não disse: mandou-me só rezar à Senhora   do Rosário para que acabasse a guerra. (28)
Ora vejam! Esqueceu-se o Formigão que a Senhora, em sua terceira "aparição", inculcou-lhes de novo que se sacrificassem pelos pecadores e dissessem muitas vezes, em especial quando fizessem algum sacrifício: Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação das injúrias cometidas contra o imaculado coração de Maria". (29)
Mandou rezar ou não?
Na 5a. Edição do seu livro: "Nossa Senhora da Fátima", o Fonseca dá uma de jesuíta em nota explicativa no rodapé da página 84 que não aparecia nas edições anteriores. Depois de haver descoberto esta outra contradição dentre as muitíssimas, como temos verificado, traz esta jesuitada, supostamente, de Lúcia: "Verdadeiramente pelos pecadores tinha-nos mandado fazer sacrifício".
Ó Lúcia! Estás tão desmemoriada! A Virgem mandou-te fazer sacrifícios pelos pecadores, sim! Mandou-te, outrossim, rezar! Até te ensinou aquela rezita... Deste outra de jesuíta...

E o fim da guerra?

Na presunção dos empreiteiros da maroteira a demonstração de serem sobrenaturais os "fatos" da Cova da Iria estava no anúncio antecipado do término da Guerra.
Eles percebiam prenúncios de paz através do noticiário da imprensa.
Sucediam-se as "aparições" e aqueles sintomas de fim da Guerra se diluíram...
Afinal, já haviam principiado a patuscada... Mister se fazia levá-la avante e confiar nos bons fados.
Estupefatos, porém, ouviam dos lábios de Lúcia haver-lhe comunicado a Senhora o término da Guerra naquele mesmo dia e o regresso breve dos soldados aos seus lares.
Os pais, as mães, as esposas, as irmãs retiraram-se da Cova da Iria encharcados pela água da chuva, mas com o coração alegre, exclamações de alívio e os lábios cheios de sorrisos com a notícia formidável.
Lúcia não fora fiel ao script! Deveria ter dito que a Senhora lhe informara que, em breve, se acabaria a Guerra.
Mas enganou-se a pobrezinha! E disse: A Guerra acaba ainda hoje... A Guerra terminou; os soldados vem já a caminho de casa.
Que maçada!
Suponhamos ainda que a menina tivesse repetido as palavras do ensaio: A Guerra terminará dentro em breve...
Igualmente a Senhora celestial ter-se-ia enganado!
De 13 de outubro de 1917 a 11 de novembro de 1918 (data do fim da Primeira Guerra Mundial) não vai apenas um breve numa guerra de quatro anos!
É outra circunstância para te deixar desapontado, meu caro devoto de Fátima.
São tantas a evidências de malandragem nessa estória que bem merecem rabo de asno os seus fãs!
Aterrorizou-se o Formigão, agora sumamente irritado com o olhar cínico de gozador do Marques Ferreira, o ex-diretor espiritual da "vidente".
Tudo se dera mais ou menos a contento apesar da chuva... Afinal, o Benevenuto cumprira o seu encargo.
E o Formigão? O que fazer para equilibrar a bambochata? Daí a horas aquele povo saberia que a carnificina prosseguia nos campos de batalha:
Super-excitado, nessa tarde mesmo, foi avistar-se com a Lúcia.
- Raios me partam, grunhia o Visconde. A Lúcia desafinara com o que fora  ensaiado, pois deveria anunciar que a Senhora dissera acabar-se brevemente a Guerra e não hoje!
E transferindo por ódio e vingança a responsabilidade ao vigário de Fátima:
- O asno  do  Marques Ferreira deveria ter escolhido outra. Não essa tapada filha do Abóbora... E a qualificou com um adjetivo indecoroso.
Amaldiçoando os outros e recriminando a vidente, chegou à casa de Da. Maria Rosa.
Em Aljustrel, o povo delirava com a estrepitosa notícia que voava de boca em boca para maior descrédito futuro do clero já desmoralizado nos maiores centros.
Controlou seus nervos à for da pele. Complicaria a situação se demonstrasse aguado diante da menina já consciente da asneira praticada.
Entrou na conversa com perguntas banais:
O Menino Jesus estava em pé ou ao colo de São José?
Perguntaste à Senhora o que querias?
Perguntei... respondeu-lhe. E, num desabafo de franqueza e desapercebida do iminente perigo, prosseguiu:
Disse que Nosso Senhor está muito ofendido... que a Guerra acabaria hoje e que esperássemos os nossos soldados muito breve. (30)
Furibundo com a rudeza de Lúcia, coruscou-lhe dois olhos raiventos e saiu como uma rajada a avistar-se com a Jacinta. Se ao menos ela não fosse na onda da prima...
Para aumento do seu desespero, porém, a menina confirmou a informação da Lúcia:
- A Guerra acabaria hoje. (31)
Com voz áspera e ameaçadora, insiste:
- Ouviste-lhe dizer quando vinham os soldados?
- Não ouvi, retruca-lhe trêmula a pobrezinha.
Chamou, então, o Francisco. Amuado, não quis prosa com o pe. Formigão.
Ouviste que a Senhora disse?
Não ouvi nada!
- Quem te disse o segredo? Foi a Senhora?
Demonstrara-se terno ao lhe formular estas perguntas. As quais lhe respondeu:
- Não! Foi a Lúcia! (32)
Acabrunhado, estarrecido e arrasado foi o pe. Formigão procurar os colegas-empreiteiros. As várias entrevistas mais o irritavam.
Como velhas comadres, confabulavam seus cúmplices. O Benevenuto dizia-se com missão liquidada. O Marques Ferreira, com sintomas de dor de cotovelos, lavava as mãos. O Abel reconhecia-se feliz com a atuação de Rosa Correia da Silva Bacelar.
- Que se danasse o Formigão!, sentenciavam os sócios charlatães. Viam a viola em cacos e pretendiam esgueirar-se na sombra do Visconte de Montelo.
Bufava de raiva senão quando lhe sobreveio à lembrança o seu amigo, pe. José Ferreira de Lacerda, vigário da paróquia de Milagres e diretor do semanário católico "Mensageiro".
Envolvera-se este jornal em intensíssima propaganda das aparições que seu diretor tão comprometido não poderia se esquivar de livrar o seu colega de tamanho enrasque.
E enquanto o Formigão no seu refúgio curtia amarguras sobre amarguras ao tomar conhecimento das operações bélicas que se repetiam no cenário da Guerra, o Lacerda visitava e palestrava com a caçula do Abóbora, tentando mostrar-lhe a situação terrível que se encontrava a religião no País e como se agravaria se ela teimasse em sustentar aquela informação sobre o fim da Guerra.
Mesmo analfabeta, mostrava-lhe jornais que continuavam a trazer noticiários trágicos.
Supondo estivesse amainado o terreno, no dia 19 do mesmo mês, voltou o pe. Formigão a inquirir os videntes. Conseguiu fazer-se acompanhado das testemunhas: Leonor Avelar Constâncio, uma matrona de caracóis brancos, estampa de severidade e altivez, Maria Cândida de Avelar e Silva e suas duas filhas, Laura e Maria (33).
Essas papa-hóstias testemunhariam diante dos carolas as novas declarações das crianças relativas ao fim da Guerra. Urgia harmonizar as informações da aparição com as manchetes da imprensa...
Já os céticos levavam a Senhora à rua da chacota...
E o testemunho daquelas respeitáveis senhoras piedosas poderia dissolver qualquer nuvem de dúvidas entre os devotos.
Nesta altura da tempestade todas as tentativas de salvar a farsa acalentavam esperanças...
A menina Lúcia não se simpatizara com o Formigão. O Marques Ferreira se demonstrava afetuoso em suas expressões e carinhoso nos seus gestos. O Visconde se expressava com rudeza...
O pe. Lacerda informara ao seu colega excitado da possibilidade de sucesso nessa entrevista. Ao revê-lo, porém, a vidente se sentiu humilhada e se tornou casmurra.
O clérigo Formigão, todavia, tateando gestos brandos e balbuciando palavras amáveis, procurava preparar um ambiente cordial na   esperança de, ali diante das beatas-testemunhas de faces formalizadas, ouvir dos lábios de sua interlocutora a afirmação consentânea com os ensaios.
- No dia 13 do corrente Nossa Senhora disse que a Guerra acabava nesse dia? Quais foram as palavras que empregou?
Pasmo e contra todas as suas previsões de êxito por parte do seu colega, pe. Lacerda, ouviu da teimosa Lúcia:
Disse assim: a Guerra acaba ainda hoje: esperem cá pelos militares muito breve!
Ela disse: "Esperem cá pelos militares", ou: "Esperai cá pelos vossos soldados"?  jesuiticamente insistiu o pseudo-Visconde.
- Disse: "Esperem cá pelos militares", confirmou a menina turrona.
O padre no clímax do desapontamento diante das matronas, tamborilando com os dedos trêmulos sobre a mesa, tenta argumentar:
Mas, olha que a Guerra ainda continua!... Os jornais noticiam que tem havido combates depois do dia 13. Como se explica isto, se Nossa Senhora disse que a Guerra acabou nesse dia?
Não sei. Só sei que lhe ouvi dizer que a Guerra acabava no dia 13. Não sei mais nada!
Esboroou-se a "evidência" das manifestações do sobrenatural na Cova da Iria!
Nem o trabalho do pe. José Ferreira de Lacerda fizera a menina teimosa entender a situação! Continuava a bambochata em ritmo de tomara-que-caia.
Os três padres autores da farsa sobre os quais recaiam suspeitas por parte do povo de Fátima e do vilarejo Aljustrel, onde residiam os videntes, não podiam mais aparecer. Lúcia, então, supondo-se certa fazia finca-pé naquela informação contrária aos informes da imprensa sobre a continuação da Guerra.
O pe. Formigão não se dá ainda por achado e insiste:
- Algumas pessoas afirmam que te ouviram dizer nesse dia que Nossa Senhora tinha declarado que a Guerra acabaria brevemente. É verdade?
- Eu disse tal e qual como Nossa Senhora tinha dito!
O sacerdote inquiridor exaltou-se, atirando à vidente, pelos olhos, dois relâmpagos de ira. Excedia-se a menina na obstinação.
As matronas presentes, estupefatas com a exaltação de "sua reverendíssima", interferem com palavras serenas.
Mas as afirmações categóricas da Lúcia punham em risco de falência o próprio poder da Virgem Maria, tão distante e alheia dos informativos dos jornais!
As palavras calmas das madames levaram o padre a serenar-se. E, com modos macios, retorna falar à vidente.
- No dia 27 do mês passado fui à tua casa falar contigo, lembras-te?
Ainda de fisionomia carregada. Lúcia, mostrando indiferente, responde:
Lembro-me de o ver cá!
Pois, nesse dia, continua o inquiridor, disseste-me que Nossa Senhora tinha dito que no dia 13 de outubro vinham também São José e o Menino e que, depois disso, brevemente acabaria a Guerra, não nesse dia!
Enfastiada, e amedrontada e para se livrar de tanta inquirição, responde-lhe:
- Não me recordo já bem como ela disse! Podia ter dito isso: não sei. Talvez não entendesse bem a Senhora! (34)
Numa alegria convulsa, o sacerdote brada para as testemunhas:
- Ouviram?! Assim é que está certo! E assim mesmo é que a história vai escrever-se e correr mundo!
Esfregando agora as mãos de contente por haver Lúcia consertado suas declarações perante as testemunhas, prosseguiu o eclesiástico:
- No dia 13 do corrente, mandaste ao povo que olhasse para o sol?
Coitada da Lúcia que ficou desmemorizada e respondeu:
- Não me lembro de assim fazer!
Referiu-se o padre aos castigos que seriam infligidos ao povo se não se emendasse dos seus pecados ao que Lúcia replica:
- Não me lembro se ela disse!
Primeiro, tão categórica em suas afirmações. Agora, tão lacônica e esquecida... Pudera!!!
Entre surpreso e desapontado com tamanha mudança da menina, o sacerdote interpela-a:
No dia 13 não tinhas dúvidas, como agora, acerca do que a Senhora te disse. Como se explicam as tuas dúvida de hoje?
Nesse dia, lembrava-me melhor: tinha sido há menos tempo. (35)
Menos tempo... Esqueceu-se assim num prazo de seis dias...
As testemunhas ouviram dos lábios da vidente que não se lembrava haver-lhe dito a Senhora que a Guerra acabaria no dia 13 do mesmo. E isto é que importava ao padre que pretendia informar aos católicos que a Lúcia não dissera tal coisa e que os devotos da Cova ouviram mal.
Satisfeito com esse resultado e acompanhado das madames-testemunhas foi interrogar Jacinta que, supunha também, fora preparada pelo seu colega Lacerda.
Seu susto não foi menor quando a pequena lhe informa no mesmo tom categórico da companheira e mestra:
- Venho aqui para te dizer que não ofendam mais a Nosso Senhor, que está muito ofendido: que se o povo não se emendar acaba o mundo!
E, demonstrando ainda uma vez a sua subserviência à Lúcia:
- A Lúcia ouviu melhor do que eu o que a Senhora disse!
O clérigo, todavia, não se conformava com a contradição dos depoimentos das duas videntes. Queria depoimentos harmônicos, cujas palavras se calhassem.
E para espanto das madames-acompanhantes, a Jacinta, mais fácil de língua que a sua colega de visões, afirmou:
- Nossa Senhora disse que, quando chegasse ao céu, acabava a Guerra.
Puxa! Que viagem comprida! A Guerra foi acabar-se a 11 de novembro de 1918...
Além de se contradizer com Lúcia, contradiz-se consigo mesma.
Mas a Guerra ainda não acabou, observou-lhe o padre.
Acaba! Acaba!
- Mas, então, quando acaba?, retruca o aflito professor de seminário.
- Cuido que acaba domingo! (36)
Ameaçava afundar-se o navio de casco tão podre... A habilidade do Formigão, pelo menos com Jacinta, não obtivera betume suficiente para calafetar-lhe os rombos...
De que recursos lançariam mãos os empresários da falcatrua?
Desejaram organizar uma concentração no "local milagroso" no dia 13 de novembro. O grupinho de beatas que lá foi deixou-os, porém, cabisbaixos. Decidiram intensificar a propaganda, sobretudo nos púlpitos e mais ainda nos confessionários convidando e impondo, como penitência sacramental, a ida à Cova da iria aos 13 de dezembro.
Entrementes, relatava meu pai, testemunha presencial, os cidadãos Machado Toledo, Augusto José Vieira e Conceição Vasques arregimentaram o povo para um comício de protesto na Cova a realizar-se em 9 de dezembro. O clero das redondezas promoveu uma tremenda pancadaria saindo feridos os seus promotores. A reunião, comparecendo enorme massa popular, aconteceu no Centro Republicano de Vila Nova de Ourem no dia 12, quando os oradores foram vivamente ovacionados.

