VEJA O GOLPE APLICADO PELOS
RELIGIOSOS NEOS PROTESTANTES VULGOS EVANGELICOS DE HOJE JA ERAM APLICADO POR BILLY
GRANHAM DESDE 1966
Billy Graham, em 1966, o método
empresarial de Silas Malafaia, hoje, e a melhor caricatura de todos eles: Steve
Martin, como Reverendo Jonas Nightengale, em “Leap of Faith” (“Fé demais não
cheira bem”, 1992)
Hoje, o frágil pastor e missionário
Billy Graham, com 92 anos e abatido por meia dúzia de doenças, nem de longe
lembra o homem que visitou a França, em 1954, nas suas históricas cruzadas de
evangelização, promovidas mundo afora. Ágil, ativo, incisivo, Graham promoveu
um culto de evangelização no Vel’ d’Hiv, o Vélodrome d’Hiver, onde,
sintomaticamente, na década anterior, viu-se um dos episódios antissemitas mais
perturbadores que o povo francês já tinha presenciado em seu território, com a
prisão de centenas de judeus para envio a Auschwitz, durante a 2ª Guerra
Mundial.
O culto no Vel’ d’Hiv tinha um claro
interesse: tirar o povo francês de seu suposto ateísmo e racionalidade. Para
Graham, tratava-se de um choque entre o novo e o velho mundo, entre a salvação
e a perdição das almas. “Vimos Deus fazer grandes coisas na América; um
despertar de Paris teria uma influência imensa sobre o mundo inteiro”, disse
Graham, na ocasião. Junto dos milhares de espectadores, ansiosos por conhecer o
já mundialmente afamado pastor americano, eis que estava Roland Barthes, um dos
mais notáveis intelectuais franceses do século 20, herdeiro do estruturalismo e
pai da semiologia europeia moderna. Sabe-se disso por meio de um despretensioso
texto, reunido em “Mitologias”, livro que abriu as portas da sisuda
universidade francesa para o banal do cotidiano. Nesse livro, Barthes analisa
os típicos fenômenos burgueses da sociedade industrial no pós-Guerra. O cinema,
a literatura, a fotografia, o horóscopo, o jornalismo feminino, as revistas de
receitas, a infância e os brinquedos: nada escapou ao olhar astuto de Barthes.
Nem Billy Graham.
“Se Deus fala realmente pela boca do
Dr. Graham, temos de reconhecer que Deus é surpreendentemente tolo: a Mensagem
espanta pela sua chateza, pelo seu infantilismo. Em todo o caso, certamente,
Deus abandonou o tomismo, e demonstra nítida aversão pela lógica: a Mensagem é
constituída por uma infinidade de afirmações descontínuas lançadas
ininterruptamente, sem nenhuma espécie de relação entre elas, e cujo conteúdo é
apenas tautológico (Deus é Deus)”. [BARTHES, R. “Billy Graham no Vel’ d’Hiv”
in: Mitologias]
Não se deve desprezar Billy Graham.
Ele é o avô do protestantismo contemporâneo. O método, o discurso, as relações
políticas na democracia, os escândalos – apenas um a se lembrar, talvez o mais
importante, seja o episódio do grampo no caso Nixon, quando ele afirmou ao
então presidente que deveria se preocupar com o “controle dos judeus sobre a
mídia norte-americana”. Esse episódio veio à tona apenas agora, 30 anos depois,
e forçou Graham a se retratar com a comunidade judaica, em 2002. Sem Billy
Graham não haveria Malafaia. Nem R.R. Soares. Nem Macedo. Nem Hernandes. Todos
estes são subprodutos de um modus operandi criado pelo velho pastor. O
missionário R.R. Soares, fundador e pilar da Igreja Internacional da Graça de
Deus, aliás, já declarou que Graham “é de um servo do Senhor que procura fazer
a obra de Deus da maneira mais intensa que pode” e que “seria ótimo se todos
nós seguíssemos seu exemplo, principalmente no que se refere à paixão pelas
almas perdidas”.Malafaia, em seu programa de TV, afirmou que o legado de Billy
Graham representa, hoje, o “maior projeto evangelístico do mundo”. Recente
evento do Ministério Billy Graham foi transmitido pela TV Bandeirantes pelas
mãos e influência de Silas Malafaia.
