WASHINGTON e TEERÃ - Um dia após vetar a visita de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a uma instalação militar e alardear manobras militares, o governo do Irã fez mais uma aposta alta - em um tom belicoso crescente. O vice-comandante das Forças Armadas, general Mohammad Hejazi, ameaçou lançar um ataque preventivo contra os inimigos caso a república islâmica veja ameaçados seus interesses nacionais.
- Não vamos mais esperar que nossos inimigos ajam contra nós - declarou Hejazi à agência semiestatal Fars. - Nossa estratégia agora é usar todo os meios para proteger nossos interesses nacionais.Segundo analistas, as divisões internas no alto escalão da política iraniana tornam difícil dar às declarações uma dimensão exata. O conteúdo belicoso, porém, apontaria para uma nova estratégia, mais agressiva, adotada por Teerã. Talvez parte de uma estratégia do governo de Mahmoud Ahmadinejad para atrair votos na próxima eleição parlamentar, marcada para o próximo dia 2.
- Não há dúvidas de que a política interna está impactando a externa neste momento - avalia Reza Marashi, pesquisador do Conselho Nacional Iraniano-Americano, radicado em Washington. - O governo Ahmadinejad precisa demonstrar força e mostrar alguma autoridade a um público que já sente o peso das sanções, da inflação e da crise econômica.
EUA contemporizam e defendem diplomacia
Na contramão das declarações de Teerã, em Washington, o governo americano preferiu apostar num discurso mais ameno e ressaltar as chances de um acordo diplomático sobre o controverso programa nuclear persa.
- Existe tempo e espaço para que uma solução diplomática funcione, para que os efeitos das sanções resultem em uma mudança no comportamento iraniano - declarou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Mas, as demonstrações de força e autossuficiência de Teerã não se limitaram ao âmbito militar. Um dia depois de ameaçar estender o corte de exportações de petróleo a outros países europeus, além de França e Reino Unido, o porta-voz do governo iraniano, Ramin Mehmanparast, anunciou novas condições para vendas futuras do produto para os integrantes da União Europeia. Segundo ele, o Irã busca garantias de pagamento, contratos de longo prazo e uma proibição a cancelamentos unilaterais de contratos por compradores. Mehmanparast destacou que todos esses fatores terão de ser considerados se a Europa quiser continuar as relações comerciais e de petróleo. Os novos termos teriam sido detalhados, alega, em um encontro com embaixadores de seis países europeus.
Mehmanparast também destacou que a cooperação com a AIEA continua ocorrendo da melhor maneira possível. Questionado sobre o veto a inspetores no complexo militar de Pachin, ele alegou que o propósito da visita de dois dias terminada ontem não era a realização de inspeções.
A postura ambígua veio à tona também nas palavras do embaixador iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltaniyeh. Ao encerrar o encontro com os cinco enviados da agência atômica da ONU em Teerã, ele destacou a cooperação mútua e declarou:
- As negociações virão no futuro.
O otimismo aparente emergiu também do chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi. Segundo ele, a retomada das negociações com o chamado P5+1 - formado pelas cinco potências com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha - pode ocorrer ainda esta semana, na Turquia.
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