Padres em sobressalto

Com muita dificuldade a patranha fatímica ia se infiltrando entre as velhas beatas e os broncos.
O  clero  português,  acuado pela República, via-se agora numa enrascadela de todos os diabos. Nem o recolher-se ao silêncio lhe valia, pois sua adesão fora franca ao propagar aqueles "fatos religiosos".
Em todas as circunstâncias em que é envolvida, a hierarquia católica joga com dois bicos. Quando destoa a intervenção de algum clérigo, alega-se ser de responsabilidade pessoal e a "igreja" não tem nada com isso. Quando da certo é a "igreja" que deve ser glorificada e prestigiada.
Seguindo esse velho estratagema, o quase octogenário cardeal Mendes Belo publicamente protestava contra as aparições e oficialmente, pela sua cúria metropolitana, interditava qualquer participação do clero.
Os padres testas-de-ferro, todavia, com sua eminentíssima anuência, agiam na sombra.
O pe. Manuel Marques Ferreira, sentindo sobre si a maior carga de responsabilidade por se darem esses fatos em seu território paroquial, como resultado de muitas de cargas emocionais, ficara com o seu sistema nervoso abalado e foi-se valer da perícia clínica do médico Luís Cebola a quem relatou tudo desde a reunião de Torres Novas em 1915.
Com os nervos descontrolados impossibilitara-se de continuar participante da maroteira. Além disso, já se desaviera, em várias oportunidades, com seus parceiros e a presença do Formigão era-lhe humilhante. Pressionado por estas circunstâncias retirou-se inclusive de Fátima, a sua paróquia, sendo, em 1919, substituído peia seu primo pe. Antônio Marques Ferreira
Em 1918. para alivio do cardeal Mendes Belos, instalara-se o bispado de Leiria, assumindo-lhe o sòlio, o bispo José Alves Correia da Silva, tio de Rosa Correia da Silva Bacelar, a virgem de 13 de maio.
Quando ferviam os comentários sobre o caso da Cova, certa feita, viajava de irem o bispo onde se encontrou com o seu antigo companheiro de adolescência, o Dr. Egas Moniz, nessa ocasião já afamado médico psiquiatra, celebrizado, posteriormente, com o prêmio Nobel. Seu testemunho, portanto, é valiosíssimo.
Manifestou-lhe o prelado as suas preocupações sobre  a  Cova, em que "se  encontravam  envolvidos  alguns padres" e recriminou a posição dúbia do Marques Ferreira e a locacidade do Benevenuto.
- Compreendes - continuou o bispo - a minha preocupação e receio de que tudo redunde em fracasso, ou melhor, num desaire para a igreja de que sou representante.
E recordou ao médico o caso do santuário de Lourdes, em Torres Novas.
- O pe. Benevenuto fora excessivo em sua exploração da crendice popular e, em conseqüência, os devotos revoltados arrasaram-lhe o templo, recordou o Dr. Egas Moniz.
- Se me tivesse sido dado oportunidade, não teria eu permitido a participação do Benevenuto. E num desabafo: É um imprudente! E mais imprudente ainda é o Formigão. Com sua mania de grandeza, nem sei o que fazer dele!
Recorde-se que o bispo armara-se de tantas prevenções contra o pseudo-Visconde de Montelo, o Formigão, que não o recebeu com o padre de sua diocese, tendo-se ele encardinado no bispado de Bragança.
O psiquiatra brandamente procurou tranqüilizar o coração angustiado do bispo:
- Dize-me: isso está limitado à ação do clero local? O povo já não colabora?
Informou o prelado que, apesar dos pesares e não como era de se desejar, a afluência popular se tornara presente. E o sagaz Dr.  Egas Moniz, satisfeito de ouvir do seu   antigo colega essas declarações observou-lhe:
- Uma vez que o povo já começa tomar conta do caso, sossega, porque só ele poderá desfazer o que está feito. E sabes bem que não o fará na tua diocese, uma das mais devotas da Nação. Pelo que me dizes, o povo, ao menos em parte, já proclamou a aparição, já lhe vai erguer templo e acorre ao lugar. Tu preveniste o clero numa pastoral para que não tome partido pró ou contra. Fizeste bem. Salvaguardaste o prestigio da igreja e a hipótese de qualquer fracasso. E agora, caro amigo, lá vai a minha profecia: dentro de pouco tempo, terás de sancionar a voz do povo, e tu próprio acabarás por presidir e orientar os negócios de Fátima.
Dito e acontecido! Profetizado e cumprido!
Cessaram os temores do bispo que se transformou no chefe do grande investimento como veremos.

Os empreiteiros não querem ser coveiros da cova

Todos os recursos deveriam ser empregados, enfim, para se evitar o fracasso total da empresa.
Faltava ao pe. Benevenuto perícia para se manter em contato com os videntes. O bispo não se sintonizava com o Formigão e o Marques Ferreira se havia com seus nervos.
As crianças não podiam ficar largadas. Olhos de manipansos deveriam espreitá-las...
Além do mais, seus familiares não lhes propiciavam clima favorável à sustentação do embuste.
O pai de Lúcia, o Abóbora, comparava os fatos" da Cova como "chistes de comadres ociosas, que passam o tempo à soalheira,, a descobrir as mazelas do próximo".. E, desbocado, juntava tudo numa única palavra: "Mulheiro" (37).
Ao encontrar-se certa tarde com um beato crédulo, desabrido, referindo-se às videntes recriminou:
- Elas são umas estúpidas, e você, se lhes dá crédito, é tão estúpido como elas.
Da. Maria Rosa não se deixava vencer pelo marido nas censuras à filha. Perguntando-lhe uma amiga:
- Então, tia Maria Rosa, que me diz das visões de sua filha?, responde:
- Não sei, parece-me que não passa duma intrujona, que traz meio mundo enganado! (38)
E ao "seu vigário" repetia:
- Esta menina é o escárnio de toda a vizinhança!
Por seu turno, as irmãs chamavam-na:
- Santinha de pau carunchoso! (39)
Da. Olímpia de Jesus, mãe de Francisco e Jacinta, se desabafava:
- Sempre consegui que meus filhos dissessem a verdade, e agora hei de deixar passar uma coisa destas na mais nova? Ainda se fosse  uma  coisa  mais  pequena, mas uma mentira destas, que trás ai enganada já tanta gente?!
E voltando-se para a menina, decididamente:
- Dá-lhe as voltas que quiseres: ou desenganas essa gente, confessando que mentiste, ou eu te fecho num quarto, onde não possas ver nem a luz do sol. (40)
O Abóbora revoltara-se porque a gente que lá ia estragara toda sua roça e espezinhara seus repolhos e suas couves. A esposa fazia-lhe coro aos queixumes e voltando-se à filha:
- Tu agora, quando quiseres comer, vais pedi-lo a essa Senhora!
E as irmãs:
- Agora só havias de comer o que se cultiva na Cova da Iria!
Os padres empreiteiros da pantomina souberam a notícia de que devastada a roça e a pastagem, o Abóbora e seu cunhado foram obrigados a vender parte dos rebanhos. A família de Lúcia que era remediada empobreceu! (41)
Tudo conspirava no sentido de dificultar as videntes a reserva das maquinações e o sigilo do embuste.
Como vampiro, nesta conjuntura, surgiu outro comparsa na pessoa do pe. Faustino José Jacinto Ferreira, vigário de Olival.
Um abismo chama outro abismo... Um crime atrai outro crime...
A patuscada entrara no seu returno com cargas de tragédia!
Nos apuros de tantas circunstâncias desfavoráveis, os manipansos se viram na contingência de praticar naquele tremedal de iniqüidades, outro crime: - eliminar os videntes!
Sim! A vida das crianças comprometia a causa. Bastaria que dissessem a verdade e o embuste estaria destruído!
Então, a estratégia aplicada foi movê-las à debilidade orgânica extrema, que lhes levaria à caquexia. Conseguiram esta situação levando-as à prática de rudes penitências.
Imbecilizadas buscariam os sacrifícios mais atrozes...
A fim de narcotizá-las, é verdade que desde o princípio da montagem  da  patuscada, o pe. Marques Ferreira levou-as ao exercício de atos de penitência. Agora, já amoldadas à mentalidade da "Missão Abreviada", o trabalho consistia em aplicar doses mais consistente.
Encarregou-se desta tarefa o novo partícipe da gang, o pe. Faustino, a respeito de quem posteriormente, escreveria Lúcia. "Ensinou-nos o modo de dar gosto a Nosso Senhor em tudo e a maneira de se lhe oferecer um sem-número de pequenos sacrifícios. E nos aconselhava: se vos apetecer comer uma coisa, meus filhinhos, deixai-a e, em seu lugar, comei outra e oferecereis a Deus um sacrifício; se vos apetecer brincar, não brinqueis e oferecei a Deus outro sacrifício" (42).
Lúcia sem se aperceber a que propósito servia, incitava seus primos à obediência cega ao padre que ela respeitava como a um diretor espiritual (43).
- Nosso Senhor quer que a gente faça o que o senhor vigário nos manda! (44)
Como agente da gang eclesiástica incutiu pavores tremendos aos primos. Contava-lhes que a " Virgem de Fátima mostrara-lhe o inferno, um mar de fogo, que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados nesse fogo, os demônios e as almas, como se fossem    brasas transparentes... Os demônios   distinguiam-se   por formas horríveis e asquerosas   Esta visão causou profundo abalo na pequena Jacinta ... Quando a viam meditativa, perguntavam-lhe no que pensava. Respondia sempre:
- No inferno e nos pecadores. (45)
Essas conversas da Lúcia fizeram-lhe crescer na alma a horrível impressão de ver continuamente o inferno a ponto de se definhar.
"Com freqüência sentava-se pensativa e começava a dizer:
- O Inferno! O inferno!... que pena eu tenho das almas que vão para o inferno! E as pessoas lá vivas a arder como a lenha no fogo!
E tremendo ajoelhava de mãos postas a rezar..."(46) Com o Francisco idêntica situação se passava. Certa   vez   afastou-se para rezar...   De   improviso, levantou a voz a chamar a Lúcia que lhe acudisse. Foram ambas e acharam-no a tremer, de joelhos, sem forças para se levantar.
- Que aconteceu?, perguntam alarmadas.
- Havia aqui um grande monstro, daqueles que estão no inferno, e que mandava fogo pela boca. (47)
A terrífica visão do inferno não largava aquelas pobres crianças, vítimas da sanha dos vampiros eclesiásticos. E quanto mais se aterravam, mais o pe. Faustino se desdobrava em suas orientações.
Referindo-se a Jacinta, o jesuíta Fonseca afirma: "A vista do inferno tinha aterrado de tal maneira,» que todas as penitências e mortificações lhe pareciam nada, a fim de preservar alguma alma de cair nele" (48).
Pobres crianças! Não sabiam ser o Sangue de Jesus Cristo que nos purifica de todo pecado, o único recurso capaz de libertar o pecador da perdição eterna!
Jacinta, para gáudio dos manipansos embatinados, buscava toda espécie de sacrifícios embalada por aquela ansiedade de livrar do inferno os pobres pecadores.
"Quando, por mortificação, não queria comer, a prima lhe dizia:
- Jacinta! anda! come!
- Não! ofereço este sacrifício pelos pecadores que comem demais".(49)
"Um dia de muito calor e que estavam com muita sede, Lúcia conseguiu uma caneca d'água. Ao ser apresentada ao Francisco, disse:
- Não quero beber!... Quero sofrer pela conversão dos pecadores! bebe tu, Jacinta!
- Também quero oferecer o sacrifício pelos pecadores.
Deitei, então, a água na cavidade de uma pedra, para que a bebessem as ovelhas e fizemos o sacrifício de não merendar. Em poucos minutos, estava o nosso farnel distribuído pelo rebanho, e assim passamos o dia de jejum, que nem a do mais austero cartunho" (50).
"As vezes, mais que sacrifícios, eram verdadeiros heroísmos! "(51).
Divertindo-se numa ocasião a apanhar flores, a Jacinta picou-se inadvertidamente numas urtigas. Sentindo a dor, apertou-as mais nas mãos, dizendo aos companheiros:
- Olhem ! olhem! outra coisa com que nós podemos mortificar:
E adotaram mais este gênero de sacrifício de se golpearem fazia-nos, por vezes, sofrer horrivelmente. (53)
Que obsessão!
Passados alguns dias, conta Lúcia, íamos com as nossas ovelhas por um caminho, encontrei um bocado de corda de carro. A brincar, atei-a a um braço.Não tardei a notar que a corda me magoava, e disse a meus primos:
- Olhem! isto faz doer... Podíamos atá-las à cintura e oferecer a Deus esse sacrifício.
As pobres crianças aceitaram logo a minha idéia e tratamos, em seguida de a dividir entre os três... Ou pela grossura e aspereza da corda, ou porque a apertássemos, demais, este instrumento fazia-nos, por vezes sofrer horrivelmente (53).
Combaliam-se Francisco e Jacinta a olhos vistos.
No pobrezinho do rapazito, muito debilitado pelos jejuns seguidos e pela sede torturante que o desidratava, as conseqüências se manifestaram por primeiro.
"... Havia dias em que mal podia andar, como confessava ao saírem para a escola:
Dói-me tanto a cabeça! Parece que vou a cair...
Então não venhas: Fica em casa.
Não fico! Quero antes ficar na igreja com Jesus escondido, enquanto tu vais à escola". (54)
Sem haver completado os onze anos de idade, no dia 04 de Abril de 1919, vitimado pela tuberculose que o prostrara no leito durante cinco meses, morreu Francisco.
As duas primas, chorosas, trajaram-se de luto fechado para expressarem a tristeza pungente que lhes ia n'alma (55). E os padres que continuavam a fazer propaganda da impostura, sem comiseração se alegraram com o sucesso do seu plano de eliminar os videntes.
Já se fora o primeiro! E há meses os pulmões de Jacinta se corroíam também pela tuberculose oriunda da extrema debilidade, resultado dos longos jejuns.
Os padres que apregoavam a sobrenaturalidade das aparições da Cova da Iria jamais tomaram qualquer interesse por suavizar os padecimentos das suas desgraçadas vítimas. Interessava-lhes a morte delas e nem supunham salvar as aparências, conforme, via de regra, adotam.
Enferma e acamada desde de Fevereiro, somente em Julho que por insistência de um médico, é que foi, pelos pais, transportada para o hospital da Vila Nova de Ourem.
Nesse hospital o clero exercia grande influência. E as freiras manobradas  não ofereceram à criança devida assistência, o que lhe veio a agravar o estado e provocou-lhe uma ferida no peito. O próprio jesuíta Fonseca, sem perceber revela: "Muito provavelmente por falta da necessária higiene no fazer dos curativos, produziu-se uma infecção progressiva que lhe causava um novo martírio, cada dia mais atroz" (56).
Falta de higiene no hospital... Não é o cúmulo da barbaridade? E pensar-se que estava envolvido um dos videntes que tanto prestígio e riqueza iriam carrear para a hierarquia romanista.
É nesse estado desesperador, a Jacinta foi novamente levada para sua casa em fins de Agosto.
Em meados de Janeiro de 1920, foi à Fátima o médico Eurico Lisboa. Não quis a princípio, dar crédito as informações de populares sobre a vidente enferma. Para comprovar os informes decidiu chegar até Aljustrel e visitá-la.
Alarmado com a gravidade do estado da menina e muito mais revoltado com o seu abandono pelo clero explorador da Cova da Iria, empenhou-se em levá-la para a capital.
Chegando a Lisboa supunha encontrar uma casa onde pudesse colocar a Jacinta. Nenhuma porta se lhe abriu!
É de se pasmar! Por que terá acontecido isto!
Não é difícil de desvendar o mistério...
A organização eclesiástica do romanismo é a mais perfeita do mundo! A internacional negra funciona mesmo!
O bondoso médico jamais supunha encontrar tanta dureza de coração entre os católicos... Hoje, os beatos tontos andam a cata de relíquias da pobrezinha e enviam para o processo canônico de sua canonização em andamento o relato fantasmagórico de prodígios.
Enfim, o Dr. Eurico conseguiu abrigar a doente no Orfanato de Nossa Senhora dos Milagres, a rua Da Estrela, 17.
Nessa conjuntura, os vampiros religiosos tiveram a colaboração decidida da superiora da casa a freira Maria da Purificação Godinho, que se comprometera não permitir à criança conversar com estranhos e vedar-lhe toda e qualquer visita dessas pessoas.
Mais do que nunca surgira a necessidade de se evitar revelar-se a Jacinta toda a verdade do embuste.
O pe. Faustino, de Olival, ficara distante. E para substituí-lo apareceu o pe. Pereira Reis, primo do meu pai, que a acompanhou em seus últimos dias de vida.
E, no dia 02 de Fevereiro, transportada para o hospital de Da. Estefânia, foi se preparar para uma intervenção cirúrgica.
Descreve-lhe o estado lastimável um dos manipansos:
"A pequena está esquelética. Os braços são de uma magreza assombrosa. Desde que saiu do hospital de Vila Nova de Ourem, onde, durante dois meses se esteve tratando sem resultado, anda sempre a arder em febre. O seu aspecto inspira compaixão... Pobre criança! Ainda o ano passado cheia de vida e saúde, e já hoje, como uma flor murcha, pendendo à beira do sepulcro! A tuberculose, depois de um ataque de bronca-pneumonia e duma pleurícia purulenta, mina-lhe desapiedadamente o organismo" (57).
No dia 10 de Fevereiro, foi operada. E no dia 20 do mesmo mês do mesmo ano de 1920, sempre vigiada pelo pe. Pereira Reis, veio a falecer sem haver completado dez anos de idade.
Liquidado outro vidente! Um risco a menos para a gang!
E a Lúcia? resistia às penitências! Ou melhor, mais astuta sabia precaver-se.
Ótimo para os padres! No futuro ela "escreveria" cartas ajustando declarações contraditórias...
Num dia de Maio de 1921, porém, "desapareceu também inesperadamente da terra natal" (58). Arrebataram-na à força dos braços paternos!
Somente muito mais tarde é que se veio descobrir que ela se encontrava no convento das freiras dorotéas, em Tuy, na Espanha, onde viveu como simples irmã leiga, encerando assoalho, lavando pratos e roupas...
O pe. Luis Fischer, professor em Bamberg, na Alemanha que se tornou o grande propagandista da Senhora de Fátima em sua Pátria, foi, em Maio de 1929, visitar o local das aparições. No empenho de colher todos os informes possíveis para divulgar notícias bem fundamentadas, resolveu entrevistar-se com a vidente prisioneira.
Ouçamo-lo em suas próprias palavras:
"Eu tinha especial interesse em falar com Lúcia. Desejava beber os fatos na sua própria origem para assim lhes reforçar a autoridade junto dos meus compatriotas dotados, como é sabido, de espírito crítico. Mas, apesar das recomendações que trazia comigo, e que não era para se desprezar, sobretudo muito amável do cardeal primaz de Toledo, foi-me declarado que me era absolutamente impossível  falar  com Lúcia. Que isto   sirva de prevenção aos meus compatriotas alemães que, em peregrinação à Fátima passem por Tuy com este intuito" (59)
Prevenção somente para os Alemães? Para todos!!! Porque ninguém vê e fala com Lúcia. Nem munido das melhores recomendações e provido dos melhores propósitos...
Em 1948, o Papa Pio XII fê-la transferir-se para o convento das carmelitas descalças, em Coimbra, cuja ordem se caracteriza pelo absoluto e permanente silêncio.
Enquanto os seus primos mortos estão sepultados em túmulos, Lúcia, em vida, está enterrada num convento.
Perinde a cadáver!!! Sim, feita um cadáver...