A principal herança de Billy Graham
para os evangélicos contemporâneos é a tão propalada “espetacularização” dos
cultos. Deixaram de obedecer à liturgia histórica e se assemelham, cada vez
mais, a um show onde se espera a aparição de um pop-star: Deus. Não vindo o
Chefe, vêm seus emissários e contenta-se com eles. O uso dos meios de
comunicação e eventos de massa – estima-se que a audiência dos projetos de
Graham tenha alcançado bilhões de telespectadores e suas cruzadas chegaram,
segundo dados oficiais, a mais de duas centenas de cidades ao redor do mundo, nos
mais diversos países – são um registro do método de evangelização criado por
ele, além da notável frase “dê um passo a frente para aceitar Jesus Cristo como
seu salvador”, verdadeira fast-salvation, mágica e mística, embalada por
música, geralmente em tons maiores, mais eficientes a embalar o êxtase e a
sensibilização emocional.
Setenta anos depois das primeiras
cruzadas evangelísticas e dos megacultos, o estilo Graham só fez aumentar, seja
nos Estados Unidos ou nos países cuja referência evangélica tem suas raízes
ali, como o Brasil. Setenta anos depois, qualquer culto nas grandes igrejas
contemporâneas, qualquer evento por elas promovido, qualquer planilha
orçamentária, faz corar de inveja até mesmo Rowan Williams, o arcebispo de
Canterbury, tão insignificante torna o poder econômico da rica Igreja
Anglicana. A coroa, o cetro e o Orbi et Urbi da Rainha Elizabeth II são
ridículos aneis de doce frente ao poder econômico das novas igrejas evangélica
É preciso ser justo. Malafaia,
Soares, Macedo e Hernandes são notáveis inventores de uma nova categoria
empresarial. Vê-los assim, como empresários, poupa-nos de sacrifícios
desnecessários porque é nisso que se transformaram as manifestações da fé:
negócios. Em nada diferem seus discursos públicos daqueles dos CEOs das grandes
empresas. A religião é apenas um argumento. A lógica empresarial toma conta dos
cultos: como Pratos Feitos para a fome do espírito, cada dia revela ao crente
sua utilidade: a segunda-feira é o dia das finanças e dos negócios, a terça, da
família; a quarta, dos solteiros; a quinta, da
promessa e a sexta-feira, como numa
arraigada relação com o misticismo dos terreiros, é o dia da libertação dos
encostos, dos demônios. Não há erro no Prêt-à-croieint
É preciso ser justo. Malafaia,
Soares, Macedo e Hernandes
são notáveis inventores de uma
nova categoria empresarial.
Não há enganados nessa relação
comercial, ao contrário do que somos levados – por uma ética da piedade – a
acreditar. Tanto quanto não existe engano num livro de auto-ajuda ou no “branco
mais branco” do sabão em pó. O fiel compra aquilo que deseja e, a bem da
verdade, ele não faz muita questão do recebimento, até porque sua existência se
alimenta da angústia e é bom que ela não passe. No máximo, que seja substituída
por outra. A religião não é o ópio do povo. É seu Prozac.
Como empresários, os neo-pastores,
hedeiros da tradição evangelística de Billy Graham, são a evidência mais
gritante do seu poder de autodestruição, porque chegará um momento em que seus
negócios se tornarão economicamente inviáveis. Há 100 anos, um culto precisava
apenas de um mais ou menos competente organista, um hinário e o salário mensal
de um abnegado pastor, que pudesse alimentar sua família, pagar os estudos de
seus filhos e dar-lhe um terno novo quando o puído paletó não tivesse mais
condições de frequentar o serviço religioso de domingo. Hoje, sem as emissoras
de TV, sem os grandes eventos produzidos para milhares de fiéis, sem as grandes
estruturas de recursos humanos, sem o suporte de profissionais de propaganda,
marketing e divulgação digital, sem a comunicação massiva, o espetáculo se
reduz a algo a que ninguém está disposto a pagar. Isso custa caro. E quem paga
a conta parece não se incomodar.
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