Pedro liderou cristãos mas nunca foi papa, dizem historiadores

Pescador impetuoso - Para o padre e historiador americano John P. Meier, professor da Universidade Notre Dame e autor da monumental série "Um Judeu Marginal" (ainda não concluída) sobre a figura histórica de Jesus, o Novo Testamento traz informações importantes e confiáveis sobre Pedro. Inicialmente, ele era um pescador da Galiléia, casado, e aderiu aos discípulos junto com seu irmão André. O nome de seu pai era João ou Jonas, e seu nome original era Simão. Jesus lhe deu o apelido aramaico de Kepa (ou Kephas, conforme Paulo), "a pedra" ou "a rocha", depois traduzido como Petros, ou Pedro, em grego. Todos os evangelistas o apresentam como um dos principais apóstolos ou como o porta-voz deles, e também o retratam como generoso, extremamente apegado a Jesus, cabeça-dura (talvez uma relação irônica com seu apelido), indeciso e dado a súbitas mudanças de opinião.
Em suas cartas, Paulo relata um relacionamento tempestuoso com Pedro. Ao se converter à fé em Jesus, Paulo passou alguns anos sozinho até ir a Jerusalém e falar com Pedro e outros apóstolos. Depois, explicou a eles que os pagãos também poderiam ser convertidos, mas entrou em conflito com Pedro, chamando-o de hipócrita. É que Pedro foi visitar a comunidade cristã de Antioquia, na Síria, e inicialmente fazia suas refeições com os crentes gentios (não-judeus), coisa proibida pela lei judaica. No entanto, quando outros judeus cristãos apareceram na cidade, ele parou de fazê-lo, o que provocou a reprimenda de Paulo.
As chaves do Reino - Há indícios de que, antes de ir a Roma, Pedro passou por Antioquia e por Corinto, na Grécia. No entanto, o momento definidor de sua vida foi ainda durante a vida de Jesus. Segundo o Evangelho de Mateus, Pedro deu mostras da fé em seu mestre ao declarar: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Jesus então respondeu: "Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Darei a ti as chaves do Reino dos Céus". Essa é a inspiração para a representação católica de Pedro, sempre com chaves reais nas mãos, como na estátua que existe no Vaticano e que ilustra o título desta matéria. É óbvio que as "chaves" são um símbolo e não chaves literais. E sobre a “pedra fundamental” que Jesus aludiu, e o próprio Pedro confirma em sua primeira epístola (no cap. 2), é o próprio Jesus Cristo, e não o impetuoso apóstolo. O assunto das chaves e do “ligar e desligar” é bastante extenso; retornaremos a isto em breve, num artigo específico sobre o tema.
John P. Meier afirma que a "profissão de fé" de Pedro é um fato histórico, por estar registrada nas diversas fontes usadas pelos evangelistas para compor suas narrativas. Também não duvida do papel de liderança de Pedro na Igreja primitiva. Mais importante para a questão do "papado" de Pedro, escreve Eamon Duffy, é o fato de que Roma aparentemente não tinha um bispo único até por volta do ano 150, ou seja, quase um século após a morte do apóstolo. É bom lembrar que originalmente o papa, que era o bispo de Roma, recebia especial atenção de seus pares por governar a comunidade cristã onde se crê que haviam sido martirizados Pedro e Paulo. No entanto, vários documentos do começo do século 2, escritos para a comunidade de Roma e por membros dela, em nenhum momento fazem menção a um bispo, mas apenas aos "anciãos da igreja" ou "dirigentes da igreja". Para Duffy, a explicação mais provável é que a unificação do comando da igreja romana nas mãos de um só bispo veio mais tarde, por causa de uma série de pressões externas e internas, entre elas o surgimento de heresias que contrariavam os ensinamentos cristãos
originais. Como forma de defesa, as igrejas teriam instituído a "monarquia" dos bispos.

Crucificado de cabeça para baixo? – A tradição conta que, ao ser condenado à morte por crucificação, Pedro teria dito aos soldados que era indigno de morrer como seu mestre, e que portanto devia ser crucificado de cabeça para baixo, sendo atendido pelos verdugos. Isto é uma impossibilidade física, pois é impraticável que um corpo humano permaneça pendurado pelos pés pregados na madeira. Mas a suposta evidência que deu origem a mais este mito romanista está sobre um esqueleto guardado a sete chaves nos porões do Vaticano, de um homem do primeiro século, encontrado nas proximidades, sem os pés. Isto provaria, dizem, que após a morte do apóstolo, os soldados cortaram-lhe os pés para mais facilmente o desprenderem da cruz... Interessante é que os mesmos que se dispõem a dissecar a Bíblia em busca de inconsistências e assim depreciarem o seu valor como regra de fé e prática para o verdadeiro cristão, raramente se debruçam seriamente sobre essas lendas para nelas tentar encontrar pelo menos um pingo de verdade.
Teremos que aguardar historiadores sérios como este Duffy e este Meier surgirem, de tempos em tempos, para confirmar o que a Bíblia diz e descartar o que a “tradição” sem base tagarela?
Fonte: Reinaldo José Lopes, portal G1, (http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL617791-9982,00-SAO+PEDRO+LIDEROU+CRISTAOS+ROMANOS+MAS+NUNCA+FOI+PAPA+DIZEM+HISTORIADORES.html)
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