Depois de uma bicanca um rito rato de parceria com o clero manipanso

Em ritmo de balança - mas - não - cai a geringonça ia sendo escorada de um lado e de outro.
- Impossível deixar como está para se ver como fica judiciosamente sentenciava o Benevenuto.
A toca do pe. Abel Ventura do Céu Faria, cujo papel na bambochata fora limitadíssimo, a viajar em visitas aos colegas estimulando-os a organizar peregrinações e enviar devotos ao lugar fatímico. No caso nada melhor e de resultados comprovados senão a isca dos milagres. E vá forçar a Senhora a fazê-los... Sempre à distância! Em Leiria, ouvia-se de um ocorrido em Évora. Nesta localidade, a informação era de um em Lisboa. Em Bragança se narrava de um prodígio de cura em Castelo Branco. Em Castelo Branco, falava-se d'outro na Guarda... E como fogo de rastilho assoprado pelos padres a narrativa de maravilhas fantásticas sacolejava a opinião pública. E as forças misteriosas dos confessionários, outrossim, tangiam à Fátima o beatérío enfeitado de fitas das irmandades.
Deve-se reconhecer fina habilidade no cardeal Mendes Belo. Ausente do País prosseguia externando-se oficialmente contrário à obra. Salvava as aparências! A hierarquia romana aprecia o método de se manifestar dividida!
No caso, se a fanfarronada não desse certo, a santa madre não se prejudicaria. E se desse certo, tudo azul!
Os empreiteiros da mistificação sofreram horas tormentosas de sobressaltos porque algumas vezes a geringonça ameaçou derrocada.
Bem ou mal representados os papéis , o fato é que em regiões mais distantes a coisa continuava se divulgando e os romeiros vinham cada dia 13, quando as esmolas se amontoavam no buraco das raízes da azinheira arrancada pelos fanáticos ambiciosos de levar uma relíquia. Cumpriam-se os prognósticos do Dr. Egas Muniz ao bispo de Leiria!
Incansável o Abel Ventura do Céu Faria mantinha a contento em ritmo acelerado o acesso de romarias.
Estas não se dariam - perceberam os padres ! - se não se construísse logo uma capela a ser transformada em ponto de referência dos devotos.
Bem pensado, melhor efetivado!
Construir-se-ia o pequeno templo alegando-se para melhor fanatizar os romeiros , o cumprimento de ordens expressas da Senhora e tendo-se o cuidado de colocar em seu interior os cofres de bocas a sorrir aos peregrinos.
Onde já se viu alguma feitiçaria desvinculada do óleo monetário?
Mal o negócio entrava nessa marcha de bons ventos, surge a interferência de Gilberto Fernandes dos Santos, batizado pelas águas lustrais da opinião pública com a alcunha de Bicanca.
Comerciante de secos e molhados, em Torres Novas, cuja leitura predileta se restringia aos jornais, mostrava-se ateu e reacionário contra as crendices. Em relação aos prodígios de Fátima desvelara-se, do seu balcão, em despejar impropérios de arrepiar os cabelos.
Conheceu-o muito bem o meu pai que muitas vezes lhe vendeu cereais.
Avarento e desmedidamente ambicioso contatou haver se transformado sua campanha em propaganda de seu armazém, onde afluíam os incrédulos. Não havia palavrão de que não se utilizasse contra a santa, a Cova,  os  videntes e seus familiares.   Contra o clero, então: desancava os piores insultos. Fazia questão mesmo de ser conhecida a sua posição como a mais contrária e a mais violenta.
Decidiu ainda demonstrar sua fúria no próprio "local sagrado".
Fez divulgar o seu propósito: ao meio dia de 13 de Maio de 1919 queria estar lá para erguer sua voz em protesto e achincalhe às aparições.
Realmente na hora aprazada encontrava-se na Cova o Bicanca cercado de seus muitos fãs, zombeteiros em vendo o povo devoto a cantar hinos e entoar rezas em comemoração do aniversário da primeira aparição.
Para espanto de todos, teatralmente, o ateu Bicanca, como que acometido por crise de histerismo, começou a gritar em altos brados. E ao levar a mão ao bolso para de lá retirar uma bomba que atiraria sobre a capela, levando tudo pelos ares perante a multidão de peregrinos, aconteceu a grande maravilha. Em vez de dinamite, para espanto seu, retirou do bolso um rosário!!!
E com o objeto piedoso entre as mãos, trêmulo, atônito olhos injetados, cai de joelhos e, em lancinantes clamores, implora clemência, misericórdia e perdão à Senhora que tanto ofendera...
Espanto... Pasmo... Delírio entre a multidão que assiste o primeiro milagre. Milagre de conversão! E que conversão! Do Bicanca. O ateu. O blasfemador.
Assim relatam os padres nos púlpitos, sem mencionar o nome do nosso personagem, durante os novenários da Virgem de Fátima.
O jesuíta Fonseca, em seu livro: "Nossa Senhora de Fátima", deu pouco crédito ao prodígio da conversão do Bicanca que até a 3â edição de sua obra, à página 104 afirma não haver sido intervenção sobrenatural a troca da bomba pelo rosário. Relata que o cavalheiro deixara-se ladear por duas irmãs. "Uma delas notou que o irmão levava consigo uma bomba. Suspeitando, justamente das suas más intenções, procurou tirá-la, sem ele saber, colocando em seu lugar um terço. Chegados à Fátima misturaram-se com a multidão dos peregrinos; e enquanto a irmã espiava os mais pequeninos gestos do irmão, viu-o de repente cair de joelhos em terra e chorar copiosamente dominado por uma comoção intensa".
O ocorrido com o Bicanca foi uma farsa que ele mesmo premeditara. Adrede preparado por ele, levava em seu bolso o rosário e promoveu a espalhafatosa encenação. Tanto assim que o jesuíta Fonseca retirou o relato do fato exposto a seu modo ao publicar a 5â edição de sua obra. O prodígio foi tão ma! feito e o Bicanca deu tanta dor de cabeça aos padres... Inclusive, posteriormente relatou a verdade a respeito do seu truque.
Parabenizando-se a si próprio, o comerciante de Torres Novas, constatou o resultado positivo do seu plano. Toda a multidão presenciara o fato da sua "conversão".
E, dramático, teatral, prometeu, sob os aplausos entusiastas dos devotos, mandar fazer uma imagem da Senhora do Rosário de Fátima, como queria que a chamassem e a presentearia à capela. Delirantes ovações cobriam as últimas sílabas da sua promessa.
Na peregrinação de 13 seguinte, lá se achava o Bicanca, snr. Gilberto Fernandes dos Santos, a entregar, no cumprimento de sua pública e solene promessa, a imagem da Senhora do Rosário de Fátima - a primeira imagem dessa Senhora! -que recebia entre o estrugir de palmas, cânticos desafinados e espocar do foguetório, os borrifos da água benta ungidos com o latinório do zangado pe. Manuel Marques Ferreira, nos derradeiros dias do seu paroquiato em Fátima, que olhava de soslaio para o Bicanca ali de joelhos e compuncto.
O milagre da conversão do comerciante ateu motivou outras levas, e cada vez maiores, de peregrinos, sempre bem recebidos pelos sorrisos do Bicanca postado, cada dia 13, à porta da capela a receber os cumprimentos e parabéns de toda a gente e, encerradas as devoções, ajudar os padres a recolherem as esmolas depositadas nos cofres de cujas chaves se apropriara na mesma data da entronização da imagem.
Cansado de vender grão de bico, pesar batatas e encher garrafas de vinho de pipa, decidiu-se o Bicanca pelo comércio religioso muito mais produtivo.
Contratou os serviços de um fotógrafo de sua cidade, o Antônio Campos, e o levou ao lugar das aparições. Dispôs três garotos, trajados à moda dos pastorinhos videntes, defronte da imagem e fotografou esse conjunto. Dessa fotografia, na cidade do Porto, mandou confeccionar clichês com que fez reproduzir estampas aos milhares.
O êxito do negócio não se fez esperar e lhe deu impulso para a fabricação, em largas escalas, de medalhas, rosários, estampas, bentinhos...
A falta d'água se transformara em sério castigo para os romeiros. Vendiam-na os exploradores por preço tanto mais elevado quanto maior afluência de povo.
O  Bicanca  decidiu abocalhar-lhe o ganho, movendo-Ihes séria concorrência.  Passou  a  vender  água  -  e água milagrosa! - em latas marcadas exteriormente com a estampa litografada dos pastorinhos ajoelhados diante da Virgem. Foi-lhe fácil desmanchar a oposição que os padres lhe moviam ao negócio. Em troca de sua paz no livre comércio, entregou-lhes as chaves dos cofres das esmolas.
Os outros vendedores de água se revoltaram porque o povo queria a água abençoada das latas santas... Dois deles resolveram imitar o Bicanca, temerosos de perder o seu melhor negócio.
Dotado, porém, de grande habilidade, não lhe foi difícil livrar-se de um deles. Meia dúzia de ameaças descartara-o da jogada.
O mais turrão foi o homem de Argea, José Grego, que lhe exigiu avultada gratificação.
Acomodaram-se a princípio os padres empresários porque o Bicanca sabia engraxar-lhes as mãos com gordas propinas, além das esmolas rendidas nos cofres.
- Não pago impostos, refletia o miraculado Gilberto. E a soma que entregaria ao governo, distribuo-a aos padres, contanto que me deixem explorar os tolos.
O bispo de Leiria, contudo, intimamente recriminava a atuação do ex-ateu... Sonhava explorar em todos os aspectos a mamata da Cova.
Irritado, percebia que da cisterna mandada cavar, os peregrinos não queriam a água apodrecida por muito que se propalasse ser oriunda de uma mina miraculosa.
Previdente e munido de cautela, decidiu o Bispo criar uma situação embaraçosa para o Bicanca, que, em futuro bem próximo o poria à distância se não se cuidasse. Nesse propósito, aos 15 de Janeiro de 1928, com sua reverendíssima aprovação estabeleceu os "Estatutos da Confraria de Nossa Senhora de Fátima", de âmbito diocesano, em cujo Artigo 6Q se lê: "A Confraria de Nossa Senhora de Fátima terá um direção composta de presidente, secretário e tesoureiro, nomeados pelo prelado da Diocese. Esta comissão prestará contas todos os anos, na forma do direito ao Exmo. e Revdmo. Snr. Bispo.
O autor dos Estatutos, que outro não fora senão o próprio bispo assentou neste Artigo 6o, os alicerces de toda empresa comercial e industrial de Fátima.
Dentre as medidas a serem tomadas na conquista dos seus objetivos, agora se fazia mister exigir o cumprimento das normas estatutárias da Confraria, sob cuja égide se moveria a devoção da Cova.
Em que pese haver o Bicanca batizado a Virgem com o apelido de Nossa Senhora do Rosário de Fátima e feito doação de sua primeira imagem fabricada conforme o seu desenho e sugestões, o tráfico das "coisas sagradas" na Cova da Iria deveria sair de suas mãos.
O empreendimento de afastar o perigoso concorrente não foi muito difícil para o bispo. Adotou a chantagem de ameaçar expô-lo à execração dos devotos. Intimidado e reconhecendo a força da batina, o negociante de Torres Novas renunciou o seu comércio devoto...
Agastado, à distância, como um cãozinho covarde, resolveu latir por algum tempo e vingar-se depois, ao montar, em Lisboa, uma loja de artigos religiosos fatímicos. E sua zanga durou pouco porque na Capital o seu comércio prosperou visto lhe acorrer ao sacro balcão uma enorme freguesia.
Desvencilhado do Bicanca, o bispo pode investir em suas funções de tesoureiro da Confraria o cidadão José Rito dos Santos, nomeado desde a aprovação dos Estatutos.
Não dispunha o Rito de ficha recomendável.
Demitira-o o governo republicano do seu cargo de tesoureiro da Fazenda Pública de Tomar por crime de estelionato e haver dado um desfalque de 2.500 contos*.
Nenhuma outra credencial possuía a não ser o título da grande amizade que ao larápio do erário público consagrava o bispo ao lhe confiar o tesouro da Senhora.
Pudera! Este título de amizade produzira-o a dádiva de um báculo de ouro reluzente e um anel episcopal de ametista rutilante engastada em plantina pura que o Rito fizera ao prelado quando de sua posse canônica na diocese.
Em curto período de administração do José Rito dos Santos estourava o escândalo: o tesoureiro desfalcara os cofres da Senhora de Fátima em 3.500 contos da época em Portugal**.
Por esse tempo, o totalitarismo de Salazar já dava inteira cobertura à política clerical, que, ao invés de fulminá-lo com excomunhões, obtêve-lhe passaporte de viagem ao rato dos cofres públicos e da crendice dos famintos portugueses. Após viver alguns anos na Argentina peronista, retornou à Pátria para desfrutar de cômoda, rica e tranqüila velhice numa quinta dos arredores de Leiria.
Em vista do desfalque praticado pelo tesoureiro-ladrão, o bispo, convencido de suas habilidades comerciais já demonstradas na exploração de sal em sua quinta da Formiga, em Braga, decidiu ter em suas próprias mãos as chaves dos cofres e gerir toda a exploração da Cova.

Fátima e a ditadura salazarista

Igreja Católica Apostólica Romana !!! Se há título indevido, esse é um... É além de indevido!
O catolicismo, em todas as suas inúmeras seitas: romana, ortodoxa, russa, brasileira, anglicana, etc, é simplesmente movimento político com artimanhas religiosas.
Chamando-se o catolicismo de igreja, para se ser lógico, dever-se-ia fazer o mesmo com o comunismo, que afinal, traz uma mística, imagine-se Igreja Comunista Russa... Igreja Nazista Alemã... Igreja Integralista Brasileira... Igreja Peronista Argentina... Igreja Fascista Italiana...
O catolicismo medra somente em clima político que lhe é favorável. Por isso, se lhe for adversa a situação política, a tanto trabalho se dá que a muda...
A República no Brasil foi madrasta para o catolicismo, porquanto com sua proclamação, deixou de ser a religião oficial do nosso País. Lentamente, porém e passando-se por camaleão, a seita do papa conseguiu ajustar-se dentro deste regime e pô-lo mesmo a serviço dos seus interesses. A hierarquia católica no Brasil, hoje, goza de tamanhas regalias e sorve grandes parcelas dos orçamentos públicos que nos dá a convicção de ser uma verdadeira autarquia.
Em Portugal, o clero assustado não conseguia atrair as simpatias da novel Republica. A saudade de seu domínio desesperava-o. A sofreguidão por recuperar o terreno e reabilitar-se politicamente atiçava-o a agir... E o fazia com intrepidez e urgência! Criou várias instituições de aspectos francamente políticos, como por exemplo os Centros Acadêmicos de Democracia Cristã. Além de sublevar, por meio de suas feitiçarias, os seus fiéis. Fátima encaixa-se nesta artimanha!
Sobreveio em 1919 o Dezembrismo ou Sidonismo que, como primeiro passo na linha dos seus sucessos, colocou o clero à vontade.
Dentre aqueles centros acadêmicos destacou-se o da Universidade de Coimbra, em cujo meio se  encontravam Antônio de Oliveira Salazar e o clérigo Manuel Gonçalves Cerejeira, companheiros e íntimos desde os tempos de seminário.
Sem ser padre, tornou-se Salazar, a partir de 1910, em Coimbra, um instrumento político da hierarquia romanista a serviço da quai pronunciava conferências e escrevia para jornais.
Prestigiados pelo clero, os seus artigos e as suas conferências alimentavam grande parcela da opinião pública.
Recorda-se que ambos: Antônio de Oliveira Salazar e Manue! Gonçalves Cerejeira, viviam, como pombinhos, no mesmo quarto num casa de cômodos, à Rua dos Grilos, em Coimbra.
O sidonismo, de acordo com o seu esquema, desanuviou a situação do clero que, já em 1921, levou Salazar, eleito através do Centro Católico, para a Câmara dos Deputados.
Por tática, evidentemente, as suas conferências e os seus artigos criticavam a República somente sob a feição financeira ou econômica. Como professor de Economia e Finanças em Coimbra divulgava em suas palestras e artigos a notícia a respeito de sua competência pessoal no assunto.
Em 1926, após a Revolução de Maio, por insinuação da hierarquia eclesiástica, foi chamado pelo General Gomes da Costa para a Pasta das Finanças. Sua permanência no cargo foi, contudo, provisória como provisório foi esse governo.
Reassumiu o mesmo ministério em 27 de Abril de 1928, a convite do General Vicente de Freitas, influenciado pela mesma hierarquia. Contando com o franco e ostensivo apoio desta, pode crescer e açambarcar outros postos estratégicos e, em, 1932, passou a ser o Presidente do Conselho de Ministros, data em que implantou o totalitarismo em Portugal.
Em 4 de Agosto de 1929 faleceu o cardeal de Lisboa, Antônio Mendes Belo, sucedendo-lhe na sé patriarcal o antigo companheiro de Salazar, Manuel Gonçalves Cerejeira, o mentor da ditadura portuguesa. Com sua ascensão eclesiástica, na conformidade mesmo dos planos de implantação do totalitarismo no mundo pelo Vaticano, tudo se tornou fácil para o crescimento político de Salazar*.
Cerejeira e Salazar muito tiveram que lutar para subjugar as forças democráticas. Dinheiro, porém, não lhes faltava porque, entre outras fontes, a Cova da Iria, que já consumava o seu papel de imbecilizar o povo, se constituía na mais abundante.
Enquanto, porém, a hierarquia eclesiástica cevava Salazar a fim de guindá-lo a chefe civil da Ditadura Clerical, o bispo de Leiria, livre do Bicanca e do Rito, passou aos empreendimentos de vulto no sentido de projetar a Senhora de Fátima no meio popular com o objetivo de dar lastro religioso ao Estado Novo Português. E já com a ascensão do salazarismo, a Senhora de Fátima representava o interesse de todo episcopado português. Quanto mais prestigiada e enriquecida, tanto mais prestigiada e enriquecida a hierarquia dos ordinários.
Graças a esta situação reinstalaram-se no País todas as ordens religiosas, enchendo-o de frades, freiras, de hábitos de todas as cores, que passaram a dirigir os colégios, as escolas, as enfermarias dos hospitais, os asilos, as creches, os patronatos... Todas as nomeações para cargos simpáticos ao público, ligados à saúde popular, às obras sociais e à educação dependem do beneplácito dos vigários que indicam capachildos seus, ainda que incompetentes e desonestos. Concomitantemente metem as mãos nos Orçamentos públicos sugando-lhes largas dotações para as igrejas, conventos, seminários e confrarias.
Mancomunado com a política da Ditadura Salazar-cerjeirista, o catolicismo monopoliza a tribuna, a cátedra, a imprensa e apóia a censura do próprio noticiário e a coerção da liberdade de reunião.
Prestamos neste ínterim a nossa homenagem e manifestamos nossa palavra de lenitivo ao jornalista e escritor Raul Rego que a estas horas, conforme informações da imprensa deste 15 de Maio de 1968, encontra-se preso na penitenciária política de Caxias. Qual o seu crime? É o de haver enfeixado em livro suas cartas ao cardeal Cerejeira nas quais vergasta a Ditadura Clerical responsável pela desgraça dos heróicos patrícios de Camões.
Raul Rego! És mais um herói a sofrer nas masmorras inquisitórias do catolicismo romano! Deves gloriar-te por estares precedido de uma esteira imensa de heróis do passado e do presente.
Enquanto nós exaltamos a tua valentia, o clero em tua pátria martirizada prossegue na sustentação da Ditadura manejando a arma do medo espalhado no seio das famílias pela atuação dos confessionários, segredando às suas  confessandas,  mães  e  filhas,  que  os  chefes  de família só alcançam a subsistência dos seus se dobrarem às injunções dessa política eclesiástica.
Estás, Raul Rego, atrás dos muros de uma envoxia! Os teus patrícios estão agrilhoados nas enxovias do medo... Tu não vês a luz do sol, eles não respiram o ar da liberdade...
A Ditadura Salazar-cerejeirista, instalada nos idos de 1932, como regime transitório, é o maior milagre da Virgem de Fátima.
Hitler, Perón, Mussolini nas barbas do papa e outros foram de roldão levados pelos ideais democráticos... E a vergonha do cerejeirismo se mantém... O cerejeirismo que é a escravidão, a perseguição inquisitorial, a vilania, a traição, a violência, no País dos nossos maiores...
Lá em Portugal, a Senhora de Fátima realiza o prodígio de subjugar aquele povo sofredor composto de 70% de analfabetos. Ela consegue o milagre de fazer as classes rurais caírem nos braços da fome (60). É não ganhar o trabalhador nem para satisfazer 70% das suas necessidades alimentares (61).
Milagre de Fátima! Portugal é o único país no mundo onde a população diminui em conseqüência da negra miséria que assola o povo. Em 1966 emigraram para o estrangeiro 129.306 portugueses e como o saldo entre óbitos e nascimentos ascende a 106.852 indivíduos, segue-se que o resultado negativo foi de 22.454. Estupefato diante desta conjuntura o representante de Coimbra na Assembléia Nacional, em 26 de Fevereiro deste ano de 1968, aconselhou a "não se fecharem os olhos às realidades que nos cercam e encará-las de frente e com coragem... Há que libertar os nossos irmãos de uma emigração em que a ignorância agrava os problemas e constitui motivo de grande desprestígio para Portugal" (62).
Desprestígio para Portugal?
Não! Nunca!!!
Desprestígio, sim, para a Senhora de Fátima!
Desprestígio, sim, para o cerejeirismo!
Desprestígio, sim, para a hierarquia católica!
Pergunta-se aos bispos dos países latino-americanos; - Por que quando atacam os governantes destes povos como responsáveis pela sua situação de subdesenvolvimento, não se lembram de Portugal, o País mais atrasado da Europa, agrilhoado há mais de 30 anos pela Ditadura Clerical?

Escoras oficiais na geringonça que ameaçava espatifar-se

Não lhe viessem em socorro vigorosos auxílios e a santa da Fátima teria abortado ainda no seio dos planos clericais. O Bicanca pouco teria lucrado na troca do seu balcão! O Rito não teria acumulado sobre o seu desfalque do erário público o roubo de esmolas vultuosas. E o Benevenuto teria esborrachado o seu conceito de malabarista e malandro.
O cardeal Mendes Belo, porém, fez urgir a posse do bispo de Leiria na pessoa do snr. José Alves Correia da Silva, ocorrida em 5 de Agosto de 1920. Imediatamente procurou entender-se com os familiares da Lúcia no sentido de comprar-lhes a Cova da Iria, assim denominada por ser um larga depressão de terreno, que cobre uma área de 150.000 metros quadrados.
A morte do Francisco e da Jacinta abalara aqueles corações e não precisou o prelado de muitos esforços para adquirir, em princípios de 1921, a preço muito aquém do razoável, os "santos lugares".
Já em Outubro desse mesmo ano concedia autorização para aí celebrar missa.
Decidiu em seguida imitar a idéia do Bicanca na exploração da água milagrosa. Determinou em fins de 1921, abrir-se uma cisterna, um pequeno açude, no fundo da Cova que servisse para recolher a água da chuva.
Estes empreendimentos, todavia, mesmo do domínio público, não produziam entre o povo o aumento desejado de peregrinos. Resolveu promover outro prodígio! Mandou incendiar a capela na noite de 6 de Março. O devoto Manuel Carreira, residente no lugar chamado de Monte Redondo, adrede preparado, retirou a imagem de seu lugar e depois a notícia correu informando de que os maçons e republicanos dinamitaram a capelinha, sendo salva intacta e milagrosamente a imagem da Senhora. O pároco de Fátima, no dia 13 de Março fez realizar-se uma procissão de desagravo até a Cova, na qual se incorporaram cerca de 10.000 pessoas.
Em vendo o ordinário de Leiria que o ardil poderia render-lhe muito mais, decidiu deflagrar através dos jornais católicos, intensíssima propaganda em todo o País para galvanizar o fanatismo dos beatos e movê-los a uma romaria de desagravo no dia 13 de Maio (1922). E perante as 30.000 pessoas que lá compareceram entre rezas, hinos cediços e discursos bombásticos, o clero esparramou seus vitupérios contra os "adversários" da religião e "inimigos" de Deus.
Esta experiência de resultados tão positivos inflamou mais ainda o coração ganancioso do bispo no afã de montar um santuário de proporções gigantescas. O "prodígio" de haver a imagem escapado ilesa do fogo, deveria constituir-se no início de uma imensa proliferação de milagres.
Nas vésperas desta concentração religiosa de desagravo, desejou o bispo aproveitar-se do ambiente de excitação carola para a 3 de Maio, através da "Provisão sobre os Acontecimentos de Fátima", instaurar o processo canônico e nomear uma comissão de sete membros, todos catolicíssimos piegas.
Julgou, outrossim, de bom alvitre servir-se desses instantes de.exaltação religiosa e criar um jornal, "Voz da Fátima", órgão informativo dos programas de culto na Cova e oxigênio para alimentar e propagar a devoção à santa Senhora. Seu primeiro número saiu do prelo no dia 13 de Outubro de 1922 com uma tiragem de 3.000 exemplares distribuídos gratuitamente.
Coube esta tarefa ao pe. Manuel Nunes Formigão, o Visconde de Montelo, o "perito" em inquéritos e agora transformado em noticiarista de milagres.
Reconhecia o Formigão a impraticabilidade da viagem à Cova por parte de muitos devotos enfermos. E já que a santa não faz prodígios algum na sua capela, resolveu o redator da "Voz da Fátima" divulgar em suas páginas numerosíssimos milagres de curas acontecidos em cidades distantes e quase sempre pela instrumentalidade da água milagrosa do poço construído sob a ordem do bispo.
A Senhora de Fátima não consegue fazer prodígio algum no local das suas aparições, a não ser quando algum clérigo executa alguma falcatrua. Nem aos eclesiásticos ela atende. Bem ao contrário, tem-lhes desapontado como no caso do pe. Santos Farina, o "anão" que se dignou esparramar notas explicativas na tradução portuguesa da Bíblia feita pelo pe. Antônio Pereira de Figueiredo. No encerramento de uma romaria foi lá o padre anão a fazer um sermão. Sucedeu-lhe a "maravilha" de, no meio da arenga, cair e quebrar-se-Ihe uma perna, em conseqüência de que veio a falecer.
O prelado de Leiria teve de curtir um grande desapontamento. Esfriou-se o fervor dos devotos! Desapontara-se o povo porque a Senhora não fazia os milagres implorados. Os doentes romeiros regressavam com o seu estado agravado, quando não morriam à míngua na viagem ou na própria Cova.
Em prejuízo dos beatos, transformaram-se as peregrinações em pândegas quando os homens se embriagavam e as raparigas abocanhavam seus proventos no comércio de suas carnes. Por isso, através de uma circular de 13 de junho de 1925, o ordinário leirense lembrava que se vai "a Fátima para rezar, fazer mortificações e pedir a Santíssima Virgem a saúde espiritual e física dos doentes de alma e corpo que ali açodem de cada vez em maior número a implorar aquela que é a salvação dos enfermos". E após recriminações, aconselha: "A desordem desagrada a Deus... Havendo ordem, embora sejam muitos, todos são servidos: o pouco chega para todos. Não havendo ordem, o muito não chega a nada".
Suas exortações não conduziram porém, os romeiros à ordem exigida por locais sagrados. Pretendendo elevar-lhes o nível espiritual, com o seu devido "Imprimatur", passado em 13 de Março de 1926, mandou espalhar o "Manual do Peregrino de Fátima".
Ao lado das desordens crescia o desapontamento dos romeiros que se viam desamparados em sua confiança na Senhora. Decidiu D. José Alves Correia da Silva tentar sanar essa dificuldade.
A "Voz da Fátima" noticiava milagres. Milagres bem distantes da Cova! A Virgem lá não os queria fazer! Disto, aliás, sempre esteve convencido S. Excia. E nesta circunstância de decepções instituiu a 25 de Março de 1926, a "Pia União dos Servita de Nossa Senhora de Fátima".
Já que a Senhora não prodigalizava as curas solicitadas, fazia-se mister satisfazer os enfermos lançando-se mão de expedientes humanos.
Dividem-se os membros da Pia União em quadro grupos: _ dos sacerdotes que se comprometem atender confissões nos dias 13; dos médicos que assistem os enfermos; dos servitas (homens) que transportam os doentes e mantém a ordem; das servitas (mulheres) que fazem o trabalho de enfermagem.
Não é este um atestado da pouca ou nenhuma fé dos bispos?
Se a Senhora de Fátima cura por que médicos e enfermeiras? A respeito destas e lembrando o regulamento da Associação, comenta o sacerdote alemão, Luis Fischer: "A Servita compromete-se por ocasião da entrada a adquirir os necessários conhecimentos de enfermagem para tratamento dos doentes..." (63).
E a valia sobrenatural da Senhora?
O mesmo estatuto é um atestado também da imoralidade que campeava no lugar.  "A eles ( servitas homens) cumpre, em primeiro lugar, manter a ordem e o respeito dentro do recinto sagrado" (64). Este artigo demonstra outrossim, em que conta muita gente tinha as peregrinações...
Percebia o prelado um arrefecimento também por parte do clero. Mau sintoma! Sintoma de fracasso iminente!
Sentiu-se na urgência de reavivar o entusiasmo primitivo. E nada mais aconselhável senão convidar os ordinários de outras dioceses. E os primeiros a lá irem foram Dom Manuel Vieira Matos, Arcebispo de Braga, e Dom Manuel Mendes da Conceição, arcebispo de Évora, aos 15 de Agosto de 1926. Outra visita muito importante nesse ano foi a do Núncio Apostólico em Portugal, a 1Q de Novembro. E aos 13 de Dezembro, ainda de 1926, lá esteve também o bispo de Funchal, Ilha da Madeira.
O dia 26 de Junho de 1927 assinala outra arrancada do bispo Alves Correia na imbecilização dos fiéis romanistas, inaugurando a "Via Sacra", cujas 14 estações marcadas por grandes cruzes de pedra, se estendem ao longo de 13 Km de extensão da estrada de Leiria-Fátima .
Aos 15 de Janeiro de 1928, fez-se a ereção canônica da Pia União ou "Confraria de Nossa Senhora de Fátima", através de que se viu a Cova livre do Bicanca e sua administração encaixou-se definitivamente nas atribuições do prelado diocesano.
Em 13 de Maio desse mesmo ano, como parte do programa da "Primeira Peregrinação Nacional", foi lançada a pedra fundamental da basílica de 82 metros de comprimento por 50 de altura. A pedra foi benzida pelo arcebispo de Évora, D. Manuel Mendes de Conceição Santos e ungida com os olhares piegas da esposa do General Oscar Carmona. Este ascendido a Presidente da República com o apoio do clero, que voltara a leprosar o país, julgou propício adoçar o bico dos seus esbirros e compareceu na Cova na noite de 12 de Maio de 1929 para inaugurar as instalações elétricas.
Falido o "Manual do Peregrino de Fátima", esperançoso ainda o ordinário leirense, em 17 de Abril de 1929, concede sanção eclesiástica ao "Guia do Peregrino de Fátima", elaborado pelo pe. João Marchi com o objetivo de substituir o anterior. Decepcionado, o Marchi constatou que o seu guia não causou repercussão alguma no ânimo dos fiéis e meses depois atribuiu-se -lhe a incumbência de lançar outro "Guia de Fátima", infelicitado por semelhante destino de insucesso.
A falta de fé por parte do bispo na Senhora prodigiosa moveu-o a mandar construir um hospital, inaugurado em 1929 e se governa sob sua reverendíssima direção e sob os artigos de um estatuto próprio. Em virtude deste regulamento, cada doente que queira ser nele recebido deve aparecer munido de um atestado do seu pároco; se bem que todo o serviço do hospital seja gratuito cada candidato para ter lugar seguro, deve fazer sua reserva com antecedência, deixando uma caução em dinheiro. "Recomenda-se" que cada doente deixe sua esmola no santuário...
No dia da instalação do hospital houve enorme afluência de enfermos ... Ao receberem a bênção própria, ninguém ficou curado...Mas o hospital foi inaugurado!
E se algum desapontado se lamúria vem a lenga-lenga: - Faltou-lhe fé!
Não será por acaso evidência de fé o trasportar-se de enorme distâncias? E sendo pobre? E com tantos sacrifícios.
A dura realidade para os seus empresários é que em Fátima nunca aconteceu um milagre de cura. Nem um sequer!
Não me refiro a melhoras causadas por sugestões em pacientes de doenças de origem psicopata ...
Quem já viu lá a ressurreição de um morto de quatro dias? De um cego de nascimento? O surgimento de uma perna no lugar de outra amputada? Ou de um pulmão no lugar de outro extirpado?
Volveu quiçá a Senhora os seus olhares de misericórdia ao magnata promotor de sua devoção, o bispo de Leiria, que, entrevado por vários anos antes de morrer se locomovia em cadeira de rodas? Por venturados seus muitos empreendimentos em prol de sua causa não lhe revelaram a fé? Ou a Virgem de Fátima descobriu as riquíssimas bruacas episcopais que fizeram do prelado leirense o possuidor da maior fortuna portuguesa?

E a lorota da água prodigiosa?

Um sacerdote, meu ex- colega de diocese, foi a Roma beijar o chinelo de "sua santidade" e, no regresso, passou por Fátima. Reinstalado em sua paróquia, à estação da missa dominical seguinte, anunciou haver trazido  da Cova da Iria alguns litros da água milagrosa e dispôs-se ceder em diminutos frascos uma quantidade exclusivamente às pessoas enfermas. Como gesto de cooperação, esclarecia haver já inclusive providenciado os pequenos recipientes.
O fato é que todo o mundo da paróquia foi à casa do "seu" vigário apanhar o líquido mágico ou porque havia algum doente em casa ou para prever o futuro.
- Quem sabe lá quando o pe. poderá ir outra vez a Fátima!
O caso é que não se achava o reverendo para ir no conto da água milagrosa e sim para aplicar o conto do vigário.
Não havia trazido água alguma. De Fátima trazia somente o seu coração confrangido de saudades de uma garota lisboeta que o acompanhara e lhe saciara os apetites sensuais.
Engendrara o plano antes da viagem e ao passar por São Paulo mandou confeccionar muitas dúzias de vidros.
E a água de Nossa Senhora de Fátima vinha-lhe das torneiras da casa paroquial.
Não estabeleceu preço algum, mas solicitava uma espórtula para cobrir as grandes despesas. Almejando incitar a devoção fátimica nos seus fregueses, instalou solenemente em sua matriz uma imagem da Senhora trazida da Cova (mas, fabricada em São Paulo!!!).
E aconteceram prodígios? Sim!
E não os há com as águas do Rio Ganges na índia que receberam as cinzas do Gandhi? Maomé não os faz ainda em Meca? Não os praticam os manipansos da África ?
Dopados por esse narcótico do fanatismo estupidificante os paroquianos ofereceram donativos em dinheiro, pulseiras, brincos, anéis e outras peças de ouro, e até bois, porcos e galinhas. E a promoção rendeu-lhe a luxuosa viagem, as despesas de suas belas acompanhantes o mobiliado apartamento em Santos onde se derrete de prazer nos seus encontros amorosos.
A bem da verdade deve-se informar que esse sacerdote não é exceção. Quando vão aos santuários marianos da Europa e, ao voltarem, passam pela Rua 25 de Março em São Paulo, onde se situam as lojas de artigos religiosos e outras bugigangas concorrentes das situadas na Senador Feijó e Praça da Sé. E o carola recebe uma estatueta como sendo de um santuário milagroso...
Assim procedem movidos pelos exemplares que lhes vem de cima!
Não será porventura também falcatrua a origem da água prodigiosa de Fátima?
Nos novenários da Senhora aparecida na Cova e concorrente vencedora da Senhora das Urtigas os pregadores de arengas estúpidas da feitiçaria romanista exaltam a fonte maravilhosa em sua origem e prodigiosa em seus efeitos miraculosos, a distribuir a água sacrossanta através de 15 torneiras, lembrança piedosa dos 15 mistérios contemplados no rosário.
Tudo baboseira! Tudo pieguice cretina!
Mas é esse o relato lacônico. Não pormenorizam os estoriadores fatímicos e fatídicos as circunstâncias e as testemunhas do "prodígio"! Destacam a aridez do solo e falam da fonte miraculosa!
Aconteceu naquelas regiões e precisamente no* ano jubilar das aparições, em 1942, a mais terrível estiagem de todos os tempos.
Logo no ano jubilar!!!
Os poucos devotos estrangeiros que, arrastando adversidades provenientes da Segunda Guerra Mundial, compareceram aos atos do programa comemorativo dos 25 anos da Senhora de Fátima, consternaram-se ao ver tudo esturricado pela inclemência da seca. Terá sido a greve das nuvens revoltadas por haverem sido, em 1917, achincalhadas pelos sacerdotes empreiteiros da devoção fátimica por despejarem tanta água?
O próprio céu, todavia, já se encarregou de desmascarar a falcatrua e demonstrar a quem quiser estar bem informado que tudo é lorota no bojo da estória da Fátima, pois tudo lá continua seco como dantes.
Em 1942, contudo, os devotos da Senhora Coveira afinaram as contas dos seus rosários e moeram as suas rótulas de tanta penitência arrastando os joelhos Cova acima e santuário a dentro. Não lhes foi propícia a misericordiosa Senhora! Nem valiosas as preces públicas e oficiais "ad petendam pluviam" determinadas pelos ordinários de mitra na cabeça e báculo na mão.
Naquela época, se não fossem as cisternas, os riachos e as torneiras profanas, os devotos espalhados pelo orbe teriam ficado sem a água prodigiosa, pois as i 5 torneiras da Cova, engasgadas, só bufavam vento.
O descrédito atingiu as balisas do ridículo geral e temiam os amantíssimos ordinários portugueses que lhes minguassem as peregrinações do ano jubilar  com  a  resultante  desgraça de magras arrecadações. Esta circunstância, outrossim sobressaltava o vampiro do Vaticano, Pio XII, um dos responsáveis pelo financiamento das despesas com os exércitos totalitários do Eixo.
A débito de quem se atribuirá esta responsabilidade de estiagem prolongada? Quem haveria, então de pagar o pato desta desgraça?
Ora! O povo!!!
Efetivamente, "suas reverendíssimas arroxeadas", em Pastoral coletiva pelas bodas (!?) de prata das aparições da Fátima recriminam esse pobre povo sofredor como o responsável por tão duro castigo:" Não será bem para recear que a inutilização de certas culturas, a perda das searas que se apresentavam ridentes e prometedoras seja castigo da profanação do domingo? Semeadas ao domingo, em terras lavradas ao domingo, trazem consigo a maldição congênita. Que admira, pois, que os frutos se percam? Não pense ninguém em enriquecer com o trabalho do domingo e trema das riquezas acumuladas desta maneira..." (65)
Essa é boa! Não dizem os marianos que Maria é a onipotência suplicante diante do Deus Irado? Justamente nas festividades das bodas (!?) de prata de suas manifestações portentosas no centro de Portugal vai castigar o povo católico? Ou será que o castiga por que esse povo não lhe deu crédito?
Outro incidente que veio desmascarar a "Voz da Fátima", com tiragem após a Segunda Guerra de 300.000 exemplares para enganar o maior número possível de pascácios através de informes sobre curas miraculosas pela água sacrossanta, foi o incêndio que em 9 de Julho de 1947 se alastrou pelas barracas de madeira, ao tempo instaladas em frente ao Santuário, onde se vendiam os artigos religiosos. A fonte prodigiosa nessa emergência não valeu às angústias dos devotos presentes, que, em altos brados, clamavam pela Virgem. Nem a água da Cova apagou um tição e nem a imagem se apiedou das aflições dos seus apaniguados...
Desapontados com a inércia da Milagreira Senhora e sem qualquer confiança na Santa, lançaram mão dos recursos humanos.
O jornal "O Século" de Lisboa, ao divulgar o sucedido, aproveitando de um cochilo do cardeal Cerejeira que controla a impressa do País e jamais permitiria o noticiário de um acontecimento desmoralizador da rica Senhora Coveira - ao divulgara notícia, "O Século" relatou que foi "arrombada uma janela do posto telefônico público para se chamarem os bombeiros de Vila Nova de Ourem, que compareceram e trabalharam denodadamente com seis agulhetas sob a direção do seu comandante snr. José Maria Pereira".
O órgão da impressa portuguesa não dá graças à Senhora! Mas, conclui informando avaliarem-se os prejuízos em 300 contos*: "Graças à ação dos bombeiros, evitou-se que o fogo se propagasse a outras barracas e à estação dos correios de que chegaram a retirar todos os móveis por correrem perigo" (66).
Nem para livrar de perigos os seus patrimônios lá na Cova a Senhora faz portentos...
Referimo-nos acima às 15 torneiras. É certo que lá não estão de enfeite. Em tempos normais, agora, derramam água, pois para isso se instalam esses instrumentos .
E donde lhes procede a água?
Realmente em 1921, o Bispo de Leiria mandou construir no fundo da Cova da Iria, que é uma depressão de terreno, um enorme poço para recolher as águas pluviais que desciam em enxurrada.
Aquela água barrenta acumulada no fosso sem tratamentos especiais, deteriorava-se tomando-se causa de muitas moléstias, incontáveis romeiros saíram da Cova com enorme carga de sezões.
Posteriormente utilizou-se de um encanamento para trazer de longa distância a água para a Cova. Em 1950, decidiu o bispo apelar para os cofres públicos a fim de melhorar e ampliar o serviço de abastecimento desse líquido. Em 4 de Julho de 1950, os jornais do Pais noticiaram: "na Direção Geral dos Monumentos Nacionais foram ontem recebidas propostas para a execução da primeira fase das obras de abastecimento de água ao Santuário de Fátima, orçamentada oficialmente em 1.400 contos. Na presente fase, prevê-se o abastecimento exclusive do Santuário, mas criam-se as bases da futura expansão deste melhoramento nos aglomerados populacionais interessados. Todos os trabalhos deverão ficar concluídos até 30 de Abril do ano próximo".
Essa Direção Geral dos Monumentos Nacionais, que é um dos departamentos de obras públicas, em Portugal, aprovou a verba necessária aos 12 de Julho de 1950.
Eis a verdade sobre a origem da água prodigiosa de Fátima! A verdade livre das fanfarronadas dos velhacos mobilizados pelo Ali-Babá do Vaticano!

Colhido com a boca na botija

O nosso já conhecido e contraditório pe. Manuel Nunes Formigão, importante membro do Cabido Metropolitano da Sé Patriarcal de Lisboa e cuja fama corre os arraiais fatimicos com a alcunha de Visconde de Montelo numa reminiscência saudosista dos oito séculos monárquicos-medievos, transformou-se em origem de informes sobre os acontecimentos fatimicos.
As suas obras: As Grandes Maravilhas de Fátima; Os Episódios Maravilhosos de Fátima; Os Acontecimentos de Fátima; Fátima, o Paraíso da Terra; História Popular de Fátima; História Crítica dos Acontecimentos de Fátima; Fátima, a Pérola de Portugal, em que pesem seus títulos bombásticos, à falta de consistência e seriedade, não resistem ao mais superficial exame critico. Sucedem-se em suas páginas as contradições e os relatos se desafinam!
Não fosse esse descrédito estariam certamente empilhadas nas prateleiras das livrarias católicas em edições sucessivas...
Caem na mesma vala das contradições ridículas todas as obras sobre o assunto de escritores católicos por não lhes valerem nem os "Imprimatur" curiais.
O pe. Castro dei Rio com as suas "Aparições da Santíssima Virgem"; o pe. Payère com a sua "Fátima"; o germano pe. Luís Fischer com a sua "Fátima, a Lourdes Portuguesa"; o Melo e Alvim com a sua Fátima; o frade Rolim com o seu calhamaço Francisco - Florinhas de Fátima; e" Salesianus" com os videntes de Fátima, o professor do Instituto Bíblico de Roma e jesuíta Luiz Gonzaga Ayres da Fonseca com a sua "Nossa Senhora de Fátima", todos se arrolam entre a congérie dos falsários. Suas obras se diluem à luz do bom senso........  Seu mérito não vai além da participação da avalanche da falcatrua que assolou os meios católicos carreando para a "santa madre" um imenso acréscimo nos imensuráveis cofres de suas espantosas riquezas.
Coitados! Não se precaveram. Expuseram-se ao ridículo. E pior que levam ao ridículo os seus superiores eclesiásticos aos quais devem subserviência conforme prometeram no dia de sua unção sacerdotal ao responderem afirmativamente à pergunta do ordinário: "Promitis mihi et successoribus méis reverentiam et obedientiam"?...
O jesuíta Fonseca falhou em sua promessa por ser muito irreverente para com o larápio e gordalhufo bispo de leireira.
Pretende encobrir o seu pecado ao elogiá-lo e, em sua publicação que corre o mundo, por respeito, encobriu as malandragens do ordinário leirense dentre as quais poderia ter mencionado o esbulho contra Da. Maria Constância Teixeira Sampaio e Albuquerque ao extorquiu-lhe a Quinta do Caldelas, na Caranguejeira...
Incorre o jesuíta Fonseca em grave pecado de irreverência ao evidenciar a má fé do snr. bispo.
O seu pecado, ainda atinge proporções internacionais por expor o prelado ao ridículo mundial, porquanto o seu livro, em várias edições, foi publicado em português, italiano, alemão, espanhol, holandês, boêmio, chinês, lituano, inglês, etc.
Percebeu o jesuíta que as primeiras edições reclamavam ajustes. Valeu-se do snr. bispo que forjou umas cartas da freira Lúcia, das quais, em rodapé, apresenta alguns pequenos trechos como esclarecimentos que nada esclarecem e que mais complicam o cipoal de contradições. Por que não transcreve, em apêndice, todas as cartas da Lúcia escritas recentemente em obediência ao snr. bispo, como informam? Não resistem elas crítica alguma e levariam se publicadas à falência definitiva a Senhora da Cova. Primeiro, porque quem as escreveu foi o próprio bispo e não a semi-analfabeta lavadeira das freiras carmelitas.
Vamos, porém, à constatação do pecado de irreverência cometido pelo Fonseca, cuja publicação dentre as que tratam do assunto é a que mais se difunde.
Agrava-se a malícia do Fonseca ao transgredir sua promessa de reverência aos seus superiores clericais o arrastar o jesuíta Ernesto Vogt, reitor do  Pontifício  Instituto Bíblico (?) que lhe fez a revisão eclesiástica do livro e o ordinário de Petrópolis que lhe concedeu o canônico Imprimatur à 5a. edição em língua portuguesa.
A página 194, reincidindo na mesma falta praticada nas edições anteriores, informa:
"A Comissão encarregada do processo canônico trabalhou conscienciosa, mas lentamente. Foi só a 14 de Abril de 1929 que fez a última reunião para examinar mais uma vez os trinta e um capítulos do longo relatório que se devia apresentar à autoridade diocesana"!
De fato, o trabalho foi lento. De 3 de Maio de 1922 a 14 de Abril de 1929, lá se vão sete anos.
E prossegue o Fonseca na sua afirmação irreverente:
"S. Excia. Revma. o Senhor D. José Alves Correia da Silva tomou outros seis meses para estudar a fundo e preparar a sentença. Finalmente publicou a "Carta Pastoral sobre o Culto da Senhora da Fátima", que solenemente declarava dignas de fé as aparições da Cova da Iria desde 13 de Maio a Outubro de 1917 e permitia o culto de Nossa Senhora de Fátima.
O notabilíssimo documento foi promulgado na Cova da Iria, diante de uma multidão de mais de 100.000 peregrinos, a 13 de Outubro de 1930, treze anos completos depois da última aparição".
Não percebeu o irreverencioso Fonseca que ao revelar esta particularidade está taxando o snr. Bispo de leviano e embusteiro?
Pois que se a comissão canonicamente instaurada ainda não lhe havia entregue o resultado de suas perícias é que a sobrenaturalidade das manifestação marianas da Cova não poderia ser ainda aceita. Além disso o próprio snr. bispo tomou outros seis meses para pessoalmente "estudar a fundo os documentos".
Se demonstrou tão precavido com relação às conclusões da Comissão Canônica e se demonstrou tão prudente em estudar a fundo os seus documentos, por que autorizou antecipadamente o culto da Senhora?
Se os exames não haviam sido concluídos pela Comissão de distintíssimos membros, dos quais o prelado não se fiou tanto, pois pessoalmente durante seis meses estudou a fundo a documentação para lavrar a sentença, por que incentivou a devoção fatimista?
Encontravam-se as aparições em estudos, exames e averiguações?
E por que, então, antes da decisão final o snr. bispo .comprou toda a área da Cova da Iria? E antes mesmo de instituir a comissão de estudos?
E por que antes mesmo de instituir a referida Comissão, autorizou a celebração de missas no.local das aparições?
Não será isso leviandade? E se tivesse certo do resultado positivo na sentença final, por que iria estudar pessoalmente durante seis meses e a fundo as conclusões a que chegara a Comissão? Não seria hipocrisia? Fanfarrice?
E por que, então, antes da decisão final deu sua reverendíssima provação oficial ao órgão da devoção "Voz da Fátima"?
E por que, então antes da decisão final, concedeu seu Imprimatur às obras do formigão Visconde de Montelo?
E por que a 13 de Junho de 1925, divulgou uma circular diocesana impondo normas aos romeiros?
E por que a 13 de Março de 1926 autorizou imprimir-se o "Manual do Peregrino de Fátima"?
E por que a 25 de Março de 1926 instituiu a "Pia União dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima"? E sancionou-lhes os Estatutos?
E por que a 26 de Junho de 1927 inaugurou a "Via Sacra" na estrada de Leiria - Fátima?
E por que a 15 de Janeiro de 1928 erigiu canonicamente a "Confraria de Nossa Senhora de Fátima"?...
E por que a 13 de Maio de 1928 lançou a primeira pedra do grande santuário, dando início imediato a sua construção?
Não foi tudo isto correr muito risco? Leviandade? Ou todo o trabalho da Comissão foi uma farsa?
E se a Comissão não aceitasse como autênticas as aparições? E se o seu estudo episcopal não encontrasse base nos boatos divulgados?
O que iria fazer com o terreno pedregoso e árido? Devolvê-lo-ia aos herdeiros do Abóbora?
Rasgaria a provisão para rezar missas?
Abrogaria os "Imprimatur" dos livros fatímicos?
A "Pia União dos Servitas" e a "Confraria" teriam destino fatídico?
E o órgão "Voz da Fátima" seria voz de quê?
Arrancar-se-iam por ventura os alicerces do santuário?
Nada disso aconteceria! A geringonça se montava e culminaria no sucesso previsto pelo ordinário leiriense.
Mas o devoto Fonseca deveria ter tido mais prudência e ter posto mais a recato o prestígio da Senhora Coveira.
Teu livro, Bonacheirão Fonseca de cara risonha de aperitivos, entre as pessoas de bom senso tem sido fatídico para a Senhora Fatímica! Mas, enfim, se fores escoimá-lo das contradições e tolices, o que lhe restará?
E não levaste no lombo nenhuma censura das previstas no Direito Canônico por teres irreverentemente exposto o snr. Bispo a chacota pública por ser leviano, mentiroso e velhaco?
O snr. bispo já morreu. Apodreceram-se seus ossos e seus dedos não pegarão mais da pena para lavrar-te uma daquelas censuras. Todavia, se a sua alma penada pudesse sair do inferno, poderia vir alta hora da noite, incendiar-te.
Não tens medo?
Se não o tens, também não te custa esperar mais um pouco para ires fazer-lhe no averno fatídica companhia.

Prestigiada por segredos a senhora aguça a curiosidade do beatério

Articularam-se todos os recursos para que o calhambeque da Fátima, desemperrado, se pusesse em marcha nos caminhos do sucesso. Propaganda farta e custosa. Prestígio oficial. Boatos. Confessionários. Milagres...
Tudo, mas tudo mesmo foi posto a serviço da mistificação!
Também o fascínio do segredo que sempre aguça a curiosidade do beatério e o subjuga pelo medo.
Um segredo deu ares de sortilégio à fantasmagoria!
À época das aparições, a Lúcia, orientada pelos empresários dessa indústria da exploração da credulidade popular falava de segredos que a Senhora lhe confiara.
E segredos referentes a assuntos seríssimos! Se o povo soubesse haveria de se agoniar...
Trancafiada no convento, a vidente os levou consigo!
Decorridos os anos, em 1942, na oportunidade do jubileu da Senhora de Fátima, divulgaram-se os segredos, ou duas das três partes em que é repartido um só segredo.
Anteriormente relatavam os padres pregadores de novenários da Senhora Coveira que Lúcia enviara em carta o assunto cercado de sigilo ao papa Pio XII e que este ao lê-lo sofrerá um desmaio.
Vamos, porém, às três partes do segredo, que não é mais segredo! E sim motivo de riso e gozação!
A primeira foi a vista do inferno. Lúcia relata que viu o inferno.
Essa é boa! Como vimos, a menina até em sonhos se via no averno e, nas caladas da noite, gritava pela mãe para que a acudisse.
Já não era, pois segredo!
A coisa, todavia, envolve uma cretinice. Aliás, outra dentre as tantas!
"Para salvar os pecadores do inferno, recomenda a vidente, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado coração de Maria".
Isto é anti-Evangelho!
Não há outro meio de se salvar da perdição a não ser Jesus Cristo!
Somente quem não conhece o Evangelho aceita essa sandice!
"Eu sou o caminho... Ninguém vem ao Pai senão por Mim", disse Jesus (Jo.14:6).
"Quem crê nele não é condenado" (Jo.3:18).
Em conseqüência, Pedro enfatiza: "E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro há, dado entre os homens, pelo qual devemos ser salvos" (At.4:12).
Nenhum outro! Somente Jesus Cristo!!!
Essa revelação de imaculado coração é charlatanismo!!!
A segunda parte do segredo merece ser incluída num anedotário. Consta do seguinte: "A Guerra (de 1914-1918) vai acabar; mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior ainda". (67)
Sobre o fim da Guerra já nos referimos e verificamos a atrapalhada da vidente ao divulgar a notícia inexata e fora do script ensaiado.
A outra Guerra principiou em Setembro de 1939, quando o pontífice reinante era Pio XII, sucessor de Pio XI morto há tempo.
Depois de presenciarmos esse escorregão da "Notícia", prossigamos no segredo:
Quando virdes, disse a Senhora, uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes por meio da Guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre". (68)
Contrariando o Evangelho, dizem os marianos que a Senhora é mãe de misericórdia diante de Deus sempre irado contra a humanidade prevaricadora. E se é toda essa misericórdia por que não mandou Lúcia divulgar a terrível ameaça? Poderia a humanidade sob a pressão do medo comportar-se melhor... Pelo menos o beatério papa-hóstias...
Lúcia julgou ver o grande sinal mencionado, na aurora boreal que iluminou o céu europeu das 20:45 até à 1:15 da noite de 25 para 26 de Janeiro de 1938.
Com esse truque, qualquer um também tem muitos segredos. Se por ventura agora uma pessoa dissesse que lhe fora revelada, cinco anos antes, a revolução brasileira de 31 de Março de 1964, ou a morte de Bob Kennedy por que a tomariam? Tratá-la-iam como psicopata ou como quem estivesse brincando.
Por força do assunto, o tal segredo deveria ter sido revelado ao público há muito... Mas faz parte da patacoada! E somente assim poderia sacolejar a opinião pública dos ratos de sacristia.
O segredo, porém, expressa uma grande verdade. Verdade histórica!
Ao mencionar "perseguições à Igreja (ao catolicismo) e ao Santo Padre" que "terá muito que sofrer" (69), responsabiliza o papa e a sua seita como responsáveis pelas iniqüidades na terra. Se eles é que vão sofrer tantos castigos? Se são ameaçados?
E é certo! São eles próprios os responsáveis por tudo isso que vai pelo mundo!
Não se revelou ainda a terceira parte do segredo. Revelar-se-á depois de acontecida. Talvez seja a derrota do Brasil na próxima disputa futebolística mundial! Ou a posição de Portugal como campeão da taça Jules Rimet?
Dentro de todos esses despautério, insistentemente, vem a recomendação de se consagrar tudo ao coração imaculado de Maria como barreira no avanço do comunismo sobre o mundo.
Imagens da Senhora de Fátima, entre 1945 e 1950 correram o globo terrestre espalhando o convite para o ato consecratório. Não houve lar, cidade, província, diocese, convento, colégio seminário que não o fizesse. E lá foi na onda o papa Pio XII que a 8 de Dezembro de 1942, da Basílica de São Pedro, consagrou, mediante fórmula estereotipada, o mundo inteiro, inclusive a Rússia.
Mas, o comunismo continuou e continua...
Organizou-se ele depois de 1945 na Itália, onde tem o partido mais bem organizado da terra. E nas barbas pontificiais. E no país onde há mais templos e santuários dedicados à madona.
E a sua infiltração no próprio seio da hierarquia católica? Quantos bispos comunistas por aí a honrarem a cor vermelha de suas vestes prelatícias...
Falhou a consagração? Deu chabú!!!
E a onda do imaculatismo cordi mariano passou... O comunismo está avançando agora de parceria com o ecumenismo, o vendaval que varre as regiões dos doidivanas.

Tristes incidentes da estória do fatimismo

Como não bastassem os púlpitos e os confessionários a incentivar os fiéis fustigando-os à Cova, decidiu-se que os ídolos fatímicos saíssem a peregrinar pelo orbe.
Um deles, em 1947, atravessou a Espanha. Raptaram-no, porém, os antifacistas das Asturias.
O seu substituto ido de Portugal, via aérea por ser mais rápido evitando-se desse modo qualquer desaire, entrou na França. Arriscou-se visitar em sua basílica a Senhora de Lourdes, que, pelos seus apaniguados, escorraçou a rival negando-lhe acesso em seus umbrais.
Cabisbaixo andou pela Bélgica, Holanda, Luxemburgo.
Outro fac-símile, cercado de aparato bélico, viajou pelo Interior do País.
Outro ainda foi ao Oriente. De Ceilão passou a Timor, Austrália e Nova Zelândia. Na sua viagem de Bucaramanga para Calcutá incendiara-se o avião, queimando-se  a  tripulação  e  os  passageiros, e esturricando-se a imagem. Foi substituída às pressas e os boletins católicos, mentindo, afirmaram que a santa miraculosamente saiu ilesa de ser carbonizada.
Esteve no Egito proclamada rainha e cultuada pelos muçulmanos como a imagem da Fátima, a filha de Maomé, o fundador da seita.
Ainda outra imagem passeou pelas Américas, levando, como não poderia deixar de ser e para não se constituírem em exceção estas plagas, sacos abarrotados de dinheiro, inclusive do Brasil.
Enquanto os ídolos fatímicos de estatura avantajada peregrinavam além fronteira, o fatimismo espalhou à larga pequenos bonecos por serem mais facilmente transportados. Assentados sobre um cofre, visitam cada noite um lar a fim de que os seus moradores e amigos introduzam o fruto monetário de sua devoção. De manhã, regressam ao templo, despejam a colheita e, à noite, em procissão, buscam outra casa.
No Interior Brasileiro, incentivados pela padralhada, fazem os devotos a mesma coisa...
Numa dessas procissões, aliás muito incentivada pelo clero, lá pelo Minho, na estrada do Lindoso, desabou tamanho temporal que pôs os fiéis em fuga e a imagem no meio da lama. (70)
Outra procissão similar foi infelicitada por grave acidente. Ao passar sobre o Rio Alcabichel, em Maceira, desabou a ponte. Muitas pessoas ficaram gravemente contundidas, dentre as quais Da. Maria Beliza da Silva, de 51 anos, e Da. Maria Violante, de 60 anos. Muitas outras tomaram um banho inesperado em águas fluviais. E a imagem da Senhora, espatifada, foi fazer companhia aos cascalhos do fundo do rio. (71)
A igreja-matriz em Camarinha se ufanava de ter a mais bela estátua da Senhora de Fátima de toda a circunvizinhança. Apinhava-se a matriz para uma solenidade diante do altar coberto de flores e iluminado de velas. "Nisto, trazido por grande trovoada e ante o pasmo de todos, caiu um raio na capela, acompanhado pelo forte ribombar do trovão. A faísca, depois de abrir, numa das paredes da capela, enorme e profunda brecha, atingiu o altar da Senhora, incendiando-o, destruindo a santa imagem, ferindo ainda mais de trinta pessoas e matando uma jovem de 22 anos". (72)
Na igreja-matriz de Lebução, em 22 de Outubro de 1951, um incêndio reduziu a cinzas o altar da Senhora e carbonizou sua imagem. O comunicado do  jornal  "O Século" informa: "O povo, que tem grande devoção pela santa, ficou como que petrificado em volta da igreja, a gritar, sem atinar com o que havia de fazer, assim permanecendo largo tempo". (73)
O fatimismo liga-se estreitamente à papolatria. Já o papa Pio XI, em diversas circunstâncias, manifestara-se fatimista como reconhecimento de sua ajuda à manutenção dos exércitos fascistas quando rechaçavam os pobres pretos da Abissínia.
Pio XII tomara, desde o começo do seu pontificado, interesse pela Cova sobretudo demonstrado no seu jubileu em 1942 quando lhe dirigiu uma mensagem radiofônica e, em 13 de Maio de 1946, na oportunidade da coroação da imagem da Senhora, dirigindo aos devotos outra radiomensagem.
Seu particular interesse, todavia, se patenteou mais ainda ao inculcar de acordo com a Senhora de Fátima, a consagração cordimariana e ao incentivar os piegas a fim de que fossem depositar esmolas aos pés das suas imagens com a promessa de lhes indulgenciar as penas no purgatório.
Seu grande empenho implicara-o sobremodo, levando-o a sobressaltos ao presenciar os dardos certeiros que de todas as partes se lançavam contra o embuste: "As obras escritas até agora sobre Fátima carecem de espírito crítico e são mal documentadas", gritam uns, enquanto outros exigem a "publicação integral e imediata de todos os escritos da principal vidente, não faltando até quem denuncie a falsificação de documentos". O jesuíta Fonseca através da revista de sua ordem, a "Brotéria", por muito que se desespere, não consegue satisfazer a necessidade de esclarecimentos. Sua argumentação é insustentável!
Nesta altura dos acontecimentos o Fonseca já se encontrava sozinho. De há muito que se evaporara o Formigão, com a fama exposta à execração pública por se exceder com sua amiga Luiza Azambuja com quem, no intento de encobrir os reais motivos de sua intimidade, pretendeu organizar a congregação das servas da Senhora de Fátima. Nem lhe valera a dedicação literária pela Senhora Coveira! Foi, depois de repelido pelo cardeal Cerejeira e outros bispos e espoliado de suas insígnias canônicas do Cabido Metropolitano de Lisboa a que pertenceu, bater com os costados na Diocese de Bragança.
Arrepela-se o Fonseca por haver caído em tamanha esparrela! Nem consegue desfazer a veracidade da notícia de que uma comissão de jesuítas franceses presidida pelo pe. Eduardo Dhanis, professor da Faculdade de Teologia de Lovaina, organizada para estudar os acontecimentos de Fátima, chegara ao ponto de se pronunciar contra, por unanimidade de votos. No seu arrazoado de Brotéria, vê-se em palpos de aranha e não obtém deixar a santa livre de outros arranhões que também lhe dão dois outros teólogos alemães, os quais, após verificação objetiva e imparcial do caso, foram ao papa demonstrar-lhe que a história da Fátima era pura invenção. (74)
Nesta emergência crítica, quando o destacado e exclusivo   defensor da Cova, o Fonseca, desesperava-se com o desejo de rebater os dardos alvejados pelo bom senso contra a Senhora Fatímica, Pio XII fez culminar, correndo o risco do escárnio, a exteriorização do seu interesse pela geringonça, em Outubro de 1951, na gigantesca programação do ano santo de 1950, quando remeteu à Cova, como seu legado oficial, o cardeal Tedeschini.
Investido da dignidade de vigário do vigário de Cristo (?) - tudo nos recintos clericais é vigarice! - na presença de 800.000 peregrinos, no dia 13 de Outubro de 1951, na exaltação estúpida do "infalível" Pio XII, cognominando-o de "papa de Nossa Senhora de Fátima", revelou um acontecimento inaudito com o objetivo de autenticar o fabuloso milagre solar de Fátima.
Rodeado de todos os bispos portugueses - coleção grotesca de asnos! - relatou: "Tudo isto é grandioso, tudo digno da rainha dos céus, tudo maravilha jamais vista. Todavia, e só a título pessoal, direi aos meus novos e velhos amigos portugueses, e aos peregrinos a eles unidos, uma coisa ainda mais maravilhosa. Dir-vos-ei que outra pessoa viu este milagre; viu-o fora de Fátima; viu-o a anos de distância; viu-o em Roma. E foi o papa, o próprio pontífice, Pio XII. Constituiu um prêmio esta graça? Foi um sinal do divino e soberano agrado pela definição do dogma da assunção? * Foi um testemunho celeste a autenticar a conexão das maravilhas de Fátima com o centro, com o chefe da verdade e do magistério católicos? As três coisas, ao mesmo tempo! Eram as quatro horas da tarde dos dias 30 e 31 de Outubro e 1º de Novembro do ano passado, 1950. Era a mesma hora da oitava do 1º de Novembro - isto é: do dia da definição dogmática da assunção de Maria. Nos jardins do Vaticano, o santo padre volveu para o sol um olhar, e então renovou-se aos seus olhos o prodígio de que fora testemunha, anos antes, este mesmo vale, neste mesmo dia **. O disco solar, circundado por um halo, quem o pode fitar? Pode-o  ele, durante aqueles três dias; sob a mão de Maria, pode assistir á vinda do sol, agitado, convulso, palpitante de vida, a transmitir, num espetáculo de celestes movimentos, silenciosas mas eloqüentes mensagens ao vigário de Cristo. Não é isto Fátima transladada para o Vaticano? Não é isto o Vaticano transformado em Fátima?"... (75)
Toda a imprensa portuguesa encarregou-se de estampar em suas páginas essa revelação bombástica do cardeal Tedeschini.
O semanário lisboeta, "Vida Mundial" foi além. Em sua edição de 13 de Novembro de 1951, publicou uma gravura espetacular em que Pio XII, de braços abertos, estático e face voltada para o sol, contempla o inaudito prodígio.
Destoou desta festa de mentiras, a declaração do cardeal Gerlier, arcebispo de Lion e primaz das Gálias. Como ilustre peregrino em Fátima, surpreso ouvira as declarações do seu colega de colégio cardinalício, Tedeschini, e, ao regressar à França, porque não podia fazer sob a ditadura mariana de Salazar, manifestou-se contrário às balelas do purpurado italiano recusando-lhe crédito. (76)
Os devotos de Fátima e a hierarquia católica lusitana ficaram consternados com a replicado cardeal francês, que, por pouco, não deita abaixo todo o embuste longamente engendrado.
O jornalista Jean d'Hospital, carola e papa-hóstias de marca maior, se insurge contra a reputação do cardeal Gerlier. Na edição de 23 de Outubro de 1951 do jornal parisiense "Le Monde" pretende confirmar as declarações de Tedeschini: "O papa deu conhecimento de suas visões a muitos dos seus íntimos. Durante os passeios solitários que nos seus jardins realiza todas as tardes, teria visto por três vezes, o sol, já no seu declínio, transformar-se em disco de prata, girar como uma roda a grande velocidade e projetar em todas as direções, feixes de luz coloridos, fulgurantes. Repetição exata do fenômeno visual de Fátima!"
Gerlier como cardeal não sabia! E Jean d`Hospital, um jornalista, sabia! Engraçado!!!
O jornalista informa que "o papa deu conhecimento de suas visões a muitos dos seus íntimos". O jesuíta Fonseca, ao mencionar essa informação sensacional de Tedeschini, diz que a notícia "era até então conhecida só de poucos na intimidade do Vaticano". (77)
Contradizem-se os defensores de Tedeschini!
Passado, entretanto, o primeiro susto, o jornal do papa, o "Osservatore Romano", acorre em valia do cardeal boateiro e dos fanáticos fatímicos.
Informa o "Diário de Notícias", Lisboa, no seu exemplar de 18 de Novembro de 1951: -
"Vaticano, 17: O Osservatore Romano confirma hoje as revelações feitas no Santuário de Fátima pelo cardeal Tedeschini, legado pontificai, a respeito do prodígio a que o papa assistiu, o ano passado no jardins do Vaticano, prodígio análogo ao que se deu em 13 de Outubro de 1917, na Cova da Iria, perante os peregrinos. O jornal publica duas fotografias, tiradas em 1917, mostrando uma mancha negra no sol, provando o movimento de rotação deste e uma posição anormal do astro no céu, dada a hora. O jornal noticia que outro prodígio análogo se reproduziu aos olhos do papa nos dias 30 e 31 de Outubro e 1s de Novembro de 1951, e transcreve as palavras pronunciadas a este respeito por Tedeschini em Fátima".
A publicação dessa nota do jornal do papa levou-o ao ridículo entre as pessoas sensatas. O mais cômico, porém, foi a leviandade do "Osservatore Romano" divulgar em primeira página dessa mesma edição os dois clichês qualificando-os de "rigorosamente autênticos", em que se procurava ilustrar e confirmar a sarabanda executada pelo sol em 13 de Outubro de 1917 sobre os milhares devotos na Cova da Iria, e renovada em Outubro e Novembro de 1950 diante dos olhos infalíveis do sacripanta pontificai.
Azarou-se o jornal papalino! Diversos jornais ergueram-se em protesto e na defesa da seriedade que deve caracterizar a imprensa. Anunciaram esses órgãos da imprensa em contestação ao embuste do Vaticano que os clichês foram tirados de um desenho fantasia, feito por um amador gaiato que não presenciara à cena da Cova e que muito se divertira com o sucesso do seu blefe.
De Deus não se zomba! Não se deve tripudiar sobre a boa-fé do povo... Pobre povo enganado por esses vampiros de batina!
E no dia 9 de Novembro de 1951, menos de um mês depois do espalhafato  do  gagá  Tedeschini, manifestou-se a ira do céu: um raio caiu sobre a basílica de Fátima, danificando a torre e destruindo totalmente o púlpito construído propositadamente para as cerimônias do Ano Santo de 1950 e donde o Tedeschini proclamara a patranha das visões de Pio XII.
Ridicularizado pela imprensa responsável, o "Osservatore Romano" se retraiu alegando haver sido esbulhado em sua confiança. Os tempos são mudados e as falas dos vigaristas já não enganam a todos. Muita gente já não aceita tudo o que se diz. A era do "magister dixit" já foi ultrapassada!
E o jornal pontifício, que nem cheiro de responsabilidade tem quanto mais de infalibilidade! - aos 13 de Março de 1952, não se mostra tão seguro e, voltando ao assunto, tenta transferir a responsabilidade dos clichês a um alto funcionário português que lhe garantira a autenticidade, mas que na verdade havia lhe abusado da confiança.
Em vez de confirmada a notícia do milagre, caiu no extremo do escárnio. E com ela caiu no mesmo fosso o infalível vigarista, Pio XII enrolado no seu poroso "Osservatore Romano" e na púrpura do trôpego Tedeschini.
Ventos aziagos têm soprado a Fátima!
Nem bem os arranhões desse charivari se cicatrizaram e lá vêm informes sobre as aparições da Senhora ao menino Carlos Alberto, em Asseiceira, na freguesia de Rio Maior.
"A multidão comprime-se... Massa densa de povo, de lugarejos e vilas próximas e também de localidades de muitas dezenas de léguas em redor, onde a notícia chegou sem se saber como... Em redor do local das "Aparições", surgiu um verdadeiro mar de gente... "(78).
Alarma-se o cardeal Cerejeira. Será perigosa a rival da Fátima?
Por via das dúvidas e melhor é prevenir do que remediar, lança aos 7 de Agosto de 1954, uma nota oficial proibindo a participação do clero nessa "superstição perigosa" e recomenda aos fiéis que lá não cheguem.
Mas, o povo não lhe ouviu a orientação. E "sua eminência", apavorado, com o crescimento da multidão em torno da Senhora da Asseiceira, vale-se da polícia salazarista que invade o local, espanca os devotos e arrasa com os objetos sacros. Se não é respeitada a sua nota oficial, então que se respeite o cassetete dos milicianos a serviço do cerejeirismo...
O vidente Carlos Alberto foi transportado para o Dispensário de Higiene e Profilaxia Mental de Lisboa. Em vista dos exames não positivarem as suspeitas de anomalias psíquicas, para maior tranqüilidade do purpurado fatímico, o pastorzinho foi hospitalizado. E desapareceu... E com ele a santa aparecida... Salva a Fátima de outra enrascadela...
Durante o reinado do papa João XXIII a Senhora Coveira ficou marginalizada nas considerações do Vaticano. Apesar de caduco, o velho Roncali nem quis que lhe falassem dela.
Paulo VI, cujo pontificado se caracteriza pela dubiedade de atitudes na pretensa política de boa vizinhança com todos e de contentar todas as áreas dos seus sabujos, na ocasião do cincoentenário das aparições (13 de Maio de 1967), escorado pelas armas militares portuguesas e movido pelo dinheiro dos cofres públicos, já que fora anteriormente esborrifar água benta na vaca sagrada da índia, visitou a Cova e suplicou à Senhora paz para o mundo.
Como sempre a Senhora misericordiosa também desta vez lhe fechou os ouvidos, deixando-o desapontado. E que melhor castigo para o infalível senão o desapontamento?
São tantas as consagrações e rezas que lhe fazem... E nada de paz! Certamente para desmoralização de "sua santidade", o responsável pelas eqüidades praticadas na terra, conforme se depreende na segunda parte do "segredo".
A visita de Paulo VI à Fátima, além de sacramentar outra vez a ditadura cerejeirista de Salazar, que conserva o País como o mais retrógrado da Europa, se tornou, como aliás não poderia deixar de ser, em penhor de um castigo, uma tromba d'água, que somente em Lisboa matou mais de 400 pessoas em menos de uma hora. (79)
Eis o que é Fátima!
Um outro conto do vigário! Mas que tem custado a espoliação de um povo, a escravidão de um País... Mas que tem iludido milhões de pessoas muitas das quais se julgam inteligentes. Mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível e, por isso, "dizendo-se sábios, tornaram-se loucos" (Rom. 1:22, 23).

* * *



Referências Bibliográficas

1 - Afonso Lopes Vieira - in "Novidades" de 13 de Maio de 1929.
2 - pe. Luis Gonzaga Ayres Fonseca, s. j. - "Nossa Senhora de Fátima" - Editora "Vozes" Ltda. - Petrópolis - Brasil – 5ª edição -p.20.
3 - Leopoldo Nunes - "Fátima" - p.17.
4 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - p. 112
5 - Idem - obra cit. - p. 112
6 - Missão Abreviada - p. 74
7 - Visconde de Montelo - "As Grandes Maravilhas de Fátima" - p. 71
8 - Frei Rolim - "Francisco - Florinhas de Fátima" - p.176
9 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - p.22
10 - Idem -obra cit. -p.22
11 - Idem - obra cit. - p. 77
12 - Estes diálogos se encontram em "Nossa Senhora de Fátima", do pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - páginas 24-27.
13 - Fátima em 65 vistas - Álbum do Santuário, com autorização eclesiástica, 1936.
14 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - p. 28
15 - Este diálogo também se encontra na obra do pe.Luis Gonzaga A. Fonseca - p. 28
16- Idem -obra cit. - p.29
17 - Idem -  obra cit. - p.29
18 - Idem -obra cit. - p.32
19 - Idem - obra cit. - p.38
20 - Idem - obra cit. - p.40
21 - Idem - obra cit. - p.40
22 - pe. Castro del Rio - "Aparições da Santíssima Virgem" - p.47
23 - Relatório de Artur de Oliveira Santos, Administrador do Conselho de Ourem.
24 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - páginas 91-92.
25 - Frei Rolim - obra cit. - p.170.
26 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - 3â edição - páginas 59-61.
27 - Idem - obra cit. – 5ª edição - p.83
28 - Idem - obra cit. - p.84
29 - Idem - obra cit. - p.42
30 - Visconde de Montelo - "Grandes Maravilhas de Fátima" - p. 101
31 - Idem - obra cit. - p.102
32 - Idem - obra cit. - p.105
33 - Idem - obra cit. -p.108
34 - Idem - obra cit. - p.109
35 - Idem - obra cit. -p.112
36 - Idem -  obra cit. -p.121
37 - pe. Castro dei Rio - obra cit. - p.46
38 - Santuário de Fátima - "Jacinta" - p.84
39 - pe. Castro dei Rio - obra cit. - p.47
40 - Santuário de Fátima - "Jacinta" - páginas 82 e 83
41 - Idem - obra cit. - p.150
42 - Idem - obra cit. -p.139
43 - pe. Luis Gonzaga A. Fonsca - obra cit. - p.161
44 - Santuário de Fátima - obra cit. - p.140
45 - Salesianus - "Os videntes de Fátima" - p.155
46 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - p.126
47 - Salesianus - obra cit. - p.79
48 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. páginas 127 a 128
49 - Idem - obra cit. - p.127
50 - idem - obra cit. - p.163
51 - idem - obra cit. - p.131
52- Idem - obra cit. -p.133
53 - Salesianus - obra cit. - p.25
54 - pe. Luís Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - p.139
55 - Visconde de Montelo - "Episódios Maravilhosos de Fátima" - p.45
56 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - p.159
57 - Visconde de Montelo - "As grandes Maravilhas de Fátima" - p.45
58 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - p.177
59 - pe. Luis Fischer - "Fátima, Lourdes Portuguesa" - p.19
60 - Jornal católico: "O Distrito de Portalegre", de 2 de Janeiro de 1954.
61 - Revista católica: "Brotéria", Maio, 1951 - p.599
- O jornal "Estado de S. Paulo" de 25 e 27 de Fevereiro de 1968
63 - pe. Luis Fischer - obra cit. - p.62
64 - Idem - obra cit. - p.62
65 - Em "Brotéria", Maio, 1942 - p.554
66 - O jornal: "O Século", Lisboa, 9 de Julho de 1947
67 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - obra cit. - p.45
68 - Idem - obra cit. - p.45
69 - Idem - obra cit. - 46
70 - "Jornal de Notícias" - Porto -18 de Maio de 1949
71 - "Diário de Notícias", Lisboa -15 de Agosto de 1955
72 - "Jornal de Notícias", Porto - 8 de Setembro de 1949
73 - "O Século" - 23 de Outubro de 1951
74 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - em "Brotéria", Maio, 1951, páginas 505-507
75 - Transcrito do "Diário de Lisboa" -14 de Outubro de 1951
76 - "La Croix", Paris -18 de Outubro de 1951
77 - pe. Luis Gonzaga A. Fonseca - "Nossa Senhora de Fátima", 5§ edição - p.300
78 - "Diário Popular", Lisboa -18 de Julho de 1954
79 - "Fatos e Fotos", Brasília - 9 de Dezembro de 1967



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** Nem podia ser diferente: Transformara-se como autômata naquele embuste.
* Em nossa moeda atual corresponde a dois milhões e quinhentos mil cruzeiros novos.
** Três milhões e quinhentos mil cruzeiros novos.
* Sobre este assunto da vinculação do Vaticano com o movimento totalitário do segundo quartel deste século, é útil a leitura do capítulo. "Manhas e Artimanhas do Catolicismo Romano", em meu livro: UM PADRE LIBERTO DA ESCRAVIDÃO DO PAPA.
* Trezentos mil cruzeiros novos em nossa moeda.
* Ocorrido em 1º de Novembro de 1950.
** Referia-se a 13 de Outubro de 1917.

22 comentários:

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